Foto Lúcia Veríssimo

Na abertura do ano lectivo, o Agrupamento Escolas Cidade do Entroncamento, como é habitual, realizou, com as adequadas medidas sanitárias, um conjunto de iniciativas pedagógicas e culturais. Assim, entre outras, apresentou a exposição “Olhar para fora”, da autoria de Almerinda Pereira, docente da disciplina de Espanhol.

O fascínio da autora pela pintura começou bastante cedo e nunca mais parou, traduzindo-se numa notável produção artística, que vem apresentando em Portugal e no estrangeiro. Os quadros agora apresentados, em número de onze, têm como pano de fundo o confinamento associado a ambientes domésticos, onde habitam animais ou figuras que lêem, descansam ou estão à janela, numa atitude típica da imposição de permanência em casa.

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Nesta situação pessoal e intimista, a repetida alusão à janela reveste-se de particular significado, pela atitude diferenciada que suscita quem dela se abeira. Com efeito, a amplitude desse imaginário é sintetizada, de modo magistral, nos versos de António Gedeão: “Tenho quarenta janelas, / nas paredes do meu quarto, / sem vidros nem bambinelas, /posso ver através delas, /o mundo em que me reparto”. Com efeito, a janela aponta para uma abertura ao mundo, visto que é através dela que as figuras representadas contemplam a realidade nas mais diversas perspectivas de olhares e gestos; o poder sugestivo e apelativo de um horizonte interminável constitui, de facto, um convite explícito à indagação de quem observa os quadros. Esse espaço do lar, configurado no eixo de mobilidade visual sempre do interior para o exterior, representa um ponto de observação da diversidade do mundo.

É, assim, criada a força de cada imagem, num itinerário criativo que conjuga sensações, vida e memória, uma ampla rede alicerçada na capacidade de interpretar e dar sentido ao mundo. Almerinda Pereira apresenta, pois, um trabalho consistente, que, plasmado no poder encantatório convocado pela janela, se concretiza num imaginário norteado pela evasão e anseio de liberdade, presente sobretudo na projecção do olhar difuso das suas figuras para o exterior.

Esta iniciativa, registe-se, surge enquadrada nos objectivos do Plano Nacional de Artes, programa recente dos ministérios da Educação e da Cultura, cujo propósito fundamental é levar várias dimensões artísticas às comunidades escolares, desafio acolhido desde a primeira hora pelo Agrupamento da cidade. Deste modo, a exposição, patente entre 11 e 18 de Setembro, na Biblioteca da Escola Secundária, merece, a todos os títulos, ser vista e apreciada, pela oportuna consciência da fraqueza humana sentida nas vicissitudes do confinamento.

 

José Manuel Ventura

 

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