Há 109 anos, precisamente no dia 5 de Outubro de 1910, chegava a esta casa (actual número 36 da rua Luís de Camões), a notícia da implantação da República. O telégrafo estava instalado no rés-de chão e foi através dele que chegou a noticia. Era aqui então o posto dos correios, na Rua Luís de Camões. No primeiro andar morava o avô do escritor e jornalista Meira Burguete que à escuta logo soube de tudo . Quem me revelou este facto foi o próprio Meira Burguete. Quanto à história dos correios soube dela pelo cronista Joaquim dos Mártires Neto Coimbra e outros testemunhos.
Nesta época o administrador do Concelho mandou destruir os Passos da Vila, a Torre de Menagem e o Pelourinho. Vieram homens de Montalvo arregimentados para derrubar o Pelourinho, mas a notícia correu célere e os marítimos armados de varapaus defraudaram tais intentos. Tudo o que estivesse conotado com a monarquia era para destruir.. conta-se.. Mudaram nomes de ruas para republicanos , o padre teve de fugir para o Brasil só regressando mais tarde, atiraram imagens de Santos da ponte abaixo, e quis o destino que o mandante das destruições mais tarde ficasse com a Casa empenhada. Só na década seguinte veio de novo a bonança e fez-se promessa de pagamento. . A viúva- custeou um Te Deum com foguetes e uma Tuna de cegos e toda a Semana Santa em desagravo de tais actos.Toda a gente sabia disto há umas décadas atrás.
Até a procissão da Boa Viagem esteve suspensa.
E eu vejo com muito cepticismo o que alguns republicanos andaram a escrever nas actas …Anda por aí manipulação.
Tive oportunidade de entrevistar idosos que viveram nesse tempo, mesmo em concelhos como o de Gavião e ouvi relatos da miséria que assolava o povo rural durante a primeira República. Quem vive desgraçadamente não anda a cantar vivas a um regime que só os grandes centros urbanos sentiam verdadeiramente. Pode até ser que fizessem alarde da República da varanda da actual Casa João Chagas, mas quem tinha há pouco tempo recebido os reis da nação (Dom Pedro V e depois Dom Carlos I) sob apoteose, ponte engalanada– não teria por certo (o povo) grandes motivos para comemorar a República ainda no luto do regicídio.
Eu sei que havia em Constância um núcleo da carbonária. Quem era o cabecilha e onde estavam as armas. E se é verdade que aqui se reuniam nomes como António José de Almeida e outros, não é menos verdade que não podemos confundir a árvore com a floresta …
No documento cuja cópia tenho e reproduzo pode comprovar-se o jacobinismo do administrador do concelho, o qual perseguia o capelão da Santa Casa. Em nome da lei. O maior perseguidor da Igreja terá sido Afonso Costa, primo carnal da minha bisavó Mafalda Saraiva da Costa; eram os dois de Seia. A lei da separação da Igreja do Estado era o meio para “acabar com a religião em duas gerações”. Fátima, aqui tão perto, mudou o rumo da história. E o 28 de Maio fez o resto. Por cá, na vila, restaurada a liberdade de religião, sem censura prévia, o culto de Fátima rapidamente se fez sentir. O bispo diocesano – o último dos prelados a render-se a Fátima (após intervenção papal) não seria mais impedimento do culto mariano como tal. Mas os jacobinos ainda acusaram no parlamento a população de Constância de forjar aparições da Virgem Maria. Acusações fraudulentas (é ver a investigação publicada pela Católica). A República enquanto modelo de Governo democrático é uma conquista no sentido dos Direitos do Homem. Mas a história revela que foi instrumentalizada para aniquilar a Igreja e, nesse sentido, atentou contra os Direitos do Homem. É preciso não embandeirar em arco com este feriado. Este também é o dia da independência de Portugal. Caminho aberto com o tratado de Zamora. O nosso Rei fundador começou a prestar então vassalagem ao Papa e não ao imperador hispânico. Bom feriado.
José Luz

















