Seminário decorreu no cineteatro São João, contando com a presença de Patrícia Gaspar, secretária de estado da Proteção Civil. Março é o mês da Proteção Civil e os desafios, positivos e negativos, da Inteligência Artificial, estiveram no centro das intervenções
Autarcas, governantes, bombeiros, forças de segurança, entre outros, acorreram esta manhã, segunda feira, ao cineteatro para ouvir e discutir os grandes desafios que a Proteção Civil (PC) enfrenta na sua relação com as novas tecnologias de computação.
O seminário “Proteção Civil do Século XXI vs Inteligência Artificial” foi aberto, esta segunda feira, dia 4 de março, por Jorge Faria, presidente da Câmara Municipal do Entroncamento (CME), que se congratulou com a organização do evento e que começou por afirmar que “o Entroncamento, a nossa cidade, é um concelho essencialmente urbano, diferente de muitos dos outros concelhos, muito alicerçada na tradição ferroviária, moldados por uma indústria de ponta e muito importante, com níveis de envelhecimento mais baixas que outras, níveis de escolaridade médias mais altas”, contextualizando o território com as novas tecnologias.
O autarca confidenciou que, na véspera do seminário, usou “o ChatGPT (ferramenta de conversação de IA autónoma) e “de facto, aquela coisa escreveu-me um texto sobre proteção civil vs inteligência artificial em pouco tempo”, mas lembrou um “aspeto fundamental”. “Queria lembrar um aspeto que julgo fundamental, temos duas abordagens distintas: uma tecnocêntrica, em que a tecnologia domina e é esse o grande perigo, e a antropocêntroica, em que a tecnologia serve os interesses dos homens e não a si própria”, dissertou.
Para Jorge Faria, o “desafio é termos a capacidade de fazer com que a tecnologia sirva as pessoas e as ponha no centro da sua ação”.
Secretária de estado elenca sete desafios
Patrícia Gaspar, secretária de estado da proteção civil, tomou o palanque afirmando que a PC é um “sector que não pode parar”, alertando, no entanto, que “as novas tecnologias têm um lado pernicioso. Novas plataformas são incontornáveis e vieram para ficar, mas as coisas não se esgotam nestes domínios (…) os desafios são muito mais vastos que a IA”.
A governante elencou o que julga serem os desafios mais importantes da PC. Os sete desafios mais relevantes “que eu identifico”, são: o conhecimento, ordenamento do território, equilíbrio entre prevenção e resposta, antecipação, comunicação, educação, bombeiros e financiamento do sistema.
Patrícia Gaspar enalteceu que “temos de ter a ciência e academia aos serviço da PC”, que “ nunca irei ter um país seguro e capaz de absorver os acontecimentos mais catastróficos se não mudar a forma como olho e organizo a gestão do meu território”, explicando que “não há desastres naturais, há fenómenos naturais com eventual impacto catastrófico. É aqui que vamos conseguir ganhar esta guerra”.
Já sobre o equilíbrio entre a prevenção e a resposta, a secretária de estado contou que “durante demasiados anos a PC foi demasiado reativa. É mais fácil comprar equipamento, carros, tanques, helicópteros, entre outros, do que apostar na prevenção”, desafio que remeteu para outro, a antecipação. “Estes fenómenos precisam de modelos preditivos diferentes, quanto mais rapidamente conseguirmos antecipar estes fenómenos mais efetivamente conseguimos preparar a resposta”.
Logo depois falou na comunicação, que “não pode ser apenas quando o fenómeno acontece. Tem de ser transversal a todo o ciclo da PC. Comunicação para dentro do sistema e para fora dele”. Ter uma comunidade “desperta e que entenda a complexidade deste fenómeno” é o mote para o desafio da educação aproveitando para, de seguida, falar dos bombeiros, nomeadamente da estrutura atual dos mesmos, “precisamos de repensar o modelo que temos, os voluntários devem ser mantidos, mas não há dúvida que precisamos de olhar para a profissionalização dos bombeiros, um grande desafio. É impensável pensar o sistema de PC do futuro sem pensar na profissionalização dos bombeiros”, reforçou.
O sétimo e último desafio que trouxe para a discussão foi o do financiamento do sistema, “nem tudo precisa de financiamento mas temos de perceber de onde é que podemos captá-lo” e deu o exemplo das parcerias com as seguradoras, interessadas no processo e na prevenção. “É uma das prioridades da agenda da PC a nível nacional e da união europeia”.
A finalizar, para dar depois a voz aos representantes locais da PC, Patrícia Gaspar assegurou estar “absolutamente convencida que temos nas nossas mãos o que é preciso para fazer esta mudança”.
Os primeiros representantes locais a tomarem o palco foram Francisco Barbosa, comandante dos bombeiros voluntários do Entroncamento, e Pedro Gomes, coordenador municipal da PC.
Neste seminário, transmitido pela CME para as equipas de PC em Angola e Cabo Verde, estiveram presentes Manuel Valamatos, na condição de presidente da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, Fernando Freire e António Camilo, presidentes das câmaras de Vila Nova da Barquinha e Golegã, respetivamente, e Ilda Joaquim, vice presidente da CME, entre outros autarcas e vereadores.
O seminário durou toda amanhã e insere-se nas comemorações do Mês da Proteção Civil.
Texto e Fotos: Ricardo Alves – EOL