Nunca imaginei que chegaria o dia em que escrever estas palavras seria tão difícil. Nestes últimos dias, uma mistura de emoções tem-me acompanhado, tão intensas que nem aos mais próximos consegui partilhar o que sinto.
Após 43 anos, preparo-me para deixar a cidade que sempre chamei de minha. A cidade que me acolheu, que me viu crescer e que, em muitos sentidos, moldou a pessoa que sou hoje. Os amores e os desamores, as amizades, os convívios, os ganhos e as perdas, tudo tudo tudo. Tudo levo no coração.
Hoje, sinto que um enorme ciclo se encerra. Assinei a escritura e, nos próximos dias, a mudança será uma realidade. Samora Correia espera por mim.
Saio daqui com um misto de orgulho e saudade, com a certeza de que dei o melhor de mim a esta cidade que tanto amo. Sinto que, de alguma forma, deixo uma marca positiva, fruto de anos de dedicação e empenho. A minha entrada na política foi um desafio que, com coragem e determinação, consegui superar. As ideias que defendi, juntamente com as equipas a que pertenci, eram grandes ideias, e algumas delas são hoje parte integrante da realidade desta cidade.
Há um orgulho profundo nas tantas conquistas alcançadas. Por vezes, outros reclamam o crédito, mas a verdade é que fizemos tanto: videovigilância, introdução de DAE, recuperação dos bairros ferroviários e arrendamento controlado, nova esquadra, devolução do centro cultural à cultura, reabilitação do cine-teatro de S. João, parques infantis inclusivos, o vale escolar para toda a comunidade… e tantas outras iniciativas que visaram melhorar a qualidade de vida de todos.
Apesar desta mudança, não abandono por completo a política local. Tentarei levar o meu mandato até ao fim, com a certeza de que o futuro do CDS do Entroncamento está em boas mãos, com uma equipa preparada para enfrentar os novos desafios. E mesmo à distância, estarei disponível para ajudar no que for preciso.
Mas não há como negar… Há coisas de que vou sentir muita falta. O café de sábado de manhã, a visita à praça, os passeios pela cidade onde cada esquina guarda uma memória, os encontros casuais com amigos, as lojas onde sempre fui bem-vindo, as conversas de ocasião, os cafés nas esplanadas… São essas pequenas coisas que tornam esta despedida tão difícil.
Deixo aqui muitos amigos, alguns dos quais talvez tenha dado por garantidos, mas que sempre fizeram parte do meu caminho. Os hábitos que criámos juntos, as conversas partilhadas, tudo isso vai deixar uma saudade imensa. É duro aceitar esta mudança, especialmente sabendo que deixo para trás a minha mãe, a minha avó e o meu irmão. Digo a mim mesmo que nada mudará, mas sei que não é verdade. A distância custa, e custa muito.
Contudo, a vida tem o seu caminho, e o meu trabalho, a minha família e a minha fé chamam por mim. Curioso como tantas vezes disse que jamais me adaptaria a um escritório em Lisboa. Que isso não era para mim. E agora? Aqui estou eu, a caminho de Lisboa e num escritório. Sempre afirmei que nunca deixaria a minha cidade… e, no entanto, chegou a hora de partir.
Deixar a zona de conforto não é fácil, mas é nos desafios que nos tornamos mais fortes e crescemos. É assim que escolho encarar esta mudança, com esperança e coragem.
Esta crónica tornou-se mais longa do que planeava, mas há tanto a dizer. Quero agradecer, de coração, a todos os que fizeram parte destes 43 anos, a todos os que contribuíram para quem eu sou hoje. Família, amigos, professores, conhecidos, todos!
Aproveito para dizer a todos: Continuem a lutar pelo Entroncamento, para que ele nunca perca a sua essência.
Vivam a cidade, usufruam dos espaços que ela oferece, e mantenham viva a qualidade que a define. Eu voltarei, sempre que puder, e quem sabe um dia regresso de vez. Mas, por agora, deixo esta responsabilidade nas vossas mãos. Façam do Entroncamento a bela cidade que sempre foi.
Entroncamento, obrigado.