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Em fevereiro de 2021, ainda sob a vigência do executivo camarário anterior, foi aprovada em reunião camarária, a minuta de contrato de depósito a celebrar com a Fundação Museu Nacional Ferroviário, FMNF, a cedência de uma locomotiva a vapor de 1913, numerada com CP 294, para ser instalada na rotunda de S. Miguel junto ao parque com o mesmo nome, Rio Diz.

Segundo informações vindas a público, a locomotiva que se encontra em estado bastante precário de conservação, há várias décadas abandonada na estação das  Devesas Gaia, com outras congéneres praticamente no mesmo estado de conservação, foram as mesmas ali estacionadas com o intuito de serem preservadas para integrar o espólio do Museu Nacional Ferroviário, MNF, dos últimos exemplares do vapor a funcionar no norte de Portugal, quando o mesmo foi dado por encerrado por parte da CP, então Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.

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O seu processo de recuperação, ou no mínimo de recato, foi sendo protelado ao longo dos tempos sendo a opinião pública confrontada com esta decisão, de recolocar aos elementos, uma peça única e histórica, de inqualificável valor patrimonial.

Não deixa de ser surpreendente que esta decisão tenha merecido o acórdão da FMNF, um órgão museológico de representação nacional ao dar o seu acórdão a tal decisão, quando, o mínimo exigível, seria envidar todos os esforços para que a referida locomotiva, e as restantes, fossem sim preservadas em espaços adequados, e não desbaratadas desta forma.

Importa recordar que inicialmente não era esta locomotiva a vapor a indiciada para ser colocada na Guarda, mas sim uma locomotiva diesel, da série 1550, muito ligada à história do caminho de ferro da Beira Alta, um veículo que não sen peça única, reúne características diferentes para ser exposta aos elementos.

Ao que consta, o município do Barreiro ter-se-á oposto a tal decisão, pelo que a CP, Comboios de Portugal e a FMNF, deram o seu aval à escolha desta peça única, quando poderia ter optado por um veículo de outra série, ainda com exemplares repetidos.

O 6 de Setembro, Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa, ao tomar conhecimento desta decisão, manifestou desde logo a sua oposição frontal à cedência desta locomotiva a vapor, não apenas pelas razões já apresentadas, mas por entender que a colocação de veículos ferroviários aos elementos, não se coaduna com os padrões que a preservação de veículos ferroviários exige, facilmente deterioráveis. Veja-se o que se passa com a locomotiva BA 101 exposta em Vilar Formoso, apesar de resguardada, já apresenta visíveis sinais de degradação.

Estas posições foram apresentadas de viva voz ao edil da Guarda, onde se sugeriu que seria preferível construir um parque interativo temático, ligado à ferrovia, no parque de S. Miguel, até porque a CP dispõe de veículos adequados que poderiam ser cedidos com essa finalidade, optando desse modo por uma museologia ativa, e não meramente expositiva. O pedestal já construído, poderia assim ser aproveitado para nele instalar um memorial dedicado à emigração, onde esta cidade e o caminho de ferro assumiram um papel fundamental e histórico, ainda não patenteado na localidade em apreço.

O 6 de Setembro, associação de defesa patrimonial, apela a todas as entidades envolvidas, CP, FMNF, Município da Guarda, Presidente da República, Primeiro Ministro, Ministro das Infraestruturas, Ministra da Cultura e entidades afins no sentido de rever e inverter esta tomada de decisão, um atentado ao património industrial português.

 

  1. J. Pinto Pires

1º presidente comissão executiva instaladora do Museu Nacional Ferroviário

Membro de O 6 de Setembro, APAI, APPI-TICCIH e ICOM.

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