Estávamos nos anos 80 e tinha aparecido no Entroncamento uma revista, a “Revista Nova”, efémera na sua existência mas nem por isso menos marcante, por ser nova, generalista e genuinamente local.
Fomos ter com o Sr. Pedro Barroso num dia à tarde, sem hora marcada nem aviso porque nessa altura ainda não havia telemóveis, à casa dele nos Riachos, onde sempre viveu. Tinha um portão que dava para um espaço ajardinado à frente da casa onde nos recebeu sem nos conhecer e saber ao que íamos. Mandou-nos entrar e ali acabámos por ficar horas a fio à conversa e a beber um licor ou vinho do Porto, lembro-me que era uma bebida fina, como se já fossemos velhos amigos conhecidos embora fossemos mais novos que ele uma meia dúzia de anos e ele era um jovem. Vivíamos o pós 25 de Abril, o entusiasmo era imenso e todo um mundo novo se abria, pelo que as conversas eram fáceis e os temas infindáveis.
Por fim lá nos perguntou o que queríamos. Queríamos que ele fosse cantar à festa que a Revista Nova estava a organizar e como ele era uma referência no novo mundo da música de intervenção e era daqui, como se fosse da nossa terra pois Riachos e Entroncamento estão juntos, enfim lá lhe tentámos falar ao coração. Mais um copito, não estava fácil, havia que pagar à banda que o acompanhava, não cantava sozinho mas sempre podia dispensar algum músico, mas mesmo assim o preço era incomportável para nós. Que tinha custos a suportar e a festa era num sábado, mais um copito, tínhamos de compreender, argumentava o Pedro, nesta altura já era tu cá tu lá. Lá acabou por aceitar ir só com a guitarra, de borla ou por um valor simbólico, a memória é muito difusa. Não falhou, foi e encantou.
Nunca mais nos cruzámos, fomos ouvindo as suas cantigas, trauteando as sua músicas com a memória e o gosto imenso de um dia termos estado com o Sr. Pedro Barroso. Hoje sentimos que nunca lhe agradecemos o suficiente e só agora percebemos a grandeza do seu coração. Obrigado Pedro.