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Manuel Faria manuel.faria@entroncamentoonline.pt

“Insanidade é continuarmos a fazer as mesmas coisas esperando obter resultados diferentes”.

Este é o momento em que se prepara e decide o Orçamento Autárquico e se estabelecem as GOP (Grandes Opções do Plano), que perspetivam os principais investimentos para a cidade nos próximos anos.

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Este, é também o momento em que os Executivos procuram justificar o presente e o passado com as suas escolhas políticas de futuro.

Foram 9 anos de gestão deste Executivo com investimentos estruturantes nas infraestruturas de abastecimento e distribuição de água, conversão da iluminação pública para led e, pouco mais. O restante que mantém a cidade nas preferências das famílias e no radar do país, resulta dos investimentos nos equipamentos escolares, desportivos e de lazer e na aposta forte e resiliente no Museu Nacional Ferroviário realizada pelo anterior executivo.

Este é o momento que se integra numa conjuntura mundial e nacional conturbada, saída de uma pandemia de 2 anos. Por isso, é fundamental fazer as escolhas nas despesas e nos investimentos verdadeiramente estruturantes para não andarmos a marcar passo e ficar para trás como nos últimos 9 anos.

E até para nos ajudar, nada melhor que o fresquíssimo anuário financeiro dos municípios portugueses apresentado no dia 7 de Novembro. No nosso caso, o Entroncamento, ao contrário do que nos é transmitido, o município não faz parte, sequer, da lista 50 do ranking de eficiência financeira dos pequenos municípios, o que significa que as nossas receitas, as nossas despesas, os nossos resultados operacionais e a nossa capacidade de criar valor ficam aquém das melhores práticas.

Este é o resultado de más escolhas estratégicas em termos de investimento e gestão corrente, que fomentem efetivamente a criação de valor a vários níveis.

Fonte : https://www.occ.pt/pt/noticias/disponivel-anuario-financeiro-dos-municipios-portugueses-2021/

Mas que cidade queremos nós? Que cidade queremos ser? Que prioridades e necessidades temos? Que oportunidades temos de aproveitar? Que investimentos estruturantes temos de fazer? …

Estas e outras, são todas questões determinantes que, infelizmente, quem decide não faz, muitas vezes, por incapacidade, por ideologia política predeterminada, por excesso de egocentrismo e/ou até mesmo por algum narcisismo.

E quando isto acontece, ou seja, quando não há a capacidade por parte de quem decide, de criar uma visão para a cidade, os seus habitantes limitam-se a alimentar e deixarem-se levar pela espuma mediática das redes sociais e de notícias em órgãos de comunicação.

Quando não há uma visão integradora e mobilizadora para a cidade, a maioria das pessoas foca-se, legitimamente, nos problemas correntes e mediáticos que quer ver resolvidos rapidamente, e estes são, ainda por cima, muito empolados, na importância e significância, pelos mesmos altifalantes contaminantes – as redes sociais.

Assim sendo, cabe, ainda mais, e acima de tudo, aos responsáveis políticos, a invulgar capacidade em levantar a cabeça para perceber o contexto atual, ao mesmo tempo que se olha para a frente e define uma visão do que a cidade pode e deve ser a médio / longo prazo, criando uma visão inspiradora e orientadora para todos nós e para todos os que fazem parte ou podem vir a fazer parte da nossa cidade.

Cabe a nobre e competente responsabilidade de conhecer a cidade, as suas fraquezas, forças, ameaças, oportunidades e prioridades e fazer os investimentos que permitam criar e atingir a cidade que se visionou.

Cabe, igualmente, a humilde capacidade de ouvir e perceber os seus habitantes, as suas necessidades, desejos e sugestões imediatas, e as a prazo.

Por fim, cabe aos responsáveis políticos a enorme capacidade, humildade e honestidade intelectual de mudar o cerne da sua atuação, gerindo os destinos da autarquia a partir das suas características e dos direitos, necessidades e interesses dos seus cidadãos. Significa gerir de fora para dentro e não de dentro para fora a partir apenas do ego e convicções exclusivas dos membros do Executivo, dos interesses políticos do partido que os suportam ou do clientelismo habitual que primam e a quem se predispõem para obter ou pagar favores políticos e influências.

