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  1. O que se sabe é muito pouco, esta é a única conclusão séria a tirar sobre o covid-19 e é difícil dizer se a atual situação se deve mais às medidas tomadas ou ao acaso. Nunca tantos opinaram sobre um vírus, desde epidemiologistas e virologistas a matemáticos, estatísticos e políticos passando pelos simples cidadãos, todos se sentiram à vontade para dizer o que quiseram porque sabiam que acontecesse o que acontecesse o risco era só o de poderem acertar. Fica a sensação que pouco sabiam do que estavam a falar, mas isso não os coibia nem coíbe de falar e opinar, o que só se desculpa ao comum cidadão. Dizer o mesmo e o seu contrário tornou-se tão vulgar que aos poucos, sem darmos por isso, deixámos de lhes ligar. E continuam. Passado todo este tempo ainda se sabe muito pouco sobre este novo vírus: como se transmite, quem o transmite, porque uns têm sintomas e outros não, como se imunizam as pessoas e se se imunizam, quais as consequências para a saúde dos infetados, etc., etc.. A comunidade científica falhou e ainda não reconheceu que anda às apalpadelas à espera de acertar e nesta deriva acaba por não se concentrar e utilizar o pouco que sabe com algum rigor. Este vírus tem conseguido trocar-lhes sempre as voltas, ora se transmitindo com uma rapidez imprevisível e de toda a maneira e feitio, ora sendo menos ativo e retardando a transmissão. Todos os dias continuamos a ouvir que vai haver uma nova vaga e logo a seguir que isso não é provável.
  2. O desconhecimento levou à tomada de medidas ao sabor do vento e do tempo, com medo de errar e por isso geralmente rígidas e sempre “à defesa”, pois é mais fácil ser “rigoroso” que ser corajoso e correr riscos nas decisões que podem ter consequências políticas, mas é isso de distingue os políticos, os bens dos sofríveis e medrosos mas que infelizmente vão singrando na vida e nós toleramos. É como o ministro das finanças que é rigoroso e corta nos custos de forma cega, não custa nada, o difícil é fazer opções e correr riscos de que possam resultar desenvolvimento. Foi o que foi feito pela DGS / Ministério da Saúde, por isso é duvidoso que tenha corrido bem por cá, pois nada se fez com antecipação e assumindo responsabilidades, tudo foi feito sempre a reboque dos acontecimentos e pressionado pelo que iam dizendo de forma errática os especialistas com pouca humildade para reconhecerem a sua ignorância. A mensagem que nos continua a ser transmitida diariamente é confrangedora, confusa inútil e muitas vezes contraproducente, não se compreendendo neste momento.
  3. O pouco que se sabia com algum rigor nunca foi considerado nas medidas tomadas e isso poderia ter feito a diferença. Soube-se desde o início da pandemia que os mais velhos e com problemas de saúde eram os mais afetados, por oposição aos mais novos e saudáveis, a quem o vírus praticamente não afeta e muito poucos apresentam sintomas e no entanto isso nunca foi considerado nas medidas adotadas. Mesmo sabendo isso tratou-se logo de dizer que os mais novos eram transmissores privilegiados e toca a trancá-los em casa, o que ainda está por provar. O medo tolheu totalmente o raciocínio dos decisores que, repito, fizeram o mais fácil sem que ninguém lhes assaque responsabilidades. Está ainda por se saber quantas pessoas morreram ou vão morrer por o SNS ter simplesmente fechado as portas durante o período de emergência e até mesmo antes e depois, de uma forma irresponsável e no entanto aceite genericamente por todos. As cirurgias, os exames médicos e as consultas que não se fizeram, as urgências não atendidas, os doentes despachados para casa pelos hospitais com um zelo desmedido, o acompanhamento de doentes que não foi feito, tiveram e vão ter consequências funestas. Os hospitais estiveram vazios e os médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, estiveram sem nada para fazer, exceto os dedicados à covid-19 e mesmo esses a meio gás. Entretanto hoje morreram mais 7 pessoas devido à covid-19, numa sequência que não se explica e ninguém nos diz como e onde morreram, 1492 pessoas ao todo, velhos com certeza, vidas! Não, não vamos ficar todos bem e não correu bem.
  4. Por cá, no Entroncamento, montaram-se camas de campanha quando os outros começaram a montar hospitais de campanha, não fosse o diabo tecê-las; distribuiu-se uma máscara, uma por agregado familiar, nem sequer uma por velho ao menos e que mesmo assim nem todos receberam; isentaram-se as esplanadas de taxas porque a oposição pediu e o presidente distraído deu-lhes essa bandeirinha de que já se arrependeu; o mercado semanal continua fechado, porque apareceram mais um ou dois casos positivos, mais um menos um, mas que importância é que isso tem? É o que temos, não se passa nada.

João da Ega

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