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O executivo da CME foi ultrapassado pelos acontecimentos de insegurança e deixa como herança, do atual mandato, uma marca dramática, cavada bem fundo na memória coletiva do concelho, apesar dos avisos à navegação.
Entroncamento nas bocas do Mundo
Nas últimas semanas ocorreram no nosso concelho episódios de insegurança e violência, transmitidos com eco, pelo zum-zum do boca-a-boca, que chegarem às bocas do mundo. Desde então, constituem o tema central, no diz-que-diz, dos dois dedos de conversa diária, não passando cavaco a fofocas, bisbilhotices e mexericos, mesmo à boca calada.
Como as más notícias são as melhores notícias, para alimentar o espetáculo do insaciável circo mediático, o Entroncamento foi catapultado – num ápice e à má fila, para dentro dos lares portugueses, através dos prestáveis canais de notícias televisivas. Conseguiram, assim, um novo fôlego e, sobretudo, maiores audiências, pois sentem-se como peixe na água, neste tipo de ambientes noticiosos.
Recorrentemente, de hora a hora, anunciava-se, com frenesim e até à exaustão, os alertas das exclusivas “breaking news” do momento, utilizando chamativas paragonas noticiosas, capazes de transformar os incidentes do nosso concelho na atração sensacionalista de um show frenético. Talvez por isso, os jornalistas de serviço aconselhassem, aos telespetadores mais impressionáveis, prudência na visualização das imagens, pelo conteúdo explicitamente dramático que as mesmas transmitiam.
Foi triste assistir ao ponto a que chegámos na nossa cidade.
Tolerância zero à insegurança
A consciência das responsabilidades que neste momento nos assistem aconselha-nos a refletir (com o necessário distanciamento emocional), sobre os acontecimentos.
A bandeira da insegurança não foi içada e acenada pelos eleitos do PSD apenas agora. Quem não tem memória curta, convenientes lapsos de esquecimento ou padece das inesquecíveis brancas, decerto recorda a campanha, para as eleições autárquicas, em setembro de 2021, onde a candidatura do PSD anunciava no seu programa eleitoral a tolerância zero à insegurança.
Mesmo assim podemos dar de barato o eventual esquecimento deste slogan. Mas a nossa proposta de instalação de um sistema de videovigilância decerto não passou despercebida. Pois é! Era uma das nossas propostas, sim. A par das brigadas móveis de intervenção rápida (atualmente designadas por equipas rápidas de intervenção), entre outras propostas no âmbito da (in)segurança.
Na altura apontaram-nos leviandade na desproporcionalidade entre a situação de insegurança, vivida no concelho, e as nossas propostas, para a combater. Tentaram colar-nos à imagem de quem está deslocado da realidade. Acusaram-nos de não sabermos em que terra nos encontrávamos e de propormos uma “cruzada” contra “terroristas”.
Zero!
Mas por oposição, quem nos criticava não apresentou uma única proposta no âmbito da segurança. Zero! Preferiram descontraidamente assobiar para o lado, numa atitude de completa irresponsabilidade na desvalorização dos problemas. É bom recordar, às pessoas mais distraídas, o deserto de iniciativas nesta matéria. Há responsáveis por apear a segurança numa desprotegida terra de ninguém, esquivando-se a discutir o assunto, durante a campanha eleitoral. A culpa não pode morrer solteira. É preciso sacar responsabilidades a quem as tem.
Perguntas e mais perguntas
Mas perguntamos nós:
– Afinal hoje quem manifesta comportamentos desproporcionados?
– Mantêm a mesma opinião depois de todas as ocorrências de insegurança?
– O que fizeram desde a tomada de posse, para a combater a insegurança?
Nós damos a resposta. Cruzaram os braços e assistiram com inabalável frieza às correrias desenfreadas de comportamentos incompatíveis, com a qualidade de vida numa cidade, no mais completo deixa andar, onde quem se lixa é o “mexilhão”.
Relatos de uma tragédia adivinhada
Mas as “coisas” são o que são. Apesar de estar ainda no início da sua atividade o mandato deste executivo autárquico ficará – infelizmente – associado a uma cruel marca fatal, impossível de apagar, mesmo através do enfraquecimento do esquecimento, pois cava bem fundo na nossa memória coletiva, cada vez mais martirizada nos últimos anos.
Nas circunstâncias atuais continuam a ser patentes os sinais de grande apreensão, em matéria de segurança. Denunciámos factualmente, em sucessivas reuniões da Câmara Municipal, a existência de manifestos episódios de insegurança, descritos insistentemente por várias pessoas. Considerámos esses relatos premonitórios de uma tragédia adivinhada, mesmo por quem não tem dotes de profeta, nem se dedica a decifrar os misteriosos segredos da influência dos astros estrelados, sobre o fado do comum dos mortais.