Numa altura em que tomamos decisões, e em que temos menos bons resultados na nossa eficiência financeira e pouca capacidade de criar valor, devemos ter as necessidades e prioridades imediatas bem identificadas e devemos, ainda, ter bem perspetivado o futuro que queremos contruir, sem desculpas de que “temos restrições orçamentais” ou que “estamos a acompanhar a situação” porque o mundo não para e o caminho faz-se de decisões e escolhas.

0 – O Entroncamento

E que tal apostarmos em ser uma cidade moderna, dinâmica, atrativa, “aconchegante”, de proximidade, segura, solidária, cuidada e sustentável com os melhores equipamentos e serviços para as famílias? E que tal sermos uma cidade referência com uma ampla oferta de serviços de saúde, de geriatria e sociais, verdadeiramente diferenciadores e de elevada qualidade? E que tal sermos uma das cidades mais atrativas para as famílias com os melhores equipamentos de educação, desportivos e de lazer? E que tal sermos uma cidade com uma indústria que aposte na experiência, na qualidade e que esteja atualizada com as melhores tecnologias e soluções? E que tal sermos uma cidade de serviços públicos e privados de valor acrescentado, fortemente orientados para as necessidades efetivas dos cidadãos? E que tal ajustarmos estrategicamente as nossas ambições ferroviárias para sermos mais concretizadores e orientados para o que realmente traz valor para a cidade, pensando no futuro em vez de andarmos atrás de um passado que já não volta e promessas que nunca serão cumpridas? E que tal procurarmos desenvolver o comércio local com centralidades temáticas? E que tal reforçarmos a reabilitação urbana privada e pública e começar a homogeneizar a nossa paisagem urbana? E que tal começarmos a construir a nova esquadra? E que tal termos mais segurança?, …

(…)

1 – Gestão Urbana e Habitação

O Entroncamento é o 2.º concelho mais pequeno do país. A clara proximidade e o registo plano do nosso território são verdadeiras vantagens.

Com esta configuração podemos ser uma cidade organizada na construção, com os edifícios certos nos sítios certos, com uma linha arquitetónica harmonizada, com as ruas e estradas com pavimentos e passeios adequados e devidamente mantidos.

Precisamos de resolver o problema das inundações na baixa da cidade.

Necessitamos de um aumento da oferta de habitação de qualidade, que responda aos desafios energéticos e climáticos e uma política intensiva de requalificação urbana dos edifícios devolutos.

São importantes a ligação estratégica direta entre a zona norte e a zona sul (via Ponte da Pedra ou Atalaia) e a renovação dos acessos estratégicos aos nossos concelhos vizinhos, estradas nacionais e zonas industriais.

São necessárias ciclovias estratégicas que cheguem até às escolas (para que os nossos alunos possam ir para as mesmas em segurança, nomeadamente para a Escola Secundária) e liguem os principais núcleos residenciais, centralidades, serviços da cidade e concelhos vizinhos.

Precisamos de zonas da cidade de Emissão 0, criadas a partir dos novos programas de apoio da UE.

O novo PDM, que está prestes a ser aprovado, infelizmente, não responde a muitas destas condições.

2 – Habitação Social

A habitação é um princípio e um direito da condição humana. Precisamos de habitação social sim, mas não de bairros sociais. Este é um dos maiores erros da gestão social.

É necessário apostar estrategicamente na construção de habitações sociais criteriosamente localizadas e dispersas para evitar a “guetização” social, o fenómeno da concentração da criminalidade e a marginalização.

3 – Segurança

A esquadra é para construir. Infelizmente, apenas estamos dependentes do fim das cativações absurdas e hipócritas do governo.

Contudo, deveríamos ter apostado veemente numa esquadra com múltiplas valências (e não nesta monovalência que foi escolhida), meios policiais e outros adjacentes que permitissem uma presença e vigilância assídua e uma capacidade de resposta rápida de intervenção quando necessário.

Temos de assegurar mais policiamento de proximidade, vigilância, seja ela pessoal ou tecnológica, pública ou privada.

Precisamos “desguetizar” e não construir bairros sociais, fazer cumprir deveres e ainda criar condições para proteger os mais vulneráveis como os idosos, as crianças e os jovens e os alvos preferenciais como os estabelecimentos comerciais e os bens particulares.

