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Para alguns investigadores a ligação de Camões à antiga vila de Constância é histórica, isto é, de facto existiu e aconteceu no século XVI, na medida em que, por exemplo, o poeta se aparenta, por meio da sua ascendência, aos Camões, Senhores de Punhete (designação que o então lugar detinha).

É facto assente que em 1373 Dom Fernando doou Punhete ao trisavô de Camões, Vasco Pires de Camões.

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Outro facto importante para se entender a eventual ligação do poeta ao local, ocorreu durante a sua presença em Goa, entre 1553 e 1568. Trata-se do convite que Luís de Camões fez então a uns fidalgos portugueses na Índia, dirigindo-se a uma pequena nobreza, ligada a Punhete, que naquela altura se encontrava na sede do Estado da Índia.

Sobre este assunto, recomenda-se o artigo de Márcia Franco, publicado na Revista da rede internacional «Elyra», Outubro, 2014. A autora fundamenta-se também na excelente monografia de Mª Clara Pereira da Costa, de 1977.

No fim do século XVI vivia inclusive em Punhete«Maria Camões» casada com Sebastião Pais, segundo o testamento do padre Manuel Carvalho Barreto, do arquivo da Misericórdia de Constância. Pelo testamento já referido concluiu a investigadora Maria Clara Costa que: «Sebastião Pais estivera em Angola e sua mulher, Maria Camões, teria ido com ele ou, na ausência do marido, ficariam em Cabeço de Vide em casa de seus pais de onde então escrevera ao dito padre Manuel Barreto. Será esta a razão do assento indicar apenas o nome dos filhos, omitindo o do marido».

Em 1592 , Dom Francisco de Almeida, neto da castelã de Punhete, Dona Guiomar Freire, foi nomeado Governador de Angola, tendo levado «seiscentos soldados e muita fazenda». Teria Sebastião Pais acompanhado Dom. Francisco na sua armada?, pergunta a investigadora.

Não sabemos quando começou a tradição oral local do desterro do poeta (se é que alguma vez foi desterrado de verdade). A tradição oral existiria em 1855 segundo o testemunho do Visconde de Juromenha o qual, na primavera desse ano, no regresso de uma visita a um primo em Alvega, desceu o Tejo num albringel. Relata o Visconde que intentava «fazer uma inspecção ocular ao sítio onde se reputa que o poeta, estando desterrado, escreveu algumas das suas composições (…)». Numa outra passagem da sua obra monumental, o Visconde, referindo-se a Constância, chega a referir-se à «tradição que me dizem ali existe». Parece que desembarcou na vila mas não terá indagado sobre a tradição pois ele mesmo afirma: «desembarquei em Constância, e subi ao monte elevado (Outeiro da Conceição, leia-se, anotamos nós) que é banhado pelo dois rios que ali confluem(…)».

A tradição oral poderá ter tido origem na tradição literária ou vice-versa. Ou poderão as duas serem independentes. Não sabemos.

Fernão Álvares do Oriente (que poderá ter nascido em Punhete, segundo uma linha de investigação já conhecida), era um suposto amigo de Camões segundo alguns historiadores e colocou a acção principal das suas éclogas junto a Punhete . O investigador António Cirurgião já identificou a Personagem Urbano da obra «Lusitânia Transformada» com o próprio Camões. Daí a inferência aparentemente lógica do desterro para aqui do poeta identificado como Camões. Já aflorei este assunto noutras crónicas. Acresce aqui um facto a não descurarmos relativo a Fernão Álvares e que respeita ao «Palmeirim de Inglaterra», cuja primeira parte contendo uma novela localizada no castelo de Almourol é da autoria de Francisco de Morais. Dá-se o caso da segunda e terceiras partes desta obra andarem atribuídas quer a Baltasar Gonçalves Lobato (impressa em 1602) quer ao próprio Fernão Álvares do Oriente (obra que ficou inédita). A polémica das autorias surgiu pela mão de Diogo Barbosa Machado, autor da «Bibliotheca Lusitana» ao que consta pois este escritor católico atribui o mesmo texto aos dois autores. A investigadora Maria Clara Costa, citando Serra Xavier revela-nos que este último resolveu o problema: «cada um dos autores (…) escreveu a continuação do Palmeirim, dando-lhe ambos o mesmo título». O problema, segundo Maria Clara, «não é fácil de resolver».

De difícil resolução parece ser também o problema do roubo a Camões da sua obra «Parnaso» escrita em Moçambique. Os plagiatos de certas líricas de Camões alegadamente apenas descobertas no século XVII são atribuídos por exemplo a Fernão Álvares do Oriente… acusado por alguns de roubar o «Parnaso» a Camões. Roubo contestado é certo. Teófilo Braga andou a tratar deste assunto.

José Luz (ex-presidente do Conselho Fiscal da Associação da Casa-Memória de Camões em Constância)

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