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O abandono das populações dos territórios ultramarinos consistiu em entregar o poder aos movimentos terroristas que sustentaram a luta armada contra o regime administrante português. Permitindo a apropriação do poder por certas ideologias e seus correspondentes dos sistemas totalitários. A descolonização fez-se sem se auscultar a sociedade civil ou seja, contra os seus interesses. No caso de Angola, Rosa Coutinho, pró-comunista, armou uma armadilha a Spínola (federalista) ao envolver-se em Angola, com o MFA local e ao obter o apoio de cerca de 500 oficiais. Tornando-se um dos protagonistas que iria ditar o rumo do processo sobre o futuro de Angola. Sabemos que em Setembro Spínola resignou. E que o seu discurso foi censurado em Angola. A esquerda sabia que só o afastamento de Spínola permitiria mudar o plano de descolonização para Angola. Para que a aliança MFA-PCP descolonizasse a seu modo…

No dia do livro aconselhei publicamente a leitura da obra «Segredos da descolonização de Angola», da jornalista Alexandra Marques. Recomendo em particular, a leitura da parte sobre o anexo secreto do Acordo de Alvor, a recusa da “amnistia”, do tal “perdão” aos portugueses e administrados em Angola que, no limite, permitia na prática chacinar os portugueses que estavam ainda em Angola. Só acreditei depois de ler. A delegação do Mário Soares acabou por aceitar que os ditos «movimentos de libertação» não se comprometessem com uma amnistia formal irrevogável e, mais, deram assim carta branca aos ditos movimentos para definir o que eram “actos criminosos” alegadamente contra o “povo angolano”. Mário Soares e os seus, conformaram-se com esta rejeição E exigiram que não se tornasse pública, tendo-a omitido aos jornalistas. Não foi lida esta parte do acordo de Alvor. A versão que acabou votada e aprovada em Alvor, em que os ditos movimentos admitem conceder perdão a todos os que tivessem integrado organizações militares e para-militares, por iniciativa da autoridade colonial, não é uma certeza. O que se lê é o seu contrário. Se se admite um perdão eventual é porque houve crime. E é aí que Portugal é delator dos seus. Savimbi exigiu que esta parte, sendo secreta, então, nunca deveria ser lida. Está bom de ver. Um perdão que não o é de verdade. Como se poderá garantir um perdão se o governo seria sempre transitório? E, depois? Não havendo lei nem publicidade desse tal eventual perdão que garantias ele daria à população? É a hipocrisia dos políticos no seu melhor. A história veio revelar a credibilidade desses tais líderes africanos. Não há clemência nem perdões. É à catanada!… No fundo, ninguém confiava em ninguém e todos tentavam salvar a face. A diplomacia com terroristas dá nestas coisas. E não choca os políticos. Só nos choca a nós.

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É mau demais! É traição àqueles que juraram fidelidade a Portugal, enquanto potência administrante. É abandonar as populações à sua sorte. Em nome de que princípios?

Este acordo é um crime contra a humanidade. Porque ao rejeitarem comprometerem-se publicamente com uma amnistia os ditos movimentos e a delegação portuguesa rejeitaram precisamente comprometer-se com a Paz. Nem sequer aceitaram comprometer-se formalmente com uma «clemência» geral, a ser publicada.

O Governo português saído da revolução torna-se assim delator dos próprios portugueses, numa clara violação do direito internacional. Por não garantir a proteçcão dos direitos do homem através das instituições e de forma pública, válida.

O resultado destes acordos? Já se conhece. Uma tragédia. A dos retornados e dos refugiados e a tragédia da guerra civil.

Se a liberdade de uns implica a morte de milhões de africanos nas décadas que se seguiram, então, não é verdadeira liberdade.

É um engano. A miopia política revelou-se numa mortandade fratricida. Ainda hoje estamos a pagar a factura. E os africanos? São as principais vítimas!

O 25 de Abril deu origem a uma tragédia política e social nas colónias.

Só por puro egoísmo ou ideologia cega poderemos ignorar as consequências desta aventura para as populações ultramarinas.

25 de Abril sempre, apesar de tudo!

Que os erros cometidos sejam motivo para se fazer justiça.

Sempre olhei para a Revolução de forma crítica.

A nossa Constituição defende a solidariedade entre os povos. E nós passamos a vida em almoços e discursos a olhar para o umbigo.

