Há coisas que me começam a deixar demasiado irritado e não é só por estar farto disto, mas também. É porque não entendo, não entendo mesmo!
Não entendo que empresas de prestação de serviços, refiro-me a serviços essenciais, as chamadas “utilities”, estejam a trabalhar exclusivamente em teletrabalho e não tenham capacidade de resposta por telefone ou email. Onde estão os trabalhadores que deixaram de estar nos balcões de atendimento directo? Têm agora mais trabalho? Há alguma justificação para fazerem o cliente estar 2 minutos, dois minutos, a ouvir desculpas pela demora no atendimento e recomendações gravadas até começarem com a lengalenga da marcação de 1 para isto, 2 para aquilo… até informarem que o tempo de resposta poderá ser superior a 5 minutos.
Não entendo porque é que ainda não foi posta mão na venda de produtos de higiene e proteção, álcool, luvas, máscaras, etc., intervindo na sua distribuição e fixação de preços máximos. Vou mais longe, porque não são adquiridos pelo Estado e distribuidos gratuitamente? O ganho com isso, comparado com os custos de uma infeção, são ridículos! Atenção que estamos num “estado de emergência”, que serve exactamente para se poderem tomar medidas destas!Há poder para nos confinarem em casa e não há poder para isto?
Não entendo tanta preocupação com as férias de verão numa altura destas em que está em causa a nossa sobrevivência. Porque é que têm de haver férias em agosto? Morre alguém se sacrificarmos as férias deste ano para precaver a possibilidade de gozar as dos próximos anos? É que podemos cá já não estar para as gozarmos.
Não entendo porque estão canceladas as operações e tratamentos nos hospitais. Quantas pessoas estão a morrer todos os dias por falta de atendimento? Não me venham dizer que é por as pessoas estarem como medo de ir, porque lhe disseram para não ir! Então e os hospitais não sabem quem são os seus doentes a precisar de tratamentos? Contactem-nos! Saibam se estão vivos ou mortos e se se podem movimentar ou se têm de lá ir ter com eles. Foram e estão a ser adiadas operações e tratamentos urgentes, porquê? Os hospitais estão agora com mais capacidade de atendimento que antes da pandemia, têm mais médicos disponíveis e camas porque estão amandar doentes embora! E no entanto estamos mais desprotegidos, mais vulneráveis.
Há mais coisas que não entendo, mas vou ficar por aqui, porque se calhar sou eu que já estou a baralhar tudo e a ficar rabujento, mas não sei se aguento! Estou farto da cantiga de que vamos todos ficar bem, estou farto das brincadeiras em casa que vejo na televisão, estou farto que me mandem lavar as mãos, estou farto das falinhas mansas, enquanto vejo velhos na rua com ar apático e lhes leio no rosto o desânimo e a incompreensão com o que lhes dizem.
Qualquer dia rebento e depois não me venham pedir calma, porque vai tudo a eito.
João da Ega
