
Há pelo menos 37 anos que conhecia pessoalmente o Zé, Ramôa Ferreira. conhecido por «Zé brasileiro» na voz de Alexandra, poema de Lima Couto e música de António Sala.
Permito-me aqui realçar o seu activismo em prol da cultura, seja através da Casa-Museu Vasco de Lima Couto, seja com a fundação da Galeria de Constância (já extinta) ou mesmo na direcção do Clube Estrela Verde de Constância. Não esqueço também os espectáculos de beneficência que localmente promoveu.
Naturalmente, deve fazer-se especial referência à sua participação nos corpos sociais da AHBVC.
Na política sabemos da sua actividade no CDS.
A sua morte apanhou-me de surpresa e ainda não acordei para a sua notícia verdadeiramente.. Com alguma regularidade o visitava. Sempre que o Zè me via na rua de São Pedro, chamava-me do seu passadiço, para me mostrar alguma novidade, ora um poema esquecido ora uma publicação – a última era da Fundação José Saramago,
Homem de fortes convicções e personalidade nem sempre esteve de acordo comigo. Conversávamos muito e com muita elevação. Estava à espera de novidades do Zé sobre uma monografia de Punhete do século XIX mas agora já nada sei já nada posso esperar…
Nos últimos anos o Zé queixou-se-me de retirarem as placas sinalizadoras da Casa-museu sob a alegação de que teria de pagar para esse efeito, o que o revoltou imenso e com plena razão! Mas protestou há tempos pelo facto de não serem para lá encaminhadas como dantes as visitas turísticas. Mas o Zé estava sempre disponível para receber os visitantes. Mandei para lá bastantes.
O Zé não precisa de homenagens extemporâneas hipocritamente politizadas. O Zé não precisa de lutos municipais…
Conhecia bem o seu juízo político e social das lides locais. Se ele estivesse vivo não hesitaria em responder à letra e na justa medida aos oportunismos…
Enquanto as pessoas são vivas…..
Bom… adiante!
Nos anos 80 sofremos os dois um perigoso acidente, caindo duma ponte abaixo dentro duma viatura. O Zé, após cair, fumou um cigarro.
Tenho muitas histórias do homem que trazia aqui a Constância presidentes da República, reuniões privadas de generais (…) e que era amigo por exemplo de pintores como Francisco Relógio, Mário Cesariny, Artur Bual, Martins Correia, ou dos arquitectos Burle Marx, Óscar Niemeyer ou Lúcio Costa, entre tantos outros, escritores e poetas como Manuel Mengo (Lima Couto não precisa de ser citado).
Era assim o Zé. Não quereria certamente mordomias municipais. Tanto mais extemporâneas. Eu conhecia bem o Zé. A melhor homenagem que alguns autarcas devem fazer-lhe é… ficarem bem caladinhos…
Vou sentir um vazio em Constância.
«BASTA PUM BASTA». Morra a hipocrisia autárquica ! Morra! Pim!
José Luz (Constância)