Os erros e crimes da descolonização ou secessão são matéria independente dos crimes hediondos praticados durante o Estado Novo. Um erro não desculpa ou justifica o outro. Mário Soares e Almeida Santos, Jorge Sampaio mais o Cravinho andaram a fazer diplomacia paralela quer a Spínola, quer a Costa Gomes. E o que dizer de Rosa Coutinho?

Bem tentam e tentaram defender-se, os ideólogos de Abril, argumentando que se fez o que foi possível.

Nós sabemos que tentam salvar a pele. Desde o início deste processo criminoso que Mário Soares rejeitou que as populações das colónias pudessem exercer o seu direito à autodeterminação. Dizia que era «independência pura e simples». Em parte alguma do «Programa do Movimento das Forças Armadas» constava que se iria dar a independência às colónias. Esse «D» não estava lá, como até admitiu Álvaro Cunhal.

Os milhões que morreram nas guerras civis nas antigas colónias que se seguiram, merecem mais respeito.

A documentação secreta que tem sido publicada nos últimos dez anos faz-nos pensar que a procissão ainda vai no adro…

Marcelo Caetano foi sábio e prudente na forma como actuou no dia 25 de Abril.

Sabedoria e prudência são competências que aqueles que promoveram o abandono do ultramar já não conseguiram revelar.

Porque estavam comprometidos até à raíz dos cabelos com os protagonistas da guerra fria. Não tinham alternativa quanto à inevitabilidade da descolonização? Os ingleses conseguiram um modelo alternativo.

Marcelo Caetano tinha em curso soluções de autonomia e apenas a situação na Guiné era a mais preocupante. Mas esse caminho tinha de abortar forçosamente pois ia contra os interesses geopolíticos das grandes potências…

Entrámos para a União Europeia.

O mundo mudou. Mudaria sempre

Quando se compara o Portugal do 24 de Abril com o que se lhe seguiu, vêm à baila as estatísticas da escolaridade e da taxa de natalidade e, claro, a liberdade, a dignidade da pessoa humana.

Nesta marcha da história, não temos como negar que era preciso uma nova ordem para os territórios ultramarinos e direitos dos povos.

O sistema político estava cansado. O país já não conseguia suportar a guerra, em particular na Guiné. Dessem então a palavra aos povos.

Tinha havido várias tentativas de alterar a situação e era uma questão de tempo, dizem…

Ainda assim, nada justifica a tragédia do abandono do ultramar. Só na Guiné o Governo de Portugal dito revolucionário terá permitido que se fuzilassem cerca de 600 comandos. Abandonou-os à sua sorte. Enganou-os.

Conheço pessoas que me relataram que os batedores dos líderes apareciam nas estradas «limpavam» toda a gente com rajadas para que a zona ficasse «limpa» para os chefes dos ditos «movimentos de libertação» passarem de seguida em segurança… Um verdadeiro terror. Nas negociações dos tais «acordos de libertação» os ditos movimentos exigiram que não houvesse «brancos» no novo governo transitório. Só quem não viu e ouviu falar os retornados é que pode ignorar o drama que muitos viveram nesta fase.

Não se podia evitar o processo de autodeterminação dos povos. Porém, a forma seguida veio revelar que a oposição não estava preparada nem à altura das exigências. Prepararam muito bem os primeiros dias da revolução mas esqueceram-se de preparar as «aulas» até ao final do curso…

Dirão que nesta situação ninguém estaria sempre a contento de todos . E que os protagonistas fizeram o seu melhor e que não havia outros…

Os documentos recentemente desclassificados pelos EUA também revelam muitas mentiras e incompetência dos protagonistas portugueses de então. E oportunismo. Pessoal e político.

O Verão quente marcou os territórios políticos.

Viu-se bem que mais do que querer a liberdade para o povo o que queriam era impor o caminho do socialismo à sociedade. Que não redundaria propriamente em liberdade.

49 anos depois de Abril continuamos a desconhecer a motivação de muitos comportamentos. É essa a parte sinistra de Abril de que não gosto.

Suspeito que a liberdade é um mero slogan.

Todos os dias nos cerceiam a liberdade. Temos na política um bando de oportunistas. Saem uns e entram os seus descendentes…

Depois de ser eleitos, os políticos, acomodam-se e fragilizam as instituições democráticas.

Não gosto dos gajos e pronto!

José Luz (Constância)

PS – não uso o AOLP

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