O Covid19 trouxe-nos de repente para um cenário imersivo, como se tivéssemos entrado numa dessas experiências lúdicas hoje em voga em que somos confrontados com vivências complexas, por vezes próximas do ambiente dos filmes de terror. Já tínhamos visto filmes de ficção parecidos com isto. Mas olhávamos sempre para eles precisamente como exercícios de ficção em que a imaginação chegava bem longe.

Não estávamos, à exceção de alguns cientistas e investigadores, minimamente preparados para que nos acontecesse. Mas a verdade é que aconteceu, primeiro como uma notícia longínqua que se esperava fosse ficando a oriente, depois aproximando-se aos poucos, e de repente com uma velocidade muito mais vertiginosa do que as nossas expetativas.

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Em escassas semanas, o mundo inteiro apercebeu-se da dimensão imparável dos danos (o mundo quase inteiro, porque os céticos do costume continuaram a duvidar) e da necessidade imperiosa de atuar rapidamente para evitar uma tragédia colossal. Para alguns, como aconteceu com Itália e mesmo com Espanha, já demasiado tarde para evitar o colapso do sistema da saúde.

Em Portugal, felizmente, houve tempo e coragem de atuar a tempo, desde logo a nível nacional, mas também no Médio Tejo e nos vários concelhos que o constituem. Os dados [escrevo a 6 de abril, um dado fulcral porque nos movemos em dias de absoluta incerteza em relação ao que é hoje verdade e ao que o será amanhã] mostram como o nosso país conseguiu, para já, atenuar a curva de contágios, dando algum alívio ao Serviço Nacional de Saúde para conseguir tratar os que já estão doentes e se preparar para o inevitável crescimento desse número num futuro próximo.

E o Serviço Nacional de Saúde demonstrou que, apesar de todas as fragilidades que lhe reconhecemos, continua a ser uma das mais-valias do Estado Português. Comparem com as notícias do que se está a passar nos Estados Unidos e verifiquem se, de facto, não estamos muito mais protegidos, a população inteira, do que os americanos.

Fazer o que foi feito em Portugal implicou riscos. Muitos. Mas o risco maior seria perder vidas. Ouvimos responsáveis de várias partes do mundo minimizarem essa questão, preferirem salvar a economia a salvar os grupos de risco. Felizmente, nós optámos pelo lado certo. Não conseguiremos salvar todos, seria impossível. Mas salvaremos tantos quantos a nossa capacidade de evitarmos o contágio, cumprindo uma obrigatoriedade de recolhimento que é dura, que não é nada natural aos nossos hábitos de sociabilidade, mas que é neste momento o bem mais precioso que temos.

Ficar em casa, neste momento, é ajudar a salvar vidas. Nunca foi tão simples ser solidário.

Por isso, tenham mais alguma paciência, fiquem em casa e salvem vidas.

Anabela Freitas

Presidente da Câmara Municipal de Tomar

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