Senhor Dr. António Costa,
Como sei que tem relações de proximidade com o atual primeiro-ministro de Portugal, gostaria que tivesse a gentileza de ler-lhe esta missiva que dispensa as palavras de “sete e quinhentos” que, por norma, ornamentam as cartas dirigidas às mais altas instâncias do país. Eu sei que o respeitinho é muito bonito, mas optei pela genuinidade e essa, a genuinidade, nunca representou falta de respeito.
Rogo-lhe, Dr. António Costa, que peça ao senhor primeiro-ministro de Portugal uns breves minutos do seu tempo para perscrutar o que a comunidade docente pensa do seu sistema de avaliação de desempenho.
Lembre ao nosso primeiro-ministro que foram os professores que o ensinaram a juntar as letrinhas que o levaram a aprender a ler, que o ensinaram que a matemática não são só números, que o ensinaram a interpretar os fundamentos da Lei, que o ensinaram no difícil mister de ser político. Lembre-lhe que esses professores que contribuiram, decididamente, para fazer dele primeiro-ministro de Portugal, são os mesmos, embora com nomes diferentes, que hoje pugnam por um sistema de avaliação justo e transparente.
Dr. António Costa, peça, encarecidamente, ao senhor primeiro-ministro de Portugal, que reserve um “poucochinho” do seu tempo para perceber o absurdo das quotas; para perceber a opacidade do sistema que permite todo o tipo de arbitrariedades na atribuição das menções de mérito; para perceber o despropósito da não divulgação das listas nominativas da atribuição dessas menções de mérito, ferramenta imprescindível à transparência do sistema; para perceber o despautério de um professor com 30 anos, ou mais, de ensino e com avaliações quantitativas de nível excelente estar retido no 4º escalão; para perceber a ostracização, mais ou menos declarada, de quem reclama e recorre; para perceber que o ambiente, em algumas Escolas, nos remete para o Portugal que não queremos de volta; para perceber que, quase 50 anos depois de Abril de 74, haja quem sinta o logro de um sistema que se apelida de democrático e que, por via disso, deveria ser muito mais justo.
Há evidências tão gritantes que dispensam o burro da Calçada de Carriche.
Dr. António Costa, lembre ao nosso primeiro-ministro que não vale a pena endossar estas preocupações para o ministro da tutela. A presença do senhor ministro da educação é mais notada em eventos desportivos com mediatismo planetário, mesmo que terminem com uma discussão acalorada, num qualquer parque de estacionamento, do que em assuntos de interesse geral para a classe. Deve ser por falta de tempo.
Os professores estão tristes, revoltados, desmotivados e caminham para uma atuação de letargia absoluta, em relação à profissão que escolheram, na grande maioria dos casos, como primeira opção. Os professores, Dr. António Costa, estão fartos de serem desprezados, desautorizados, esquecidos e, quando não, relegados para um plano que nem os mais pessimistas cogitariam.
Dr. António Costa, lembre ao senhor primeiro-minstro que o que está em causa é o futuro de Portugal. Nem sempre o que dá lucro imediato é o melhor para o país, como se viu, com a recente realização de um evento desportivo, na cidade do Porto, e a consequente saída de Portugal do corredor verde de Reino Unido. Ademais, o que se gasta na educação não é uma despesa, é um investimento.
Agradeça, por mim, ao nosso primeiro-ministro, a atenção dispensada. O meu neto e, muito provavelmente, todos os netos deste país, ficarão agradecidos pelos 5 minutos que o senhor primeiro-ministro dispensar ao futuro deles.
Muito obrigado, Dr. António Costa.
Com os melhores cumprimentos e elevada estima,
Francisco José Pereira Gonçalves, Entroncamento















