Há quem goste muito de receber flores. Eu, por mim, confesso que as flores não me entusiasmam grande coisa. Gosto de jarros, de tulipas e pouco mais. Já de plantas, sim, e quanto mais verdes melhor, talvez porque me remetem para um tempo perdido de luxuriantes florestas virgens, densas e sombrias, a apelar para a nossa imaginação mais selvagem.
Uma vez, não há muito tempo, emocionei-me num viveiro, onde fui à procura já não sei se de uma hera-do-diabo, se de um feto. Ainda hoje não consigo explicar bem o que se passou, mas de repente vi-me sozinha, cercada de um verde muito vivo, e por um breve segundo senti a presença de uma força vegetal tão intensa, que não é sem vergonha que admito que as lágrimas me inundaram os olhos.
O ramo de flores tornou-se muito comercial, e frequentemente é a escolha fácil dos companheiros pouco criativos no dia de São Valentim. Ou então, quando pisam o risco e querem voltar às boas graças, junto das caras-metades. É também a prenda mais óbvia em qualquer Dia da Mãe, e pior, no Dia da Mulher, justamente uma data que não tem nada de florido, e que diz respeito a cidadania e a direitos políticos. Por favor, homens, compreendam o significado do 8 de Março, e não ofereçam neste dia flores a mulher nenhuma. Sobretudo a uma que amem.
De resto, as flores não se dão bem na minha casa, e infelizmente já mandei para as alminhas, por exemplo, várias orquídeas requintadíssimas, que são lindas e que dão a qualquer ambiente uma refinada nota de bom gosto. Já as plantas, por qualquer motivo misterioso, florescem no meu lar, apesar de ter de as defender com unhas e dentes da gataria doméstica.
Há muitos anos tive uma depressão que matou todas as minhas plantas. Não, não me enganei, foi assim mesmo, eu tive a depressão e as plantas é que morreram. O que se passou é que eu desisti simplesmente de as regar, não por maldade, mas porque se tornou, para o meu estado de saúde, um esforço grande demais levar água a todas as inquilinas vegetais espalhadas pela casa e pelas varandas. O resultado foi um sem número de vasos com plantas mortas, o que não contribuiu, como devem calcular, para a melhoria do meu estado de espírito. Ver-se uma pessoa deprimida rodeada de plantas mortas, para onde quer que olhe, não é terapia que se aconselhe a ninguém. Assim, dei por mim a perguntar-me se deveria arrancar as hastes secas das plantas falecidas e deitá-las no lixo, ou, se seria melhor deitar fora vasos e tudo. Mas se eu não tinha, então, forças para andar, de regador na mão, a matar a sede às plantas, muito menos para carregar vasos cheios de terra para o contentor. Na altura, nem me passava pela cabeça que um dia voltaria a ter a casa povoada de plantas cheias de viço.
Por inércia, acabei por guardar os vasos. E ainda bem, uma vez que, tempos depois, já recuperada, voltei a povoar os ditos de plantas novas, tendo mesmo comprado outros tantos. Apesar de se terem, entretanto, passados muitos anos, ainda hoje, quando ando pela casa de um lado para o outro, a matar a sede às minhas muitas plantas, sobretudo nestes dias quentes de Verão, não me consigo impedir de sentir que, no fundo no fundo, é a mim mesma que salvo da seca.
Quem sabe, se não foi por isso que me emocionei na estufa, no outro dia. Toda aquela verdura pujante e cheia de vida talvez me tenha feito recordar que eu, tendo sobrevivido à depressão, sou hoje, não uma flor delicada, mas uma planta saudável e forte.






















