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O Banco de Portugal colocou em circulação  no passado dia 5 de Junho , uma moeda de colecção com o valor facial de cinco euros, designada «Luís de Camões, 1524».

Segundo o comunicado daquela instituição é assim a descrição da dita moeda, passo a citar:

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«Anverso.

No campo central, o valor facial e o escudo nacional; Por baixo, a legenda “Casa da Moeda” e a indicação do autor; Na orla esquerda, a legenda “República Portuguesa” e o ano “2024”.

Reverso

No campo central, a efígie estilizada do poeta cego, com uma coroa de louros e uma gola típica do século XVI; À esquerda, a legenda “Luís de Camões”; À direita, o ano “1524”.

Tudo conforme a Portaria 440/2023 do anterior Governo, socialista.

O maior Poeta da Língua Portuguesa aparece retratado nesta moeda –  pasme-se de espanto a mais insensível das criaturas –  sem boca, sem nariz, mas se percebendo  os olhos.

A opção gráfica do autor, de péssimo gosto, mostra-se indigna. A imagem diz tudo sobre si mesma.

Com esta desfiguração do rosto do nosso Vate a anterior governação, socialista, produziu mais uma aberração administrativa (a juntar ao famigerado logotipo em boa hora substituído pelo actual Governo). A comissão dos 500 anos teve de vir recentemente a público denunciar a falta de verbas orçamentadas  pelos socialistas e a gente até fica a pensar na economia da estética da moeda…

Camões, poeta em tudo, multissensorial, votado agora pela numismática socialista ao silêncio (sem voz), surdo (sem ouvidos) e com o epíteto de «cego», ele que antecipava, via e projectava o mundo melhor que ninguém. Sim! Está lá o epiteto de «cego» na própria portaria.

A moeda é feia mas… já estará esgotada. E vem tornar oficial uma data de nascimento (1524) sobre a qual não há consenso entre os estudiosos. Maria Clara Pereira da Costa, antiga Conservadora do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, pôs em causa a famosa  «prova irrefutável» do chamado «assento da Cartório da Índia»  que Faria e Sousa (biógrafo camonista) cita em abono da data de 1524 alegando que… «este não o viu».   O historiador Mário Domingues  também afirmou de sustentou na sua obra camoniana que não existe esse  registo original. Faria e Sousa terá visto um  alegado extracto/cópia.

A antiga historiadora, então colaboradora da Associação da Casa de Camões, defendeu uma tese (publicada na obra «Casa de Camões em Constância»)  sobre a alegada paixão do poeta por «Belisa», Isabel Freire, da família dos Sandes de Punhete (actual Constância),    julgando ser prudente regressar-se à simplicidade da informação de Severim de Faria o qual, diz, tratara com Manuel Correia, o licenciado amigo e comentador de Camões, e que  afirma que o poeta nasceu por volta de 1517: “Nasceu Luís de Camões reinando El Rei Dom Manuel , pelos anos de 1517 (…) como o testifica Manuel Correia seu comentador , que o conheceu, foi seu familiar amigo(..)”In Obra de Manuel Faria Severim.

A nossa investigadora julga existir «uma prova textual irrefutável»  que pode pôr em causa a data do dito assento da Casa da Índia, leia-se, suposto, claro.

Em causa e para o caso, está um soneto de Camões dirigido a D. Teodósio, «grão sucessor e novo herdeiro do braganção estado». Segundo Maria Clara, aquele duque herdou a casa de seu pai por morte deste, ocorrida a 20 de Setembro de 1532, concluindo ser evidente que o soneto  foi escrito algum tempo antes: «Camões, se tivesse nascido, em 1524, teria àquela data 8 anos e portanto ao escrever o soneto teria no máximo 7 anos ou 7 anos e pouco, o que nos parece manifestamente impossível que tivesse feito, por muito precoce que fosse. Ou o soneto não é de Camões, ou o poeta não nasceu em 1524 mas alguns anos antes». Já agora, anota-se,  existem bons argumentos para se afirmar em como camões se referia precisamente ao 5º Duque e não ao 7º duque, homónimos. Para o caso de andarem a seguir Hermano saraiva nesta matéria.

Agarrado ao suposto escudo nacional aparece ainda nesta moeda de iniciativa socialista, um «crescente» símbolo associado ao islão. Sabemos que no hemisfério norte a lua «é mentirosa», e o seu «D» significa o quarto crescente…

Pior era impossível.

Sob protesto!

 

José Luz (ex-presidente do Conselho Fiscal da Casa de Camões).

PS – não uso o dito AOLP

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