O Município do Entroncamento levou a cabo, esta manhã (25 de abril) uma sessão solene para comemorar os 51 anos do 25 de abril. A cerimónia, realizada no Largo de José Duarte Coelho, em frente ao edifício da sede da autarquia contou com a presença de muitos convidados, desde as forças de segurança e proteção civil, ao agrupamento de escolas, entre outros(as).

Com as bandeiras do país e do município a meia haste devido ao luto decretado pelo governo pelo falecimento do Papa Francisco, foram vários os discursos por parte de deputados municipais, da presidente da autarquia (Ilda Joaquim) e do presidente da assembleia municipal (Luís Antunes).

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Entre alertas e críticas, já se notou um ambiente de pré-campanha com as eleições legislativas no horizonte próximo e as autárquicas no horizonte médio, ambas em 2025.

Ilda Joaquim, presidente da Câmara Municipal fez uma extensiva comparação de dados entre o pré e pós 25 de abril começando por dizer que “hoje vivemos tempos difíceis, vivemos tempos em que o ser humano nunca foi como hoje, objeto de tanta declaração” mostrando preocupação com as guerras que assolam o mundo, “se em África sempre houve guerra, se na América Latina sempre houve opressão, a Europa vivia como que numa ilha. Mas sempre tivemos também guerra, e essas guerras estão a alastrar e, pior, o mundo ocidental com os princípios que sempre defendemos, está em risco. Mas sempre houve alguém que lutou, por princípios que nos permitissem continuar a viver e a sobreviver num mundo melhor”.

Num plano mais nacional lembrou a Constituição Portuguesa “que diz duas coisas muito simples, mas muito difíceis. Desde logo todos os cidadãos são iguais perante a lei e, também, que ninguém deve ser discriminado em razão da sua cor, da sua origem, da sua condição social, das suas convicções e crenças religiosas”.

Apontou a necessidade de salvaguardar esses princípios afirmando que “podemos discordar uns dos outros, mas é na aceitação dessa discórdia no discurso entre todos que fazemos o nosso caminho”. Pegando numa longa lista de conquistas proporcionadas pelo 25 de abril, lembrou o papel da mulher, lembrando Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal, em 1911. Desde então e até hoje, o papel da mulher evoluiu muito mas ainda “muito há para conquistar”.

A presidente da autarquia, que substitui no cargo Jorge Faria, que deixou a presidência em janeiro, e a quem agradeceu a presença na audiência, deixou alertas sobre os perigos do clientelismo e do corporativismo. “O clientelismo cresce numa sociedade não informada, o clientelismo e o corporativismo são duas armas escondidas contra a nossa liberdade”, afirmando que não se deve deixar nas mãos dos outros a decisão daquilo que achamos que é importante”.

A finalizar evocou nomes importantes da nossa História como “Carolina Beatriz Ângelo, Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal, Alçada Batista, Maria Antónia Palha, Francisco Pinto Balsemão, António Ramalho Eanes, Gonçalo Ribeiro Telles, Nuno Teotónio Pereira, Ary dos Santos, Sophia de Mello Breyner, Arantes Santos, Natália Correia, Maria Teresa Horta, Zeca Afonso e Maria de Lourdes Pintassilgo, a primeira mulher a liderar um governo.

A primeira mulher primeira-ministra em Portugal, Maria de Lourdes Pintassilgo. A finalizar exaltou Jorge Sampaio, o primeiro a dizer “25 de Abril, sempre”.

Jovens com poesia e sonhos

Ao invés de escalpelizar cada um dos discursos dos representantes políticos optamos por publicar, na integra, o discurso do jovem Hortêncio Fonseca, representante da assembleia municipal jovem, bem como do poema vencedor do terceiro escalão do concurso de poesia.

Hortêncio Fonseca:

Excelentíssimos senhor da Assembleia Municipal e Senhora Presidente da Câmara Municipal, Senhores autarcas e ilustres convidados, estimado público, queridos colegas da Assembleia Municipal de jovens. Muito bom dia.

 

Chamo-me Hortência Fonseca e sou um jovem de São Tomé que viajou desde a pequena cidade de Trindade, atravessando quase todo o meu continente em direção à Europa. Recordo-me vivamente de ter visto África pela primeira vez a partir dos céus, incluindo o grande deserto do Sahara, e foi uma sensação de deslumbramento e ao mesmo tempo, de angústia por deixar para trás um continente tão belo e promissor.

Na verdade, eu decidi fazer esta viagem com a minha família em busca de melhores oportunidades e de novas estratégias para ampliar os meus conhecimentos, ou seja, fazer o meu mundo. Contrariamente ao que muitas pessoas pensam, não é fácil Tomar uma adição destas, deixando tudo para trás, família, amigos, a cultura, as nossas raízes e tradições. Para começar quase tudo do zero.

Esta decisão também foi possível porque o 25 de abril de 1974 trouxe a independência dos países africanos.

São Tomé e Príncipe, o meu querido país Natal obteve esse estatuto no dia 12 de julho de 1975. Nesse dia tornamo-nos num país livre, sem colonialismo e nem opressão. Não devemos esquecer, portanto, que o 25 de Abril foi importante para Portugal, mas foi tão ou mais importante para o meu país e restantes países africanos de expressão portuguesa.

