Durante anos, acreditei que tinha o mundo nas mãos.
Desenhava planos como uma arquiteta obcecada, alinhando cada detalhe com a precisão de um relojoeiro. Traçava metas que pareciam inalcançáveis, convencendo-me diariamente de que bastava força de vontade para as superar. Organizava a vida como quem tenta segurar água num coador. Meti na minha cabeça que, se fosse meticulosa o suficiente, nada poderia falhar.

Mas falhou.

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O inesperado não bateu à porta. Rebentou com ela. Entrou pela janela que deixei entreaberta, uma brecha inocente por onde apenas queria que passasse ar fresco. Em segundos, os meus planos foram arrancados das mãos como folhas ao vento. Ainda tentei resistir. Agarrei-me a eles como quem se agarra a um último pedaço de terra antes de ser engolido pelo mar. Mas a força da corrente não perdoa e, quando me vi à deriva, compreendi: o controlo que julgava ter era apenas uma miragem.

Ninguém pode negar que vivemos grande parte do nosso tempo a tentar prever o imprevisível, a evitar dores que nunca sabemos de onde vêm, a apertar algo que nunca foi nosso, por mais que o desejássemos. Quanto mais tentamos controlar, mais peso sentimos de tudo o que nos escapa. É como tentar agarrar areia: quanto mais apertamos, mais depressa ela escorre.

O que podemos nós fazer quando o chão nos escapa? Quando os nossos planos são arrancados pelas raízes? Continuamos a tentar evitar a tempestade? Não. Talvez, o melhor seja aprender a dançar na chuva.

O controlo será sempre confortável, mas uma prisão. Prisão essa que nos suga as oportunidades de viver o inesperado. Porque, quando conseguimos viver o inesperado, a falha torna-se tão mais bonita. O acaso muda tudo. A curva que não vimos, a esquina que espreitamos e o erro que nos faz dar o passo no caminho certo.

Talvez não precisemos de controlo. Talvez a confiança faça mais falta. Confiança de que, mesmo quando o vento muda, teremos as mesmas asas para voar. Confiança de que, mesmo sem mapa, o caminho vai revelar-se.

E, se aceitarmos isso, algo muda. A nossa natureza ganha espaço para a liberdade de sermos, simplesmente, humanos.

Desarmados, derrubados e, a melhor parte: renascidos.

E aí percebemos que o fio que nos sustenta nunca foi verdadeiramente nosso. Ele sempre esteve lá, invisível, mais forte do que qualquer esforço para o segurar.

SANDRA MAY

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