Ass.: – Reclamação pela brusca descontinuidade e falhas de medicamentos nas Farmácias
Ex.mos. Senhores;
Recebi o V/mail em resposta ao assunto por mim colocado a esse Instituto do Medicamento, que muito agradeço. No entanto, devo dizer-lhes, francamente, que o conteúdo do mesmo não me agradou, diria quase na sua totalidade!
A chamada “Vox Populi” diz-nos, invariavelmente, que grande parte dos organismos reguladores – Autoridades que, entretanto, foram criadas pelo Estado com a finalidade de regular as diversas actividades da vida Pública do nosso País, protegem normalmente o regulado, em detrimento do comum cidadão contribuinte.
Não pretendo com isto dizer, que o INFARMED seja um desses organismos medido por esta mesma bitola. Mas confesso que o conteúdo das respostas que me foram dadas no V/mail, de 30.07 do ano em curso, me deixaram bastante desiludido e algo apreensivo com a aparente falta de eficácia dessa Instituição, acerca do assunto em apreço, visto terem ficado muito aquém do que esperava da parte de V. Exas.
Em primeiro lugar, por não ter visto ali uma única palavra de conforto desse mesmo Instituto Público, em relação ao enorme desconforto que as constantes e censuráveis suspensões ou descontinuidades de medicamentos veem causando ao comum cidadão deste País, mormente aos economicamente mais debilitados, e até mesmo aos vários médicos que os prescrevem e aos farmacêuticos com quem diariamente contactamos nas respectivas farmácias! Estou a lembrar-me, concretamente, do “Tirax” 0,1mg, medicamento vital no combate ao tiroidismo, que há já alguns anos era tomado pela minha esposa e, num ápice, quase por magia desapareceu do mercado, deixando-a bastante nervosa e preocupada…
Uma vez que o seu Endocrinologista de então morava no Porto, bem longe do Entroncamento onde residimos, já poderão V. Exas. imaginar os transtornos e os riscos que tal decisão então lhe causou, visto que a mudança de medicamento não se pôde operar assim tão rapidamente como o desejado!
Mais recentemente, sucedeu o mesmo problema, desta feita com o Eutirox 0,088mg, um dos substitutos do então desaparecido Tirax 0,1mg. Em certos Postos de Saúde, nomeadamente nos da Sãvida, também eles tutelados pelo SNS, o sistema informático não conseguia imprimir o tal Eutirox 0,088mg, alegadamente por descontinuidade, e apenas disponibilizava o Eutirox 0,075mg, facto que lhe provocou novo transtorno, visto estarmos em férias, bem longe de casa e do actual médico assistente – cujos consultórios se situam em Lisboa ou Vila Franca de Xira.
É claro que se têm ouvido relatos e clamores deste género, vindos das mais diversas pessoas, dizendo que este fenómeno se tem passado com outros tipos de medicamentos que andavam a tomar e que também foram abruptamente descontinuados! O jornal “Correio da Manhã”, de 20 de Agosto do ano em curso, disso nos dá conta em grandes parangonas, dizendo-nos que só e apenas no ano 2018 faltaram 64,1 milhões de embalagens de medicamentos pedidos nas farmácias pelos doentes!!!
Diz-nos também o mesmo jornal, que boa parte da culpa destas falhas, estará relacionada com o facto de uma única fábrica produzir o mesmo tipo de medicamento para vários laboratórios! Será que a isto não se poderá chamar um caso de monopólio? Até mesmo recentemente na Internet um determinado médico teve aquela coragem que a outros tem faltado, pois veio a terreiro falar em negócios mafiosos com os medicamentos, facto que muitos ainda teimam esconder.
Ora, se existe uma Lei emanada do Governo, que prevê que o distribuidor seja obrigado a dispor permanentemente de medicamentos em quantidade e variedade para fornecimento do mercado, porque razão não intervém aqui o IMFARMED?
Depois, estranhei o facto de o INFARMED dizer que desconhece o soluto digestivo da marca Stago, produto que já se vinha vendendo há décadas nas farmácias, primeiro em embalagens de 6 unidades e, nos mais recentes anos, em unidoses!
Quanto ao KEMPHOR, também não foi totalmente clara a resposta de V. Exas. Disseram-me que a firma entrou em falência. Mas, o que é certo, é que o mesmo produto se passou pouco tempo depois a comercializar em embalagens muito mais pequenas, com diferente formato, mas com preço muito mais elevado! Será caso para dizer: – Santa falência!
O mesmo parece estar a passar-se com o ANSILOR 1mg. Ao que costa, pelos vistos, a produtora deste medicamento foi adquirida pela firma “GENÉRIS”., empresa que se dedica à produção de genéricos. Agora, para além de terem acabado com a embalagem de 60 comprimidos, passando-a apenas para 20, aparece-nos também nesta nova caixa amarela do Ansilor original a palavra Genéris, em letras miudinhas a vermelho. Ora, como a própria “bula” e as respectivas plaquetas que comportam os novos comprimidos têm também escrita essa mesma sigla, é compreensível e natural que tal situação crie uma certa confusão nos respectivos utentes, e que o aludido medicamento (por indução) não lhes seja credível e, portanto, deixe de fazer o devido efeito que dele se espera! De facto, estes comprimidos inseridos nas novas caixas de 20 unidades partem-se todos ao corte, e derretem-se quase imediatamente na boca, após a toma!
Pessoalmente nada tenho contra fusões de empresas. Mas, tratando-se de firmas ligadas à produção de medicamentos, julgo que o caso deveria ser tratado com outras atenções por parte das autoridades da Saúde e do Medicamento. Suponhamos que laboram agora estas duas firmas sob uma única Administração, no mesmo local e que apenas dispõem de um único Armazém. Não poderá, no futuro, por negligência dos seus funcionários, haver a possibilidade (mesmo que remota) de uma troca de lotes desses dois produtos, quando da feitura das respectivas embalagens? Ou seja: não poderão aparecer comprimidos genéricos metidos em caixas de marca Ansilor, e vice-versa? De qualquer forma, será que ao comum cidadão não irá parecer muito estranha esta confusa convivência comercial entre firmas de genéricos e de marca?!
Curioso é verificarmos, que a única (?) “corporação de bombeiros” especialmente treinada para suster este tipo de gravosas situações – O INFARMED – se mantém tranquilamente aquartelada em seu “castelo”, sem que nos pareça demonstrar mais um pouco de vontade da sua parte, para saírem em socorro das aflitas populações, infelizmente atingidas por esta escandalosa catástrofe Nacional!
Parafraseando Pinto Monteiro, o ex-procurador-geral da República, também nos apetece agora perguntar: – Será que a propósito deste tão melindroso assunto, também o INFARMED tem apenas os poderes da rainha de Inglaterra?
AUTOR: Alfredo Martins Guedes 04.09.2019