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Raul Pires raul.pires@entroncamentoonline.pt

Os comportamentos que observamos, nem sempre são o que parecem ser. Temos necessidades de fazer observações; de descrever esta ou aquela observação, porque sentida. Mas, mesmo quando cuidada e metódica, a observação pode induzir-nos em erro.

Quantas vezes observamos só aquilo que desejamos ver!?  Sendo aquele que observa um ser finito e limitado, necessariamente, serão inacabadas as suas observações. Como seres finitos que somos, como podemos observar tudo o que pode ser observável? Quantas vezes nos encontramos sujeitos a uma situação emocional que nos impede de observarmos tudo o que está acontecendo. Podemos observar o “fácies” angustiado da pessoa com quem falamos, reparar nos movimentos e gestos relacionados com a situação, sentir a respiração ofegante. Mas, a sequência e a intensidade destas alterações, que aparecem e se sucedem, não são fáceis de detectar; de observar. O comportamento é de análise complexa e exige uma observação atenta. Por detrás do comunicado que se revela, quem detecta as emoções que nos invadem? Quem se apercebe de certas reacções fisiológicas, tais como: pressão arterial, sensação de constrição torácica, teor de adrenalina no sangue e diversas secreções, como o suor, a salivação que, normalmente, acompanham os estados emocionais?

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Mas, os factores que se relacionam com o comportamento, complicando a sua análise, não se ficam por aqui. Todo o comportamento é função da situação envolvente e do indivíduo, que reage, de acordo com a sua personalidade, isto é, a situação e a personalidade interagem, gerando o respectivo comportamento. Demais a mais, todo o comportamento humano pode ser influenciado, quer por variáveis da situação, quer por variáveis do indivíduo que age. Assim, o comportamento, que se observa, é realizado em grupo, em competição, sob o olhar dos outros ou isolado? Por outro lado, o indivíduo, que se comporta de certa maneira, pode estar sóbrio, fatigado, sonolento, sob a perturbação de exigências orgânicas; sob a influência ou não de drogas e outros problemas que possam interferir no comportamento.

Quantas vezes prestamos atenção só àquilo que nos interessa e que, intuitivamente, se manifesta? Quer queiramos quer não, é natural observarmos não só formas de comportamentos, assim como tudo o que nos rodeia, valorizando, apenas, de acordo com um questionável espírito crítico. Porém, é sensato duvidarmos das nossas próprias observações, desconfiando delas, por reconhecermos o que nelas há de limitado. Não poucas vezes, tomamos o acessório pelo essencial. No entanto, este cuidado, sinal de inteligência, não invalida o mérito que há numa justa, cuidada e metódica observação.

Além destas variáveis, há outras que dizem respeito à personalidade daquele que age, como a inteligência, a memória, a vontade e o grau de cultura, que podem determinar o comportamento mais ingénuo. A complexidade é grande, mas basta termos consciência dela para que as relações humanas sejam mais justas; mais humanas.

Quantos conflitos se evitariam se fossemos cuidadosos nas observações que fazemos?

 Feliz Natal e próspero Ano Novo.

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