O domingo de eleições começou com uma tímida neblina mas depressa o sol a rompeu e declarou um dia de calor. Praticamente todas as mesas de voto, pela manhã, tinham filas de eleitores e eleitoras. Até ao meio dia votaram 21,8% dos eleitores inscritos. Nas últimas eleições tinham sido 18,6%. Depois, às 16h00, surgiam novos números: 44,3% dos eleitores inscritos já haviam votado. O número final da participação acabaria por ser de 59,03%.
Ao longo do dia os candidatos dirigiram-se às suas mesas de voto promovendo mesmo o encontro entre si, nomeadamente nas mesas de voto instaladas no pavilhão polidesportivo.
Pelas 20h00, hora de fecho das urnas nos Açores, as sedes de campanha do Partido Socialista (PS) e da coligação Viva o Entroncamento (coligação PSD-CDS), a cerca de 30 metros de distância de cada uma (na Rua Luís Falcão de Sommer), ainda não tinham muitos apoiantes. A noite seria longa.
As informações surgiam amiúde. O Entroncamento Online (EOL) começou a receber informações por volta das 21h00. O Chega na liderança, e não por pouco. Mas era apenas uma pequena amostra.
Ao lado, no concelho da Barquinha, algumas mesas de voto expressavam uma luta taco a taco entre o Chega e o PS, o que ademais preocupava as candidaturas PSD.CDS e PS.
A comitiva do Chega instalou-se no centro paroquial de São João Baptista. Na televisão, André Ventura prometia viajar imediatamente para o primeiro concelho que o partido que lidera ganhasse. O primeiro de três foi São Vicente, na ilha da Madeira. Uma missão complicada viajar até à Madeira na noite eleitoral. As atenções viraram-se para o Entroncamento. Até porque no Algarve, onde o Chega tinha aspirações elevadas, os resultados preliminares começaram a retirar confiança ao partido.
O EOL instalou-se na Praça Salgueiro Maia, pronto para “viajar” para o local da festa final.
Eram 21h45, ainda sem resultados oficiais publicados, quando nos apercebemos que a vitória iria para o Chega, de Nelson Cunha. Mas faltava a confirmação oficial.
A dúvida era se a vitória do Chega se cingia à Câmara Municipal ou também às juntas de freguesia. Mais informações, ainda oficiosas, davam a junta de freguesia de Nossa Senhora de Fátima a Luís Moita, do Chega, e davam a junta de freguesia de São João Baptista como tecnicamente empatada entre PSD-CDS e Chega.
Numa última “visita” às sedes das candidaturas encabeçadas por Rui Madeira (Viva o Entroncamento) e Mário Balsa (PS) o ambiente já se tornara soturno de olhos postos nas informações que recebiam.
Até que, pelas 22h30, era oficial. O Chega vencia as eleições autárquicas no Entroncamento, conquistando pela primeira vez a presidência da Câmara Municipal. Nelson Cunha, cabeça de lista do partido, foi eleito presidente da autarquia com 37% dos votos, pondo fim a três mandatos consecutivos de governação socialista.
Um mandato potencialmente agitado
A luta foi a três: Chega: 37,34% – 3 vereadores; “Viva O Entroncamento” (PSD/CDS): 30,55% – 2 vereadores; PS: 22,14% – 2 vereadores.
Vitória do Chega em Nossa Senhora de Fátima e de Rui Bragança (PSD-CDS) em São João Baptista.
No centro paroquial a festa era rija. Nelson Cunha passou muito tempo ao telefone. Em resposta ao EOL sobre a visita de André Ventura ainda na noite de domingo, o agora eleito presidente da Câmara, disse ainda esperar pela confirmação da distrital do partido.
Na sala já se discutia o número de vereadores. Se PSD-CDS e PS (quatro vereadores) se juntarem poderão bloquear muitas das propostas do novo executivo (três vereadores).
Mas ao não obter maioria absoluta, o cenário abre caminho a possíveis negociações para garantir estabilidade governativa.
Ventura em frente à Câmara
Nelson Cunha falou de “mudança” e “voz do povo”, salientou que o Chega conseguiu romper com o bipartidarismo que reinava no concelho. Agradeceu aos apoiantes e disse que seria “o presidente de todos, inclusivamente os que não votaram Chega”.
Já perto da meia noite a confirmação de que André Ventura estava a caminho para celebrar com os apoiantes. Chegou, saiu do carro e celebrou abraçando e congratulando Nelson Cunha.
Agora, com um executivo sem maioria absoluta, o futuro será feito de pontes ou de muros. A democracia exige diálogo, e o Entroncamento terá de aprender a conversar com todas as suas vozes.
Porque no fim, o que conta não é quem venceu — é o que se faz com a vitória.
A derrota do PS marca uma viragem política significativa no concelho, que era considerado um bastião socialista na região do Médio Tejo. A vitória do Chega faz antever quatro anos de imensos desafios em que a segurança estará no centro das atenções.
No entroncamento político do Entroncamento houve descarrilamentos mas a população fez um desvio de agulha com “sucesso” nos carris e fê-lo com estrondo.
Ricardo Alves