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Já muito se escreveu sobre esta minissérie da Netflix, que tem sido um sucesso e está em primeiro lugar no top de visualizações desta plataforma de streaming.

É uma série britânica de 4 episódios, 60 minuto cada episódio. A série transporta-nos para uma pequena cidade onde foi cometido um assassinato de uma jovem rapariga.

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É forte, sim, dura, violenta, crua, filmada em plano contínuo. Leva-nos a refletir sobre que sociedade estamos a alimentar, que escola temos, que pais conseguimos ser.

E o interessante da série é também o seu realismo, o todo que comporta. A forma como é filmada, a intensidade ( escolha) dos personagens que tantas vezes mais parece que estamos a assistir a uma peça de teatro. O plano é único em cada episódio e “persegue” um personagem. No primeiro, o polícia que prende abruptamente, numa madrugada, um adolescente de 13 anos acusado de homicídio. A cena transporta-nos da casa da família, até à esquadra de polícia onde o adolescente é detido e interrogado. No segundo episódio, o realismo total da ida do inspetor à escola onde entra num mundo de bullying, agressões e dramas de uma turbulenta escola.

O terceiro passa-se numa sala de um centro de formação, oferece-nos uma perturbadora conversa entre a psicóloga e o adolescente acusado. É talvez o episódio mais revelador, em que raiva e violência vêm à tona. Um corpo de criança, imberbe, aparentemente inocente, carregado de ódio e raiva, sexualizado, quase perverso. A assumir a adolescência como um lugar definitivamente estranho.

O quarto e último episódio passa-se em casa do adolescente e tem como protagonistas os pais e a irmã, com especial enfoque no pai. A instabilidade, a fragilidade, a ausência desta parentalidade é revelada.

É, como dizem, uma série obrigatória, talvez retrate a fase mais delicada da vida dos seres humanos, a mais frágil e ao mais tempo mais estruturadora.

Viajamos para um mundo quase indecifrável de redes sociais, códigos partilhado pelos pares, emojis (as cores dos corações, a orientação do emoji, o comprimido vermelho ou azul, indecifrável para a geração de pais que cresceu com a referência de Matrix) tudo tem um significado, tudo pode ser uma ameaça ou uma agressão.

O ódio às mulheres, o repúdio destas em relação a eles, o que nos afasta quando nos devia aproximar. Os pais, assoberbados de trabalho, a deixarem os filhos crescer fechados no seu quarto, no seu mundo aparentemente seguro. Professores cansados, alienados, distantes das pessoas que todos os dias se sentam à sua frente. O grupo de pares segregado, hostilizado num bullying contínuo.

Não oferece respostas, não nos conforta. Levanta questões e inquieta-nos. O burburinho à sua volta é justificado, deixem-se levar, apreciem o desempenho dos personagens e o realismo das cenas.

Criada por: Stephen Graham, Jack Thorne

Atores: Owen Cooper, Stephen Graham, Ashley Walters, Faye Marsay

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