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Abordei este tema numa primeira crónica, falando sobre o busto que se encontra na rua Infante de Sagres, junto ao Jardim-Parque do Entroncamento, e sobre uma palestra do Dr. Manuel Gandra, segundo o qual a figura normalmente identificada como sendo o infante D. Henrique, é na realidade o seu irmão D. Duarte. Na altura dei algumas explicações, baseadas na mesma fonte.
Depois disso, continuei a ler sobre o tema, que acho interessante, já que vai ser difícil ou quase impossível substituir uma imagem que foi replicada milhares de vezes em livros, e muitas também em esculturas e pinturas.
A Batalha tem, desde o dia 14 de novembro de 2010, um busto do Infante D. Henrique, na praça que tem o seu nome, junto ao mosteiro, escultura que reproduz o rosto da estátua jacente do mesmo Infante, sobre o seu túmulo, que este teria mandado fazer em vida. Olhando-a, não vemos grandes semelhanças com o senhor do chapéu e do bigode.
Vários estudiosos se vão debruçando sobre o assunto, e alguns estão mesmo convictos de que o senhor do chapeirão não é o infante navegador.
E já agora, mais uma informação: parece que a escola de Sagres nunca existiu. Quem o afirmou foi o historiador Luís de Albuquerque, na sua obra “Dúvidas e certezas na história dos descobrimentos portugueses”. Considera essa ideia um mito que tem perdurado.
O brasileiro Fábio Pestana Ramos foi pelo mesmo caminho, aprofundando a pesquisa histórica e arqueológica.
Segundo ele, tanto os arquivos portugueses como os estrangeiros, contemporâneos da suposta escola ou imediatamente posteriores a ela, não fazem referência nem citam a referida escola uma única vez.
Escavações realizadas no promontório de Sagres nunca localizaram vestígios que comprovassem a existência ali de uma escola de navegação.
Para justificar esse vazio de informação, os defensores da escola de Sagres atribuem-no à política de sigilo que então imperava.
Enquanto duram estas discussões académicas, acho muito mais interessante a informação de, em abril de 1415, se estarem a construir galeotas de 60 remos cada uma, nas margens do Zêzere, entre as Limeiras e Cafuz, para se incorporarem numa armada.
Quem descobriu uma tal empreitada foi um espião espanhol (conhecemos um pouco da história destas rivalidades, tanto que acabaram por dividir em mundo em dois por causa disso). O tal espião enviou um relatório para D. Fernando I de Aragão, a dar-lhe conta dos preparativos nas margens do Zêzere.
A viagem marítima realizada em 1415 foi a expedição a Ceuta. Num país que saíra de uma guerra de 5 anos com Castela, era natural que tivesse faltas de tudo, inclusive de barcos para uma expedição que tinha como finalidade a conquista de Ceuta.
A preparação da expedição foi rodeada de grande segredo. Agora pergunta-se: “E qual é o fio condutor que explica a construção longe de Lisboa, de onde partiria a armada?” Eu arrisco uma explicação.
Em 1415 era grão-mestre da Ordem de Cristo D. Lopo Dias de Sousa, o 7.º grão-mestre e último antes do infante D. Henrique, que por ser membro da família real assumiu o comando da ordem como administrador, em 1417.
D. Lopo era sobrinho de Leonor Teles e filho da trágica Maria Teles que foi assassinada em Coimbra pelo marido. Na luta que opôs D. João I ao rei de Castela, ele assumiu o apoio ao rei português, e de acordo com essa postura foi seu companheiro de armas em todas as lutas. Pelo seu empenhamento e lealdade, o rei nomeou-o mordomo-mor da rainha.
Pela posição privilegiada que ocupava no reino, D. Lopo estava por dentro do segredo, tanto que foi um dos que combateu em Ceuta.
Pertenciam à Ordem os castelos de Almourol e de Ozêzere. Bastamente sabia D. Lopo que havia na zona muita madeira para barcos, carpinteiros e calafates, gente ligada ao rio e às suas fainas, e lugares seguros para montar um estaleiro. Era o seu contributo para o empreendimento.
Como escreveu o Dr. Fernando Freire no seu blog Atalaia-Barquinha, a epopeia das descobertas tem também a sua génese no território da Barquinha. E se o leitor desejar saber mais pormenores, consulte o blog referido, no capítulo “Vila Nova da Barquinha na génese dos descobrimentos”.
Manuela Poitout
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