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Dizia um artigo do “Observador” há uns tempos atrás: “Combatem as chamas até ao último homem, mas o trabalho dos bombeiros portugueses não se resume a extinguir fogos. São socorristas, transportam doentes, atuam em situações de risco e até arrombam portas quando alguém se esquece da chave de casa. Hoje em dia, são o principal agente da Autoridade Nacional de Proteção Civil e, apesar de ganharem maior destaque nos meses quentes de verão, só 7% da sua atividade é que está relacionada com fogos florestais. Na maioria das vezes não recebem salário, mas não se importam com isso. O que fazem, fazem por gosto — pela paixão por uma profissão que é muito mais do que isso. Ser bombeiro é uma forma de vida.”
Verdade… Fazemo-lo porque queremos, mas também não é menos verdade que sentimos que na maior parte das vezes somos remetidos para segundo plano.
Somos cerca de 30 mil bombeiros no ativo em Portugal e desses apenas cerca de 8 a 9% são profissionais. Mas o problema nem é esse, porque respeitamos os profissionais e trabalhamos todos para o mesmo fim. A questão maior neste momento é que SOMOS definitivamente o PRINCIPAL AGENTE DE PROTEÇÃO CIVIL em Portugal e SOMOS esquecidos cerca de 290 dias por ano pela maior parte da população portuguesa.
O mesmo artigo referia ainda: “São também os bombeiros que fazem o transporte de emergência de doentes e que atuam em situações de socorro, trabalhando em conjunto com o INEM. “Os bombeiros são responsáveis por 95% da atividade do INEM. Até muitas vezes, quando dizem ‘já chegou o INEM!’, o que chegou foi o carro porque quem lá vai são os bombeiros. Os bombeiros são hoje o principal agente da proteção civil em Portugal, porque em todos os teatros de operações andam na ordem de 97%.”
Mas volto a referir, não é esse o problema!
O problema vem das bases, é uma questão de educação e cidadania.
As populações antigamente defendiam-se e não esperavam que o Estado as socorresse, pois podia não haver Estado.
Com os efeitos das alterações climáticas a virem cada vez mais a tema de conversa, tais como as altas temperaturas, os grandes incêndios ou a erosão costeira, o socorro poderá ter de passar, numa primeira fase, por a implementação de medidas de autoproteção por parte das populações e torná-las assim mais resilientes.
Numa situação de catástrofe, com múltiplos cenários no País, poderá não existir resposta suficiente e atempada, nem um bombeiro à porta de cada família para os socorrer, sendo importante as pessoas terem noção disto e prepararem-se.
Nesta linha, a conceção de proteção civil (centrada nas abordagens reativas da gestão dos desastres), tem de ceder o passo à priorização e institucionalização do planeamento preventivo e à preparação comunitária, na governação dos territórios, ligando todos os agentes na filosofia de que “a proteção civil somos todos nós” e reaprendendo o viver solidariamente neste mundo de riscos globalizados, porque “o problema do meu vizinho passa também a ser meu”.
Um exemplo disso foi o lançamento do projeto “Aldeias Seguras Pessoas Seguras” da ANPC, que visa estabelecer “medidas estruturais para proteção de pessoas e bens, e dos edificados na interface urbano-florestal, com a implementação e gestão de zonas de proteção aos aglomerados e de infraestruturas estratégicas, identificando pontos críticos e locais de refúgio”.
Também a promoção de “ações de sensibilização para a prevenção de comportamentos de risco, medidas de autoproteção e realização de simulacros de planos de evacuação, em articulação com as autarquias locais”, e a criação de “uma rede automática de avisos à população em dias de elevado risco de incêndio, com o objetivo da emissão de alertas para proibição do uso do fogo, bem como outras atividades de risco e ainda medidas de autoproteção, dirigidas para públicos específicos”, foram um exemplo da estratégia adotada para a criação de uma maior resiliência no cidadão.
Desta forma, é possível contar com cidadãos mais informados com conhecimentos sobre os perigos, as normas de prevenção e autoproteção e capazes de se integrarem e participarem na organização da resposta à emergência, porque ninguém é suficiente e muito menos autossuficiente.
Esperemos agora pelos resultados desta tentativa de mudança de paradigma, sabendo de antemão que os Bombeiros, voluntários ou profissionais, estarão sempre ao lado da população.
A resposta pronta e rápida do cidadão é tão ou mais importante que a resposta dos serviços de emergência.
Todos juntos poderemos fazer a diferença.
Rodrigo Bertelo