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Confesso que não esperava grande coisa, mas a Marvel surpreendeu-me ao recuperar o lado mais leve e divertido dos super-heróis com Quarteto Fantástico: Primeiros Passos. Em vez da habitual pose cool e sarcástica de filmes como Guardiões da Galáxia, aqui temos uma comédia familiar meio maluca, passada numa Nova Iorque retro-futurista dos anos 60 — onde ninguém fuma, curiosamente.

A história acompanha o Quarteto Fantástico numa fase inicial das suas vidas (não é bem a origem), todos a viver juntos num apartamento tecnológico digno de séries como Bewitched ou I Dream of Jeannie. Os fatos azuis estilo pijama só tornam tudo mais caricato. Reed Richards, o “Mr. Fantastic”, interpretado por Pedro Pascal com uma voz mais leve do que o habitual, tem o poder de se esticar — embora o nome dele exagere um bocado. Ele vive com Sue Storm, a “Mulher Invisível”, interpretada por Vanessa Kirby, e juntos são quase como os pais de dois adolescentes: Johnny Storm, o “Tocha Humana” (Joseph Quinn), e Ben Grimm, o “Coisa” (Ebon Moss-Bachrach), que apesar de adultos, vivem numa espécie de estado infantilizado e alegre.

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A grande reviravolta? Sue está grávida, algo que o casal já tinha deixado de esperar. E, claro, surge a dúvida: será que o bebé vai herdar superpoderes a dobrar? Ou será que vai ter uma condição mais melancólica, como a de Ben Grimm, que vive com a sua aparência de pedra? Aliás, Ben está apaixonado por uma professora local (Natasha Lyonne), mas não se sabe se ela consegue ver para lá do seu aspeto granítico. E Johnny parece estar a desenvolver uma química romântica com a Surfista Prateada (Julia Garner), que chega à Terra como emissária do destruidor Galactus (Ralph Ineson), disposto a poupar o planeta… por um preço terrível.

Apesar de tudo, o filme funciona como um espetáculo divertido, num universo próprio cheio de fantasia e maluquice. Há até momentos meta em que personagens lêem os próprios comics dos Quatro Fantásticos. E embora o final envolva uma cidade gerada por IA a colapsar (sim, mais uma), pelo menos faz sentido dentro da narrativa e mantém o tom leve e descomplicado. Admito que sempre tive um fraquinho pela versão com Ioan Gruffudd, que hoje quase ninguém recorda — e este novo filme tem um espírito semelhante.

Visualmente, é um mimo. O design psicadélico dos anos 60 está por todo o lado, até nos filmes fictícios que passam em Times Square: The Emperor’s Twin da Disney e uma aventura estilo Alistair MacLean chamada Subzero Intel. Quando o bebé nasce, Ben Grimm aparece com um exemplar de Baby and Child Care do Dr. Benjamin Spock — um livro permissivo que mais tarde foi acusado de criar uma geração de preguiçosos. E Sue Storm, mesmo sem ajuda (a não ser um robô pequenino de olhos esbugalhados), parece incrivelmente bem para uma mãe recém-parida. Reed, o pai da família, nunca larga a gravata — às vezes até a enfia para dentro da camisa.

No fim de contas, é um filme bastante… tolo… mas é precisamente isso que o torna refrescante. E sim, ajuda a manter o género dos super-heróis vivo.

Em exibição nos Cinemas Castello do Torres Shopping – sessões às 19h00 e 21h25

Ficha técnica

  • Título original: Fantastic Four: First Steps
  • Realização: Matt Shakman
  • Argumento: Josh Friedman
  • Produção: Kevin Feige
  • Elenco principal:
    • Pedro Pascal como Reed Richards / Mr. Fantastic
    • Vanessa Kirby como Sue Storm / Invisible Woman
    • Joseph Quinn como Johnny Storm / Human Torch
    • Ebon Moss-Bachrach como Ben Grimm / The Thing
    • Julia Garner como Silver Surfer
    • Ralph Ineson como Galactus
    • Natasha Lyonne como professora local
  • Género: Comédia, Super-heróis, Fantasia
  • Estreia: 2025
  • Distribuição: Marvel Studios / Walt Disney Studios Motion Pictures

Ricardo Alves

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