A Câmara Municipal de Torres Novas aprovou, por unanimidade, em reunião ordinária realizada a 17 de novembro, um voto de pesar pelo falecimento de Bertino Coelho Martins, figura maior da cultura ribatejana. O presidente da autarquia, José Trincão Marques, esteve presente nas cerimónias fúnebres realizadas em Santarém, no dia 16, em representação do município.
Natural da freguesia de Lapas, Bertino Coelho Martins faleceu na véspera de completar 98 anos. O município recorda-o como “personalidade maior da cultura ribatejana” e “homem de grandes princípios e valores”, cuja obra se confunde com a própria identidade do Ribatejo.
Nascido em 15 de novembro de 1927, cresceu numa família humilde e iniciou a vida laboral como ferreiro. Desde cedo revelou talento musical, integrando a Banda das Lapas e destacando-se como instrumentista. A música acompanhou-o ao longo da vida, quer como paixão, quer como sustento. Dirigiu filarmónicas, ensinou instrumentos e animou festas populares, muitas vezes em dupla com a esposa Ivone. Em 1958 mudou-se para Santarém, onde iniciou funções na Câmara Municipal.
Pouco depois integrou a Biblioteca Municipal, instituição que viria a marcar profundamente. Após formação em Biblioteconomia, Arquivo e Documentação, assumiu a direção da Biblioteca em 1974, cargo que desempenhou até 1993, modernizando o espaço e tornando-o referência para investigadores e cidadãos.
Paralelamente, manteve intensa atividade musical e folclórica. Tocou na Banda dos Bombeiros de Santarém, integrou a Orquestra Típica Scalabitana e colaborou com grupos fundados por Celestino Graça. Foi maestro, compositor, intérprete e investigador das tradições musicais e coreográficas da região, recolhendo testemunhos e preservando saberes que, sem o seu esforço, se teriam perdido. Tornou-se referência nacional como etnomusicólogo e folclorista, sendo reconhecido em congressos e publicações especializadas.
Durante mais de duas décadas organizou os Congressos de Folclore do Ribatejo, representou a Federação do Folclore Português e fundou a Associação de Defesa do Património Histórico de Santarém. Publicou diversos livros, entre os quais Lapas, História e Tradições, O Fandango: raízes, disseminações e diversidade e Músicas e Danças Tradicionais do Ribatejo.
Após a aposentação, foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Marvila, cargo que exerceu durante dois mandatos. Recebeu várias distinções, incluindo a Medalha de Mérito Municipal de Cultura de Torres Novas, a Medalha de Mérito Cultural da Federação do Folclore Português e a atribuição do seu nome a ruas e espaços culturais em Santarém e Lapas.
Mais do que cargos ou homenagens, Bertino Coelho Martins é lembrado pela sua humanidade, generosidade e humildade, partilhando sempre o seu saber com quem o procurava.
O Município de Torres Novas apresentou condolências à família e amigos, e homenageou “um filho ilustre deste município”, guardando um minuto de silêncio em sua memória.















