
O Entroncamento foi o quinto município do país com um maior rendimento mediano per capita em 2018. Apenas 20 por cento dos 308 municípios do país apresentaram nesse ano (o último considerado na análise das Estatísticas do Rendimento ao Nível Local, divulgadas recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística- INE) um valor mediano de rendimentos brutos superiores à média nacional que foi de 9 mil e 67 euros. No município do Entroncamento esse rendimento, correspondente ao rendimento bruto deduzido no Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) per capita foi de 11 mil e 61 euros.
No retrato de 2018 do rendimento bruto mediano declarado relativamente ao IRS por sujeito passivo destacaram-se em Portugal os municípios de Oeiras (com um valor mediano de rendimentos brutos per capita de 13 mil 527 euros), Lisboa (11 499), Cascais (11 488), Alcochete (11 147) e, logo depois neste ranking nacional, e a escassa distância de Alcochete, o município ferroviário. Neste contexto de rendimentos medianos por concelho (o rendimento mediano corresponde ao rendimento da pessoa de um concelho no percentil 50, isto é, há tantos sujeitos passivos que ganham mais do que ela como sujeitos que ganham menos), o Entroncamento apresenta o valor mais elevado entre os 100 municípios de toda a Região Centro e, naturalmente, da sub-região estatística do Médio Tejo. E, se se excluir a sempre bafejada Área Metropolitana de Lisboa, o Entroncamento é o município do país, incluindo como é óbvio as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, com o rendimento mediano referido mais alto.
Na sub-região do Médio Tejo, o município com o valor mediano referido mais baixo é o da Sertã. O Médio Tejo ocupa a 13ª posição no conjunto das NUTS III do país (NUT é a sigla da Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos), considerando entre estas a Região Autónoma dos Açores e a Região Autónoma da Madeira − é portanto a região mediana de Portugal, pelo menos considerando estes dados do INE de 2018.
Há poucas semanas foram também divulgados pelo INE os dados relativamente ao número de habitantes do país em 2019. Entre os 13 concelhos do Médio Tejo apenas o Entroncamento e Vila Nova da Barquinha registaram um acréscimo positivo do número de habitantes entre 2011 (ano do último censo geral) e 2019. Neste período de tempo o número de habitantes do Entroncamento cresceu de 20 322 para 21 558, a que correspondeu uma variação positiva de 6,1 por cento, enquanto em Vila Nova da Barquinha, concelho que, para além de uma certa continuidade urbana, reparte uma boa parte da sua identidade económica, social e cultural com a realidade ferroviária do Entroncamento, a subida foi de 1,6 por cento, de 7 341 habitantes para 7 461. Entretanto a população global do Médio Tejo decaiu de novo, salientando-se sobretudo as descidas de Abrantes (de 38 830 para 35 130, menos 9,5 por cento de habitantes), de Tomar (de 40 210 para 36748, menos 8,6 por cento) e de Torres Novas (de 36 590 para 34 933, menos 4,5 por cento). O famoso triângulo industrial do início da década de 1970 está a ruir, como ruíram as grandes indústrias que durante décadas foram o baluarte económico da região. Resta, a resistir, o patinho feio do Entroncamento, que nunca coube nesse clube de snobes, que também nunca serviu para nada, a não ser demonstrar que os responsáveis políticos da região foram sempre muito melhores para segregar rivalidades e editar afastamentos que propriamente para construir um Médio Tejo valorizado por excelentes e complementares cidades médias.
Os números nunca trazem toda a verdade, mas têm as suas verdades, e estes dão que pensar. Não explicam tudo, mas nada pode ser explicado totalmente sem eles. É possível que esta resistência da “cidade ferroviária” nos rendimentos e na sua população esteja mais ligada a fatores externos (como as ligações ferroviárias a Lisboa e à Área Metropolitana de Lisboa) do que a uma grande alteração estrutural no seu perfil produtivo e logístico. De qualquer modo era útil que se pensasse um pouco sobre o assunto, não tendo eu na verdade qualquer certeza em relação a isto.