É necessário rever e reforçar as nossas políticas e iniciativas de integração dos novos residentes.

É crítico implementarmos as tão necessárias e atrasadas medidas de prevenção da segurança rodoviária no concelho. Estamos à espera de mais tragédias?

4 – Educação

É urgente uma Escola Secundária renovada / nova, devolver rapidamente a Escola Sophia de Mello Breyner à população e apostar em novas infraestruturas para a reforçar a oferta das creches e infantários.

A aposta falhada no Ensino “Privado” Superior, que nunca foi público ou grátis, deverá ser repensada e reconfigurada, pois as provas do seu insucesso são mais que muitas e servem apenas os interesses de algumas instituições nele envolvidas.

5 – Desporto e Lazer

Sendo uma das cidades mais atrativas do Médio Tejo para os nossos jovens e famílias, é fundamental colocar o investimento no Parque Verde do Bonito nas nossas prioridades, concretizando as fases 3 e 4 deste parque, com a aposta no arborismo, formalização e otimização dos vários trilhos, criação de uma albufeira artificial(?), criação de uma quinta pedagógica ou um centro de ciência e desporto (?), perspetivar um campo de minigolfe para as famílias(?), …

Por outro lado, sendo uma cidade que vive muito do desporto, devemos reforçar o nosso investimento em vários equipamentos: ampliar largamente todo o equipamento e infraestruturas para o atletismo, construir um pavilhão exclusivo para as disciplinas de ginástica e concretizar efetivamente a construção de campos de padel.

E para quando uma piscina exterior capaz de reter as nossas famílias na cidade durante o verão?

6 – Saúde

O Entroncamento tem cerca de 8 mil habitantes sem médico de família.

É fundamental uma reorganização e reforço dos serviços de modo a responder às necessidades prementes e crescentes da população.

Não basta dizer que não é tutela da autarquia ou que se está a acompanhar a situação.

O sucesso da resposta na saúde exige uma melhor definição das políticas de integração social dos migrantes, emigrantes e refugiados de guerra para que os serviços de saúde tenham capacidade de resposta a estes novos utentes da nossa cidade.

É fundamental a Autarquia avançar com um Plano Municipal de Saúde que garanta 1 consulta anual a todos os idosos, crianças e pessoas com doenças crónicas, bem como garanta o apoio à realização de exames e o efetivo cumprimento dos planos de vacinação. Este plano deve ainda contemplar o apoio à compra de medicamentos aos mais necessitados.

Nós, podemos ser uma cidade referência em serviços de saúde. Para isso precisamos trazer investimentos públicos e privados determinantes (serviços de diagnóstico, de tratamento e reabilitação, …). Esta uma necessidade crítica do presente e do futuro.

7 – Social

A par da saúde deveremos dirigir os nossos esforços para reforçar a capacidade de resposta aos mais idosos, quer através das políticas locais, quer ao procurarmos ser também uma cidade referência na oferta de serviços de geriatria (lares, residências seniores, cuidados continuados e paliativos, …), através da captação do investimento público e privado.

8 – Desenvolvimento Económico

O nosso modelo de desenvolvimento económico deve respeitar as características físicas e limitações do nosso território, o nosso posicionamento estratégico rodo e ferroviário e a nossa capacidade de integrar empresas locais no âmbito da indústria tradicional, média e pesada de elevada qualidade, no âmbito da indústria dos novos bens e serviços e indústria tecnológica. A par destes, a forte aposta na oferta de serviços de “vida” (desporto, lazer, saúde, geriatria, habitação, …) deve ser o nosso foco.

Ver hoje o novo Parque Empresarial da cidade completamente vazio, após um enorme falhanço de quase todos os supostos negócios anunciados, é um autêntico desespero. É necessário realizar uma importante reflexão sobre quem podem ser verdadeiramente os nossos parceiros estratégicos (de acordo com o nosso contexto físico e benefícios para os parceiros) e desenvolver as iniciativas e os modelos de negócio necessários, adequados, apelativos e assertivos.

