Ao final da tarde deste sábado, no Cineteatro São João no Entroncamento, cheio de amigos, familiares, ex-alunos e ex-colegas, o escritor e jornalista, reformado do ensino,  Manuel Fernandes Vicente apresentou o seu novo livro Música nas Cidades  ̶  Folk, rock, estilos étnicos e polifonias da Terra. Trata-se do último volume da tetralogia a que o autor se dedicou nos últimos anos e consagrada à interrelação que naturalmente se estabeleceu ao longo do tempo, e sobretudo no último século entre o carácter histórico, económico, social, político, religioso e urbano, entre outros, de algumas importantes cidades do planeta e os ritmos e poéticas dos estilos musicais que nelas se geraram, e resultantes do simples pulsar da dia-a-dia das suas gentes. Na mesa de apresentação estiveram a vereadora Tília Nunes, o antropólogo e ativista cultural João Carlos Lopes, e os professores de Literatura Maria José Ventura, José Manuel Ventura e Arnaldo Lopes Marques, além do autor. Na apresentação da obra, com a chancela da editora Emporium, houve ainda lugar para uma prestação da violinista Inês Fernandes Alves.

Manuel Fernandes Vicente procura nos seus textos elos, causalidades e conexões que evidenciam as cumplicidades entre alguns centros urbanos e os estilos, os instrumentos e até atitudes e tensões entre os grupos sociais que aí se desencadearam. A abordagem de caracterização de cada capítulo passa também em revisão os músicos que se salientaram como pioneiros ou pelo virtuosismo, e ainda por múltiplas e curiosas histórias (e quase-lendas) que se foram desenvolvendo no âmbito da própria evolução dos géneros musicais.

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O livro chega a todos os continentes, aborda ritmos mais comuns e outros menos conhecidos  ̶   e integra, entre outros, os ritmos dos Bauls de Calcutá até Shantiniketan, o post-punk de Cardiff,os electrotangos de Buenos Aires e Montevideu, o canto a tenore das urbes da Sardenha ou os “infames” cantos dos skomorokhi de Moscovo e Kiev, as magníficas polifonias de Tbilisi e a narrativa desconcertante em torno dos encantadores de serpentes da cidade indiana de Jaipur. Em relação a Portugal, cuja diversidade também é manifesta nas suas toadas e ritmos, o autor refere-se aos casos das populares adufeiras de Idanha-a-Nova, ao superlativo exotismo dos carrilhões de Mafra, ao cante ao baldão de Castro Verde, ao metal de protesto do eixo Almada/ Barreiro/ Moita/ Seixal e à cena avant-garde lisboeta. Em quase todos os 57 estilos, que são outros tantos os capítulos em que o livro se divide, são destacados dez álbuns, que por várias razões se tornaram notáveis e representativos. E ainda canções que, a título do seu gosto pessoal, o autor recomenda ou sugere aos leitores, e que hoje estão facilmente ao acesso de todos através dos canais de música da Internet, como o Youtube, o Napster e o Deezer, entre outros. Músicas belíssimas e que não envergonham nada a Humanidade, como Chakrulo, O Bruxo da Montaña, Camel. Blue’s Gaen Oot O´the Fashion (live at Abbey Road), The Dog-End of a Day Gone By ou Soria Maria e Twelve Moons, só como exemplos…

“Não sendo propriamente um livro sobre música nem sobre cidades, o que temos em mãos é antes uma extraordinária viagem pelo mundo, de cidade em cidade, através das músicas que nelas se fizeram ou ainda se fazem e se tocam, cantam ou dançam, guiando-nos pelas ruas ímpares e pelos recantos incomparáveis em que se foi forjando a identidade de cada uma — e, sendo parte inseparável dela, a música com que as cidades falam aos seus e ao mundo”, refere o historiador e investigador cultural António Matias Coelho no prefácio deste novo capítulo acrescentado à tetralogia Música nas Cidades.

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