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João Fanha Vieira joao.vieira@entroncamentoonline.pt

Esperei durante algum tempo até escrever este artigo de opinião, pois senti que só o tempo diria quais as opções e as movimentações dos partidos após as últimas eleições autárquicas..

Agora penso que já o poderei fazer de forma mais fundamentada.

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Assim, após as referidas eleições, o panorama político mudou claramente: os eleitores passaram a dar a maioria política à oposição, fazendo com que o PS atravessasse momentos difíceis, após uma semi-vitória com apenas 62(!) votos de avanço para o PSD que, embora semi-derrotado teria lógicas pretensões para ter o devido protagonismo neste mandato.

O PS apresentou-se com o presidente Jorge Faria e uma vereadora a tempo inteiro, Ilda Vitorino, seguidos de um outro vereador, Carlos Amaro, que estaria dependente da oposição para passar, também ele, a vereador a tempo inteiro.

Tudo estaria a correr bem para o PSD: o vereador Carlos Amaro, dependente da oposição, não seria votado favoravelmente, passando Jorge Faria a contar apenas com Ilda Vitorino como vice-presidente.

A semi-derrota do PSD estava quase a transformar-se numa vitória e Jorge Faria estaria, nessa altura, a ver a vida a andar para trás…

Mas, e no meio de tudo isto surge… o Chega!

Um partido que poderia fazer a diferença e, de uma forma lógica, seria sempre de pensar que seguiria as ordens máximas do seu líder, pois, dias antes das eleições autárquicas, tinha anunciado que iria rejeitar viabilizar qualquer executivo comunista ou socialista nos municípios onde elegeu vereadores.

André Ventura referiu, ainda, que “aqueles que, em nome do Chega, viabilizarem qualquer solução socialista em alguma câmara do país, estão a violar gravemente as regras do Chega e o espírito daqueles que neles votaram nestas eleições”.

Mas ainda disse mais: “Sim, estaremos disponíveis para coligações quando isso for para afastar o PS do poder, não, não estaremos disponíveis para vender o nosso ADN e a nossa identidade, por isso é que vamos sozinhos ao país todo. “

No entanto, estas palavras diretas e duras não chegaram ao Entroncamento pois, desrespeitando nitidamente as indicações de André Ventura, o recém-eleito do Chega, rapidamente mostrou com quem estava e, de forma surpreendente, estava com o PS!

Esta alteração estratégica surpreendente apanhou nitidamente o PSD “na curva”!

O vereador do Chega ao abster-se na votação para a proposta de fixação de um vereador a tempo inteiro, (o PSD votou contra) deixou que o presidente exercesse o seu voto de qualidade, viabilizando a nomeação do Carlos Amaro que, com toda a certeza ficará eternamente agradecido ao Chega…. Mas, para além de fortalecer a sua posição na Câmara, Jorge Faria adquiriu um vereador gratuito que estava do seu lado para o apoiar em outros projectos muito importantes para o executivo PS!

Desta forma, Jorge Faria, de semi-vencedor, passou a ser vencedor total, pois conseguiu a maioria para o seu lado, e para grande frustração do PSD que, de repente, passou a partido sem poder impor as suas ideias ou actos, pois o Chega, nitidamente, estava com o PS!

Neste caso concreto, pode o vereador do Chega dizer o que lhe apeteça, mas os “danos” causados estão feitos e são irreparáveis, senão vejamos: não só deixou que o PS colocasse mais um vereador a tempo inteiro, reforçando o respectivo executivo, como em reuniões seguintes viabilizou a delegação de competências da Câmara Municipal no Presidente da Câmara, bem como votou favoravelmente o Orçamento e as Grandes Operações do Plano (GOP) 2022-2026 e o Mapa de Pessoal, sendo estes fundamentais para o futuro da concelho

Com estas tomadas de posição pró-PS, poderá o vereador do Chega enfrentar sempre o seu líder e justificar-se do porquê deste apoio ao PS, mas poderá fazer o mesmo junto dos seu eleitores?

Convém lembrar que o Chega teve no Entroncamento 11,24% de votos e que estes eleitores, definitivamente, votaram para que este partido fosse uma oposição ao PS.

No entanto, veio a verificar-se o contrário, atendendo a que o Chega se tornou um apoiante deste PS no Entroncamento.

Não sei se houve conversas de bastidores para que acontecesse esta mudança de princípios por parte do vereador do Chega do Entroncamento e, mesmo que as houvesse não veria qualquer mal nisso, é política… Mas daí até haver um comunicado do PS em que expurgava o Chega dos seus contactos e alianças, referindo que nada tinha sido combinado com o Chega, em papel timbrado, assinado por uma funcionária da Câmara, parece-me de extremo mau gosto e de alguma ignorância política. O que é do Partido não é da Câmara e as fronteiras têm que ficar bem definidas.

Finalmente, ficou-me, ainda uma grande dúvida: o vereador do Chega está a ir contra todos os princípios do partido de André Ventura, pois apoiou todas as frentes estruturantes do PS local, mas será que se esqueceu completamente das suas bases?

Convém lembrar que o vereador eleito pelo Chega é praticamente desconhecido no Entroncamento. Os votos que lhe foram dirigidos, tiveram como base os princípios do seu líder. A população votou para que um pouco de André Ventura chegasse ao Entroncamento, mas tal não está nitidamente a acontecer: por exemplo, temas tão queridos a André Ventura, como sejam a segurança ou os critérios de controle/fiscalização dos apoios sociais atribuídos pela Câmara, ainda não foram apresentados pelo vereador do Chega, e também já irão demasiado tarde pois o Orçamento já foi aprovado.

Será que os eleitores de Chega se revêem no seu representante, após todas estas incongruências? O tempo o dirá…

 

(O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico)

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