O professor e jornalista Manuel Fernandes Vicente apresenta este sábado às 17h 30 no Centro Cultural do Entroncamento o seu novo livro, O Vento das Sete Serras. Na sessão de lançamento da quinta obra do autor entroncamentense participarão o presidente da Câmara do Entroncamento, Jorge Faria, os professores de Literatura Portuguesa da cidade, Maria José Ventura e José Manuel Ventura, que farão uma análise do conjunto de textos que integram o livro, e um representante da Emporium Editora, a editora responsável pela obra, para além, naturalmente, do autor.
As serras do país, com os seus lugares mágicos e abandonados ao silêncio, as singularidades que cada uma sabe manifestar e que a inteligência coletiva dos que nelas vivem transforma em rasgos de génio, os seus mistérios e os seus mundos pequenos, diferentes e genuínos, que têm grandeza, mas estão a desaparecer, tal como as pessoas que nelas habitam, são a tónica dominante da obra. O Vento das Sete Serras sopra sob um mundo belo, repleto de histórias, de lendas e de muitos segredos que, como nos testemunhou Manuel Fernandes Vicente, em diversas circunstâncias teve a sensação de estar a recolher e a ouvir, como numa última oportunidade, o que alguns serranos mais idosos tinham para dizer, não só por ser saber que vinha dos seus avós, como por ser emoções sentidas por parte dos que prenderam toda a sua vida às montanhas, vivendo do que delas sabiam e podiam extrair.
“É bela, dura e calva, quase sempre despida para cima nas maiores altitudes, por vezes com colinas suaves e tufos vegetais aveludados em suaves matizes de verdes, amarelos, castanhos e violetas, outras com prados frescos e prenhes, noutras alturas ainda com abismos à beira de estradas apertadas e picos impressionantes que parecem desafiar-se entre si. Se não pede meças em grandeza à sempre magnânima Estrela, pede-as sem presunção em mistérios, cismas, raridades e exotismos com que a Natureza no seu artesanato demorado e indeterminado a decidiu contemplar”, escreve Manuel Fernandes Vicente num dos capítulos referentes à serra da Freita, de que conta episódios e histórias descritas por quem as viveu há muitos anos, e agora as quer contar. “É um mundo excêntrico o que sobrevive na magnífica serra da Freita, seguramente uma das mais ignoradas do país, e também uma das que mais prometem compensar quem nelas procura a aventura e sobretudo deseja perder-se naquele labirinto de vias, trilhos e atalhos”.
Segundo o professor de História Alexandre Couto, no comentário incluído na obra, “O Vento das Sete Serras acicata a curiosidade, condu-la por caminhos mágicos e de uma maneira inusitada, e sob uma perspetiva única, leva-nos a um certo sentido da vida. A escrita é magistral, mescla de prosa e poesia, montanhas humanas povoadas dos seus escultores, segredos, lendas, locais, mistérios, tradições, cultos. E para o investigador António Matias Coelho, que prefacia o livro, “Manuel Fernandes Vicente é um achador de histórias. E um mestre da arte de as contar. Calcorreia caminhos improváveis, vai a sítios que muito poucos conhecem, observa com o olhar arguto e treinado de quem anda nestas andanças há muito tempo, capta o espírito do lugar, fala com quem lhe possa completar o conhecimento, investiga, estuda, documenta-se – e depois escreve”.
Caminhos e Paisagens Culturais, Costumes, Fés, Credos e Crenças, Rostos e O Espírito do Lugar são alguns dos temas aglutinantes abordados pelo autor, que neles reflete numa dimensão psicogeográfica sobre os sítios, os faróis, mosteiros, palácios e outros monumentos, com alma e mistérios, singularidades quase absolutas nas suas especificidade, como os Telhados de Água, os fojos do lobo, caminhos de sirga, neveiros e uns estranhos comendadores em carne e osso, que são também testemunhos intensos e verdadeiros dos tempos e do país em que viveram.