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Maria da Guia Asseiceiro teve uma coluna no jornal “O Entroncamento” de seu nome “Janela sobre a cidade”, cujos textos voltamos a publicar.

Locais típicos

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Como todos nós sabemos a água é um bem limitado. A facilidade de abrir a torneira e a água cair a jorros, como por magia, leva-nos a não atribuir todo o valor que lhe é devido. Quando, nas noites cálidas ou nas frescas madrugadas de Verão, o “Zé Povinho” para se abastecer do precioso líquido recorria às nascentes do Bonito e do Castelhano, quando o cântaro sobre a “rodilha” se equilibrava na cabeça das mulheres e os garrafões pesavam nos braços dos homens, quando as crianças palmilhavam a seu lado longas distâncias, a água era um bem que se estimava e poupava.

Hoje, a comodidade e a abundância do momento fazem esquecer um princípio fundamental da sabedoria popular:

“Quem não poupa a água e a lenha, não poupa nada que tenha.”

Esbanjam os munícipes por um lado, e, por outro é a própria autarquia, que esquece e desperdiça, as suas nascentes!

No Bonito diz-se que os eucaliptos inquinaram a água, no Castelhano os detritos dos suínos poluíram-na por infiltração. Se isto for verdade… É pena!

Recordo aquele carreiro estreito de terra batida, ladeado de silvas pródigas em amoras silvestres, em frente da Quinta da Ponte da Pedra… Era o caminho para o Castelhano. Nele se cruzavam num corrupio gente de todas as idades. Miúdos e graúdos aproveitavam o local para viver e conviver no curto espaço de tempo do encher de uma vasilha.

Mãos engenhosas cravaram na terra húmida da nascente uma telha de barro e por ela corria a água pura e fresca da tosca bica.

Debaixo das acolhedoras árvores ouvia-se o chilrear dos pássaros, o murmúrio do vento e o gargalhar das águas!…

Ninguém saía dali sem beber um copo de água que passava de mão em mão.

Contava-se mais uma história e repetia-se a Lenda:

“- Naquela gruta que está a poucos metros da fonte, quase coberta de terra diz-se viver nela uma Moira encantada. Pela calada da noite sobe o fosso, espreita à janela que lhe serve de porta… se não vislumbrar ninguém, vem lavar-se na água da fonte. Os Castelhanos prenderam-na ali… e a nascente é formada pelas muitas lágrimas por ela derramadas ao longo dos séculos. Quando esta mulher de procedência mourisca encontrar, por acidente, alguém que lhe ofereça um copo de água, arrepia caminho… Quebra-se o encanto e seca a fonte.”

É curioso! Quando vinha de regresso com a minha pequena bilha de barro na mão, os pirilampos saltavam e esvoaçavam luminosos e sempre acreditei que eles eram as lanternas que iluminavam o caminho da desditosa Moira.

Maria da Guia Asseiceiro

(1994)

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