Sempre me venderam a ideia de que “mais vale arrependermo-nos do que fizemos do que aquilo que nunca fizemos”, como se tivéssemos uma carta branca invisível, que todos parecem ver. Como se valesse a pena arriscar tudo, mesmo que o resultado seja o vazio, e ainda assim, agradecermos por essa sensação de nada. O mesmo parece aplicar-se às palavras que dizemos. Porém, pergunto-me: de que vale falar, se o que dizemos não pode ser concretizado em ações?

Há um espaço entre o que dizemos e o que deixamos por dizer. Não por receio, mas exatamente por não querermos perder o controlo da situação. Nunca te aconteceu desabafar quase por instinto, numa tentativa de libertação? Sentias e tinhas a certeza de que isso te traria alívio momentâneo, mas o peso que viria depois seria muito maior do que simplesmente guardar tudo para ti. Bem dentro de ti. Sabes como se chama isso? Um espaço vazio, mas vibrante e poderoso, que ecoa mais do que qualquer palavra pronunciada. É nesse silêncio, quase como um segredo, que reside a verdadeira essência de quem somos. O eco do não-dito ressoa, não como um sussurro, mas como um trovão, mesmo nos dias mais soalheiros. É aí que a mudança começa: não na voz que se ergue, mas no silêncio que nos obriga a escutar. Escutar o que vai dentro de nós.

PUB

Vivemos numa era em que o ruído é constante, em que cada um de nós carrega uma espécie de megafone, ainda que ilusório, onde a conexão parece ser medida pela exposição apenas das partes boas da vida, mesmo que encenadas. E quando damos por nós, envolvidos numa rede estranha e perversa, o poder real já não acontece na partilha, mas sim na pausa. É aí que o não-dito se torna o mais eloquente dos discursos.

Lembra-te da última vez que estiveste com alguém em silêncio, sem pressa para preencher o vazio. Talvez tenha sido com um amigo próximo, uma paixão antiga numa noite de verão, ou até com alguém que acabaste de conhecer numa cidade que mal visitas. A pausa inicial é desconfortável. Não sabes como engolir a saliva, as mãos ficam inquietas, e a tua mente grita: “Diz qualquer coisa para quebrar este constrangimento!”. No entanto, nesse intervalo entre sons, é onde encontramos o que realmente importa. As palavras não ditas ganham vida e transformam-se em significado. Tornam-se o nosso espelho público, refletindo quem ainda vamos ser.

Ainda duvidas que isto seja verdade? Pensa em alguém que te marcou profundamente. Recorda como essa pessoa te fez sentir. O que te tocou não foi apenas o que disse, mas o que ficou implícito no silêncio entre os olhares trocados. Aquelas palavras que quase saíram, mas que voltaram para dentro. Porque, por vezes, o discurso mais poderoso é o que nunca chega a ser dito. E isso é algo que não se ensina.

É aqui que reside a beleza da mudança. Quando deixamos espaço para o silêncio, abrimos a porta à transformação. Quando escolhemos não preencher o vazio, permitimos que outros o façam. O que nos resta é uma profunda introspeção, um autoquestionamento que muitas vezes nos rouba o sono. É aquilo a que gosto de chamar “o verdadeiro encontro de almas”. A mudança acontece nas pausas, nas respirações profundas que tomamos antes de responder, nos olhares que dizem mais do que qualquer frase.

Talvez, no fim, o eco do não-dito seja o que mais nos transforma. Mesmo que nos custe a admitir.

PUB