9 – Ferrovia

O nosso património ferroviário deve ser o presente e o futuro e não apenas o passado. Apostar estrategicamente na ferrovia, não é construir a melhor estação de caminhos de ferro do país. É adaptar a atual estação e conseguir fazer do Entroncamento um hub para o transporte nacional de passageiros e de mercadorias até média velocidade, uma vez que está decidido o troço da alta velocidade. É conseguir estender a linha ferroviária suburbana da capital do país até ao Entroncamento, reforçando a nossa característica de cidade suburbana com elevada qualidade de vida e não apenas de dormitório.

A aposta na formação altamente qualificada na área ferroviária, logística e transportes é crítica, assim como a estabilização e consolidação da inovação e manutenção ferroviária na nossa cidade.

10 – Comércio Local

O comércio local depende da resiliência dos nossos empresários, da sua capacidade de oferta ajustada à procura e capacidade de diferenciação sobretudo no serviço prestado, da proximidade e da capacidade de gerar oportunidade e necessidade nos consumidores.

Por isso, é necessário trabalhar em conjunto com os nossos empresários, estudar, repensar e ajustar, se se justificar, estrategicamente os modelos de negócio e a sua localização.

À autarquia cabe ainda a responsabilidade de criar verdadeiras centralidades, facilitar o seu acesso e promover a sua adesão / visita.

O comércio local deverá apostar na especialização, na qualidade de serviço e deverá ser estrategicamente pensado e harmonizado (incluindo na imagem e identificação) por uma identidade e marca comum (marca Entroncamento) que permita oferecer bens e serviços diferenciados, sem canibalização dos mesmos. É importante começarmos a trabalhar para transferir alguns dos processos do comércio local para o digital, nomeadamente, a promoção, encomenda e entrega de bens.

Não é demais reforçar a necessidade de criar programas que assegurem e promovam a atividade económica fortemente circular, a partir do consumo dos produtos, serviços e fornecedores da nossa terra.

Por esta altura do ano é crítico recuperar o Programa de Apoio ao Comércio Local realizado no Natal de 2021.

11 – Cultura

Não temos uma estratégia ou uma política ou um programa cultural integrado. Temos atividades fixas e temos atividades avulso conforme oportunidades e promoções / contactos comerciais que recebemos. Temos, ainda, muitas iniciativas independentes e não integradas numa promoção global da cultura, por parte das diferentes associações e instituições culturais.

Está mais do que na hora de termos um Programa Cultural Anual que seja pensado e estruturado de forma integrada para assegurar uma cultura dinâmica, ativa e de qualidade, associada a acontecimentos / momentos temáticos e com outros complementares. Interessa a qualidade e diversidade dos eventos que se tornem imagem de marca e atendam às tendências e preferências dos munícipes.

Está na altura de passar o Museu Nacional Ferroviário para um outro patamar, reforçando o seu património, as suas valências, a sua oferta de produtos e serviços e a sua integração nas várias atividades da cidade.

Está na altura de começarmos a trabalhar para a criação do museu militar pesado.

Está na altura de concretizar a construção de uma biblioteca municipal multimodal que não seja um depositário de livros, mas um centro de gestão do conhecimento, com livros, com auditório, com salas e equipamentos de trabalho, de estudo, de apresentação e experienciais.

12 – Sustentabilidade

No momento de crise energética e climática mais acentuado dos últimos anos, bem como de grande incerteza, é fundamental implementarmos rapidamente programas de otimização do consumo de água e de energia.

Para o consumo de água: redução de caudais de água em horas de vazio, otimização dos períodos e tempos de rega, implementação de sistemas de aproveitamento das águas da chuva, …

Para o consumo de energia: redução do tempo da ligação da iluminação urbana, estudo e realização de investimento em equipamentos alternativos de produção de energia e outros mais eficientes utilizados para os diversos fins nas instalações do município, …

13 – Apoio às Associações

Temos tido cada vez mais sucessos e conquistas nacionais e internacionais com as nossas associações desportivas, culturais e outras. É fundamental rever a nossa política e regulamentos de apoio de modo a podermos acompanhar as necessidades e apoiar este novo patamar alcançado pelas nossas associações.

Queremos e precisamos de mais, muito mais! Queremos uma verdadeira cidade para as Famílias, as empresas, as instituições e associações. Queremos uma cidade para vivermos aquilo a que todos temos direito e dever de exigir.

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