Maria da Guia Asseiceiro teve uma coluna no jornal “O Entroncamento” de seu nome “Janela sobre a cidade”, cujos textos voltamos a publicar.
Momentos de reflexão
Um jardim aqui, uma praça acolá, um bairro mais além… Uma rua que se abre à circulação de veículos, outra que, por conveniência de qualquer ordem, se fecha ao tráfego.
Colocam-se sinais luminosos e de trânsito; parquímetros e parques de estacionamento. Cidade vocacionada para o comércio desde a sua origem, vai dando passos tímidos na zona industrial.
Alberga uma vasta população estudantil proveniente dos estabelecimentos de ensino; professores, militares, população activa, terceira idade, reformados e pré- reformados.
Desenvolve os locais de cultura e lazer, cresce a construção civil, reduz e limita a força do caminho-de-ferro. É com esta realidade que o poder autárquico se confronta. Nem sempre com sentido de oportunidade e poucas vezes com vistas largas.
Pouco a pouco lá se vai destruindo a zona mais antiga do Entroncamento. Das Vaginhas resta a respeitável Capela de S. João e a artística Fonte. Em redor tudo está desfocado. A zona envolvente não se coaduna de modo nenhum com aquela que foi a génese do Entroncamento.
Da típica “Penitenciária” nada resta e poucos se lembram dela. Era um agrupamento de casas rústicas decoradas com tijolo “burro” à vista. Alinhadas e iguais. Se existissem dariam perfeitamente para pequenas lojas de artesanato. O Centro Comercial “O Túnel” tem as suas traseiras próximo do local.
Rodeada de frondosas árvores, a forte e grande “Escola Velha” foi sacrificada, não sei a que pretexto, pelo Posto da Guarda-Fiscal. Se a não tivessem deitado abaixo teríamos uma magnifica residencial para professores deslocados.
O belíssimo chafariz junto ao actual Centro Cultural foi substituído por um uma inestética bica magrinha e desgraciosa. Ah! Se calhar falta de espaço…
O malogrado Depósito de Máquinas com as devidas adaptações, poderia ter sido um belo Museu Nacional Ferroviário. Esse não explodiu por falta de espaço, foi por falta de senso. Passaram os anos… Aproveitando o que antes foi destruído, temos por fim um grande e belíssimo Museu. (Mais vale tarde do que nunca!)
O progresso, é desejável e sem ele não há cidades, mas às vezes é cego.
Não houve um plano de desenvolvimento urbanístico que defendesse o património habitacional e temo que assim continue.
Se caminharmos da Estação do Caminho-de-Ferro até à desprotegida e movimentada Passagem de Nível (hoje subterrânea), entramos na Rua 5 de Outubro. Esta e a rua Latino Coelho são presentemente a parte mais nobre (antiga) da Cidade. Aí se desenvolveu o comércio cujos edifícios (alguns) ainda estão em actividade: na origem, o “Zé da Loja”, o “Chico Neves”, as drogarias do “Sr. Milho” e do “Tem-Tudo”, as tabernas, as farmácias e os artesãos: ferreiros, serralheiros, sapateiros, funileiro e alfaiates. Profissões em vias de extinção ou extintas.
Artífices que transformavam o ferro, o couro, o metal e o pano, em autênticas obras de arte.
É por aqui que encontramos os C.T.T., a Esquadra da P.S.P., a Câmara Municipal ao centro, a velha Praça em boa hora transformada em Centro Cultural.
Da “Janela aberta sobre a cidade” lanço um apelo aos responsáveis pelo Planeamento Urbanístico: recuperem, embelezem e sobretudo protejam o que resta da zona histórica do Entroncamento.
Maria da Guia Asseiceiro
(1994)






