Eu sou um jovem com grandes objetivos e para quem esta mudança de país está a ser muito benéfica. Atualmente, estou a estudar com muito orgulho na escola Profissional Gustavo Eiffel, no curso de mecatrónica.E penso poder ter esta profissão, embora o meu grande sonho seja outro. Eu tenho como grande objetivo ser jogador de basquetebol. Estou atualmente num dos melhores clubes da região e só em poder evoluir imensamente para poder chegar à NBA.

Sim, eu sei que é um grande sonho e muito difícil de alcançar, mas enquanto eu tiver em mente, sei que terei uma grande margem de evolução e aperfeiçoamento. A vida é feita de grandes Sonhos. E se então não for possível, estou pronto para jogar em Portugal ou noutros países europeus. Estou pronto a circular novamente pelo mundo. Se repararmos bem, o desporto é um excelente exemplo de pluralidade e tolerância nas equipas portuguesas. Basta ver o exemplo do futebol, enquanto outros jogadores estrangeiros de várias Origens, desde a Europa, América Latina e África.

O mesmo é válido para as equipas de base, futebol ou mesmo de atletismo que várias medalhas olímpicas nos têm dado nos últimos tempos No desporto não tem havido grandes preconceitos e é mais ou menos pacífico que todos têm ao seu lugar.

Então, por que razão ainda tanta discriminação e racismo noutras áreas da sociedade?

Porque se discute tanto o estatuto dos emigrantes, a sua inserção ou exclusão, a legitimidade de poderem entrar ou não nos países de acolhimento.

Na verdade, se pensarmos com sensatez, o mundo é de todos e sempre assim foi. O planeta Terra não pertence a ninguém em particular, embora tenham sido historicamente definidas as fronteiras dos países. A verdade é que os povos sempre seguraram e viajaram. Os povos primitivos eram nómadas e desfrutavam daquilo que o mundo lhes dava. Apesar de existirem conquistas e disputas de territórios, este belíssimo planeta pertence à espécie humana em geral. E a nenhum povo etnia ou cultura em particular.

Eu, como jovem que sou, gosto de debater todos os assuntos com clareza e vejo que estamos hoje num mundo muito frágil e cheio de censuras, apesar de vivermos em democracia. Mesmo o uso da linguagem é muito sensível, é muito delicado hoje em dia referir a corte da pele de um indivíduo. Se é preto, branco, castanho, mulato, Albino, louro ou ruivo. Quando tudo isso se resume, apenas a percentagem da da melanina na pele.

Não é ofensa ao número tom da pele, o que é ofensa é não respeitar a pessoa humana na sua totalidade, independentemente da sua cor, do seu aspeto, da sua língua ou da sua identidade.

Portanto, numa sociedade onde hoje se começa a observar uma nova preocupação com armamentos, eu quero dizer, enquanto jovem que sou, e que quero viver ainda muitos anos, que o melhor armamento é a inteligência, é a nossa consciência social, o respeito pela diferença.

E o respeito pelos direitos humanos?

E penso que devem ser criadas novas tarifas? Sim, eu concordo com o agravamento das tarifas tarifas contra a ignorância, tarifas contra a prepotência e contra a falta de escrúpulos tarifa contra a sede de poder e dominação, tarifas contra a crueldade.

Queridos, cidadãos que tão bem me acolheram nesta cidade e neste país. Muito obrigado pela vossa hospitalidade. Muito obrigado por tudo o que já aprendi convosco e por tudo aquilo que permitirem que eu vos ensino da minha cultura. A democracia também é esta troca de culturas e esta porta de entrada para a Felicidade e para a fraternidade universal.

Viva Portugal e os países da CPLP viva a diversidade dos povos. Viva o 25 de Abril”.

Terra de chegadas e partidas” de Afonso Jorge

Afonso Jorge foi o autor do poema vencedor do terceiro escalão do concurso de poesia. Vai foi declamado por Beatriz Justino, por impossibilidade da presença do autor.

Terra de Chegadas e Partidas”

“No coração de Ribatejo entre trilhos e estação

Ergue-se o Entroncamento, berço de ferro e paixão

Cidade de mil partidas, de chegadas sem igual

Onde o comboio é rei e o tempo segue o sinal

Gente da minha terra de mãos calejadas

Que fazem do ácido o vento de suas jornadas

Do operário ao maquinista do vendedor à criança

Que todos trazem no peito um bilhete de Esperança

No apito da locomotiva ou no fado que se entoa

Vive a força de um povo que a saudade não magoa

Porque aqui em cada rua, em cada esquina a brilhar

Há a história de quem luta de quem usa sonhar

E se dizem que esta terra é de mistérios sem razão.

Que nascem frutos estranhos que a lenda tem fundação.

É porque o entroncamento se tem um dom sem explicação.

Onde destinos e vidas faz do acaso uma missão

Ó cidade ferroviária de alma forte e verdadeira

Que em cada chegada e partida desenha a vida inteira

Gente da minha Terra, orgulho que não se encerra

Sois o trilho e a viagem desta nobre e amada Terra”

A cerimónia teve ainda um apontamento musical com Pedro Dionísio, Raquel Ângelo e Valter Guia.

O EOL deseja a todos e todas um excelente 25 de abril. 25 de Abril, sempre!

Texto e Fotos: Ricardo Alves

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