Rui Madeira
rui.madeira@entroncamentoonline.pt
Entroncamento, a meca da migração no Médio Tejo?
Durante os últimos anos a população do concelho sofreu algumas alterações que são hoje realidades bem visíveis. Evocando a espirituosa caraterística que nos é reconhecida, podemos referir-nos a esta situação como mais um fenómeno local, pois atualmente acolhemos migrantes dos quatro cantos do Mundo, num total a rondar as 50 nacionalidades.

Esta dinâmica de imigração é o reconhecimento do nosso território como uma localização interessante, para novos residentes, contribuindo para a renovação do tecido social e do tecido económico, com todas as vantagens inerentes, mas também com todos os correspondentes inconvenientes.

Globalização, localização e migração
A causa destes comportamentos migratórios é frequentemente atribuída à globalização. Mas as migrações globais manifestam-se, de forma muito particular, nos territórios locais, para onde se dirigem. Por várias ordens de razão o fenómeno da globalização materializa-se atualmente no Entroncamento, através do chamado fenómeno da localização, associado à necessária adaptação das pessoas aos novos territórios e locais.

PUB

Quando falamos na globalização não podemos deixar de falar nos fenómenos de localização, pois são as duas faces da mesma “moeda” migratória. Temos de analisar a migração à luz destes dois conceitos, sendo mais importante a problemática da localização, porque sobre a globalização o poder de atuação do nosso concelho é ínfimo, para não dizer nulo ou que não risca nada, para falar em bom português.

Qual a capacidade do 2º concelho mais pequeno do País para receber mais pessoas?
Com menos de 14 km2 de área o Entroncamento é considerado um concelho muito pequeno do ponto de vista do território. Mas é um dos concelhos com elevada dimensão, a nível nacional, quando considerada a respetiva densidade populacional. Nestas condições, o fenómeno da migração no concelho não passa despercebido, como poderá acontecer em concelhos com maior área territorial e de menor densidade populacional.

Para compreender este novo fenómeno temos de perceber qual a nossa capacidade para absorver mais pessoas. Não podemos deixar ao abandono e à sua sorte quem aqui entronca na esperança de um acolhimento adequado às suas expetativas, acreditando que o destino tratou de lhe proporcionar uma nova oportunidade para a vida.

A realidade dos factos vista à lupa da massa cinzenta
Ao conhecimento dos dados empíricos resultantes da nossa experiência pessoal também se juntam dados objetivos. É o caso do estudo exploratório compilado por Gonçalo Serras, multifacetado agente cultural (entre outras valências), cá do burgo (e não só), que nos fez chegar vários dados, referindo que em 2021, os novos estrangeiros no concelho eram 984, ou seja, perto de um milhar de pessoas.

O notável Professor Manuel Fernandes Vicente, em artigo no EOL, a 27 de agosto de 2022, também contabilizou mais de 826 estrangeiros, desde janeiro de 2022 até 25 de agosto do mesmo ano, no que considera ser uma rápida alteração. Para pouco mais de meio ano, este valor correspondeu a um aumento de 84%, relativamente ao ano anterior.

Uma “realidade aumentada” e a engordar…
Fazendo fé nestes dados, o número total de estrangeiros situava-se à data nos 1810 e representava cerca de 8% da nossa população. Mas, entretanto, como passaram alguns meses será de esperar uma “realidade aumentada” ao dia de hoje.

Por exemplo, recentemente uma das nossas duas freguesias registou – num só dia – 30 (trinta) novos pedidos de atestados de residência, por estrangeiros acabados de chegar à cidade. Não é de admirar que esta afluência se faça ao ritmo de 100 novos estrangeiros por mês, “engordando” o nosso concelho.

As messiânicas profecias do Bandarra, o sapateiro de Trancoso
Mais dados e informações devem ser obtidos para compreender este fenómeno. Mas os dados existentes evidenciam a magnitude da recente dinâmica populacional no concelho, onde a população estrangeira, registada e não registada, deverá representar, até ao final do presente ano de 2023, cerca de 15% de toda a população.

Não será preciso recorrer às míticas profecias do Bandarra, que estiveram na base do messianismo sebastiânico, para perceber que esta tendência continuará no futuro próximo e não será D. Sebastião quem iremos receber…

O que nos reserva o futuro: antecipar cenários previsíveis
Os dados anteriormente indicados terão de ser objeto de adequada verificação, para compreender a realidade e perceber como proceder. A tendência não permite perspetivar a diminuição dos fluxos migratórios. Antes pelo contrário. A elaboração de um diagnóstico real é de toda a conveniência, para antecipar cenários prospetivos adequados para implementar no futuro.

Uma realidade escondida
A questão da imigração vai muito para além dos aspetos visíveis do dia-a-dia do concelho. Por baixo da sua real manifestação podem colocar-se problemas – provavelmente até já se colocam – relacionados com a saúde, com a educação e a língua, com a cultura, com o racismo e discriminação, com o mercado de trabalho, com a habitação, com a religião, com a cidadania e a participação cívica, com a opinião pública local, com os serviços de acolhimento e até com as relações internacionais relativas aos países de origem dos migrantes chegados ao concelho.

Atenção à pressão sobre os serviços do concelho
Como se percebe é grande a panóplia de eventuais problemas. Mas atenção! Estes problemas não afetam apenas os imigrantes. Afetam também quem já reside no concelho, por razões óbvias de dimensionamento dos serviços de apoio e da pressão a que, cada vez mais, vão ficar sujeitos, limitando a sua capacidade de funcionamento eficiente.

É, portanto, um problema complexo que importa “atacar” quanto antes, com os procedimentos corretos e, sobretudo, com inteligência, para minimizar problemas futuros, evitando o que aconteceu no passado com comunidades e populações às quais não se deu a devida atenção, em termos de enquadramento e respetivo acompanhamento.

Dar a mão ao Governo com o Plano Municipal Integração de Migrantes – PMIM
Adeptos da popular sabedoria onde mais vale prevenir do que remediar, consideramos urgente realizar um Plano Municipal de Integração de Migrantes (PMIM), para lidar convenientemente com uma situação que a prazo – até mesmo a curto prazo – tem previsível potencial para se transformar num problema sério e com consequências inadequadas para a dignidade que qualquer vida humana merece.

Nos últimos tempos o nosso concelho tem dado a mão às políticas sociais do Governo da Nação, cujo alvo são populações com um reduzido número de pessoas. Mas, por muito que se concorde com essas iniciativas, é altura do nosso Governo dar a mão às políticas locais do Município do Entroncamento, para benefício da maioria das pessoas do concelho.

Viva o Entroncamento

PUB