O Entroncamento ainda está de “ressaca” das festas da cidade. Mais de uma semana de festividades, centenas de voluntários nas tasquinhas a tentar reforçar os orçamentos das suas associações e coletividades, trabalhadores (fundamentais) da autarquia que, silenciosa mas efetivamente, limparam tudo para que o novo dia fosse de fruição para os cidadãos e cidadãs.
Eu não sou entroncamentense mas tenho o Entroncamento como um dos companheiros de viagem há mais de 30 anos. E desde que o Entroncamento entrou na mochila da minha vida, até hoje, as diferenças são abismais.
As festividades de qualquer cidade tornam-se num ponto de encontro para todas as camadas sociais. Enquanto, no dia a dia, a movida da cidade dispersa as pessoas nas suas funções, encaixa-as nos seus papéis, nas festas a sociedade sai à rua para se mostrar.
As comunidades juntam-se para se sentirem confortáveis num espaço que lhes é estranho. Aconteceu e acontece com os portugueses, por esse mundo fora. Observar, por exemplo, árabes, que são pessoas bastante respeitosas do lugar que as acolhe, juntarem-se para sentir conforto, conforta-me.
Isto é válido para todos e todas que escolheram o concelho para viver. Percorri o “recinto” das festas e, como curioso inveterado que sou, ouvi atentamente as conversas e observei os comportamentos. Vi muita gente de há 30 anos. E vi, principalmente, muita gente nova, de outras culturas, de outros pontos do hemisfério.
Presenciei uma “invasão”. Homens e mulheres que são já entroncamentenses mas que parte dos “nativos” se recusa, resiste, a aceitar. Questionei as forças de segurança sobre problemas na cidade. Nada de relevante a assinalar. A certa altura havia painéis da autarquia que versavam sobre o novo terminal industrial, gráficos sociológicos e ambições. Pura publicidade política. Nada contra, pelo contrário.
O Município tem tido desafios muito grandes com a chegada de africanos, asiáticos, sul americanos e muitos outros.
Mas será uma extensão, não uma invasão. É uma extensão que, melhor ou pior, tem sido gerida pela autarquia, com o desafios que são inerentes às mudanças e que merecem crítica e reflexão.
Precisamos de mundo. Do desconforto e reconforto de outras culturas. Precisamos de sair de nós próprios e ganhar perspetiva.
Apesar das casas compradas, que tantas vezes nos prendem aos locais, é preciso mundo. Não ficar reféns dessa prisão, dessa raiz necessária mas que não nos deve agrilhoar. De outra forma a vida é acordar e pouco mais que uma luta de quintais, que só nos diminui.
Vamos trabalhar nisto. Vamos ter mundo. Acordar e olhar a cidade como ela é: plural, colorida, vistosa e tão mundana, quanto atraente.