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A minha distância do Entroncamento tem-me permitido ver e apreciar algumas situações de forma diferente. É verdade que, devido a vários eventos familiares e pessoais, acabo por estar no Entroncamento quase todas as semanas. Mas essa distância ajuda a colocar uma certa imparcialidade na minha perspetiva.

Nos últimos tempos, li algumas declarações, vi (ou nem tanto) a reunião da câmara, e fiquei com algumas questões e reflexões que quero partilhar aqui.

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Em 2016, enviei uma carta aberta ao Sr. Presidente do Município sobre a questão da segurança, ou melhor, a falta dela, na cidade do Entroncamento. Já nessa altura, havia falta de agentes na esquadra, e até 2024 a situação só piorou. Naquela carta, alertei para o risco de as pessoas começarem a deixar a cidade por não se sentirem seguras, o que de facto aconteceu. As casas, claro, ficaram, e ou foram vendidas ou alugadas, trazendo novas pessoas, novas culturas e formas de viver, que mudaram a cidade de forma notável.

Isto alterou a perceção de segurança, e infelizmente para pior. Já em 2016 eu e outras pessoas falávamos da necessidade de videovigilância, algo que, finalmente, a cidade vai ter. Mas foi preciso muita persistência e que outras vozes se juntassem à nossa para que isso fosse conseguido.

Falamos de insegurança há, no mínimo, 8 anos, embora o tema seja discutido há cerca de 12. Por isso, custa-me ler certas coisas. Custa-me saber que durante anos o Presidente negou as evidências, chamando-me de populista, alarmista, entre outras coisas. Sempre disse que os problemas eram pontuais e estavam identificados, mas nunca conseguiu enfrentá-los de forma eficaz. Com uma governação PS tanto a nível local como nacional, não foi capaz de exercer pressão suficiente. A única pressão significativa surgiu quando a Assembleia Municipal tomou a iniciativa, à qual o Sr. Presidente se tentou associar.

Agora, com a mudança de governo e após receber um Conselho de Ministros em sua casa, o Sr. Presidente finalmente reconhece a necessidade de mais polícias e de reforçar a segurança no Entroncamento. Esta preocupação chega tarde e revela uma falta de visão clara. Falar agora é fácil; o difícil seria ter agido mais cedo, mostrando capacidade de gestão e a sensatez de saber ouvir.

Hoje, ao ler uma entrevista do Sr. Presidente no EOL, senti uma enorme desilusão. Ele diz: “Há uma tentativa constante de um grupo de pessoas que acho que nem gostam delas próprias. Dizem que gostam muito do Entroncamento, mas não acredito, porque só tentam valorizar os aspetos negativos desta comunidade.” Quem não deve gostar de si próprio, talvez seja quem não viu os sinais ao longo destes anos, quem ignorou os problemas e agora tem a consciência pesada ao finalmente reconhecer a insegurança.

O que o Sr. Presidente afirma ter feito, foi, na verdade, fruto do trabalho de uma oposição séria e honesta, composta por pessoas como eu e outros ligados ao CDS-PP, entre outros. Lutámos em Assembleias Municipais e reuniões com o executivo para que mudanças fossem feitas. Quando li sobre a “conversão do centro cultural à cultura”, só me deu vontade de rir. Sabemos bem a resistência que houve, especialmente por parte do PS e do Executivo, mas com persistência conseguimos mudar mentalidades. Hoje, ele assume a ideia como sendo dele…

Percebo que o Sr. Presidente queira mostrar obra feita, mas devia ter a humildade de reconhecer a contribuição da oposição para melhorar a cidade.

É certo que, nos dias que correm, é difícil lidar com uma oposição populista. Mas isso também é consequência da má gestão do atual presidente. Se tivesse ouvido a oposição a tempo, se tivesse agido no momento certo, talvez não tivéssemos assistido a uma revolta dos eleitores, que acabaram por votar em partidos mais radicais e populistas. O resultado foi a eleição de um vereador que lhe tem causado tantos transtornos.

Por fim, Sr. Presidente, ao interromper a transmissão da reunião de câmara no YouTube, só deu mais destaque ao que não devia ter protagonismo.

Hoje, à distância (que nem é tanta, e que tantas vezes tento encurtar), vejo um Entroncamento sem rumo, com falta de coordenação e um executivo cada vez mais fragmentado. Falta um ano para novas eleições. Sei que o atual presidente não será candidato, mas espero que neste último ano tenha a capacidade de dialogar com quem precisa e ouvir quem tem algo a dizer. Que, daqui a um ano, quem vencer as eleições receba uma cidade organizada e com bases sólidas.

A cidade precisa de ser vivida, precisa de viver. A cidade precisa de ser VIVA!

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