Fomos ultrapassados pelos acontecimentos e agora queremos anular o prejuízo. Para além de ser irreversível é uma alternativa com a qual não nos identificamos. Principalmente quando é tomada por quem tem uma perceção enviesada das circunstâncias, consequência de uma opinião subjetiva, para além da qual nada mais existe.
Nem uma palavra para dar confiança e segurança às pessoas
Numa altura em que as redes sociais e a comunicação social, de âmbito nacional e internacional, manifestam e comentam os acidentes e incidentes de insegurança, é paradoxal o silêncio de todos os responsáveis. Nem uma palavra para dar confiança e sossegar as pessoas.
Ninguém gosta de ver a sua casa e, neste caso, a sua cidade associada à insegurança, porque esta não é uma caraterística para apreciar em qualquer circunstância.
Não é abonatório para o concelho ver-se colado à imagem da insegurança e da violência, mais a mais, com a publicidade gratuita nos meios de comunicação social.
Meter a cabeça na areia
Pode-se desvalorizar um problema – através de um perspicaz e premeditado marketing inverso – para evitar que ele constitua, neste caso, a imagem de marca da cidade.
Mas outra coisa é meter a cabeça na areia e fazer de conta que nada se passa, esperando pela bonança do mar chão, no meio do escarcéu dos vagalhões de uma encrespada e cataclísmica tormenta que a todos suga para o fundo de arrastão.
Não somos adeptos da permanente referência ao Entroncamento nos meios de comunicação, principalmente quando apenas se trata de ampliar as más notícias. Este tipo de visibilidade é má publicidade para a cidade. Transmite uma imagem que vai desvalorizar o Entroncamento, o seu património e o das próprias pessoas que vivem e trabalham no concelho.
Temos de resolver os problemas e diminuir a exposição mediática dos mesmos, pois isso não é benéfico para o concelho.
Uma questão de direitos e deveres
Temos de encontrar soluções capazes de proteger a maioria da população. Não podemos nem devemos permitir aos outros aquilo que não permitimos a nós próprios. É uma questão de direitos e de deveres, para quem quer viver em sociedade. Ao fim e ao cabo é uma questão de responsabilidade ou de irresponsabilidade, conforme a perspetiva. Não podemos continuar a nivelar o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida pela mediocridade/irresponsabilidade dos comportamentos de quem não percebe o seu significado, não colabora com reciprocidade e nem é solidário com todas as pessoas que vivem em sociedade. Se as regras atuais não são cumpridas há que exigir meios e condições para as fazer cumprir, prevenindo a transformação do concelho num “far west”.
Não é possível continuar mais tempo assim, num concelho cujo território é reduzido, mas tem uma elevada densidade populacional e onde a maioria dos acontecimentos é sentida por todos e a todos afeta de um ou outro modo.
As situações de insegurança rodoviária continuam a fazer-se sentir, mesmo depois do trágico acidente. Representam uma clara manifestação de poder e, sobretudo, uma provocatória e gritante falta de respeito pela vida humana, por alguns dos que sempre mereceram a ajuda de toda uma comunidade/sociedade, desde há muitos anos e que tardam em assumir o seu lugar de pleno de direito, mas também de pleno dever, perante a sociedade.
Exigimos medidas concretas para a insegurança
Não é possível adiar mais. Exigimos medidas concretas para resolver os problemas da insegurança.
As forças de segurança não podem ser responsabilizadas por todos estes problemas. Também elas têm as suas dificuldades. Admitimos! É preciso chamar a atenção para o reduzido número de efetivos da PSP no concelho; para as condições precárias em que realizam o seu difícil trabalho; para os equipamentos obsoletos utilizados no dia-a-dia, no cumprimento da sua louvável profissão.
Há, no entanto, uma componente da hierárquia responsável pelas decisões políticas, de nível nacional, que tem de ser chama à pedra. Simultaneamente tem de sair do gabinete e ajudar a resolver ao nível do nosso concelho os crescentes problemas de insegurança com que nos debatemos.
Como medida para combater o provinciano esquecimento a que temos sido votados, nos últimos anos, exigimos reunir com representantes do Ministério da Administração Interna e com o Comando Nacional da Polícia de Segurança Pública, para manifestarmos o eventual desconhecimento que estas entidades têm sobre a realidade do nosso concelho.
Exigimos, com urgência, a implementação de medidas para limitação de todo o tipo de excessos no trânsito rodoviário, bem como a implementação do sistema de videovigilância, com abrangência territorial alargada no concelho. Estas medidas são prioritárias, para redução e controlo das situações de insegurança, atuando simultaneamente como medidas preventivas, dissuasoras e de identificação efetiva de comportamentos fora da lei, bem como dos seus prevaricadores.
Não podemos esperar mais, sob pena de contribuirmos para uma situação já de si explosiva. Se nada for feito as consequências serão certamente bem mais graves, comparativamente às verificadas até agora.
Viva o Entroncamento.





















