Estamos demasiado perto do dia em que nos obrigam a sorrir porque assim tem de ser. Assim que o dia 1 de dezembro aparece no calendário, carregado de energia positiva, gargalhadas bem altas e ações de bondade infinitas, algo de muito perturbador acontece no interior de quem não consegue sentir o espírito natalício.
Talvez, e isto só de uma tentativa de adivinhação, sejas essa pessoa.
As luzes estão demasiado brilhantes, não estão? Brilham fortemente nas ruas, mas tu não és capaz de esquecer o frio. Iluminam elegantemente as montras com os presentes da moda, mas tu não os desejas. Decoram acolhedoramente as casas, menos a tua. A tua continua naquela sombra que só tu consegues sentir. Este ano, as luzes não brilham dentro de ti.
Há quem adore esta época, e tu também adoravas. As festas, os reencontros e até os embrulhos debaixo da árvore. Mas este ano, se pudesses, arrancavas dezembro do calendário e paravas tudo. Porque sabes que as luzes, para quem carrega a escuridão, não iluminam nada. Apenas ofuscam.
Se leste até aqui e acenaste a cabeça mais vezes do que gostarias de admitir, talvez tenhas percebido que este ano não encaixas neste dezembro de felicidade obrigatória. Quero que saibas que eu vejo-te. Já estive aí. Onde a vontade de desaparecer é bem maior do que qualquer resolução para o próximo ano. Também já pensei que o mundo não sentiria a minha falta. Na verdade, acreditava que a minha ausência seria a solução, e não um problema. Sei o peso que carregas ao estar rodeado de pessoas e, ainda assim, sentires-te sozinho. Sei o que é olhar para a vida e não encontrar razões para continuar. Não me perguntes como. Apenas sei. Sei da mesma forma que tu o sabes para ti.
Mas vou partilhar contigo algo que alguém muito especial me disse num momento de profunda dor: “A dor é passageira, mas a glória é eterna.”
O que sentes agora não é eterno. A dor, mesmo que insuportável, não é a vida inteira. O mundo precisa de ti, mesmo que não o consigas ver neste momento. O teu lugar ainda agora começou a ser construído. E, por mais sozinho que te sintas, há pessoas, algumas que ainda nem conheces, que estão e vão precisar de ti. Da tua palavra amiga, do teu abraço carinhoso, da tua presença essencial.
Sei que este mês pode ser cruel, porque obriga-nos a ver o que nos falta. E isso não é fácil. Nunca o é. A vontade pode ser de ir, mas por ti, este mês, escolhe ficar. Por ti. Por tudo o que ainda está por vir. Tens tanto para sentir. Tens, sem dúvida, muito para viver. Agora parece uma ideia absurda, eu sei. Mas um dia vais sair de casa e vais sentir o sol a aquecer-te a pele, mesmo em pleno inverno. E vais rir. Vais rir muito, sem esforço, sem aviso. E quando esse dia chegar, vais agradecer. Vais agradecer por teres resistido a este dezembro.
Se hoje não consegues sorrir, tudo bem. Não precisas. Só precisas de ficar. Ficar um dia de cada vez. Um minuto de cada vez. Eu estou aqui contigo, e quero que saibas: o peso que carregas não precisas de o carregar sozinho.
Lembra-te:
Tu podes apagar as luzes da tua casa, mas haverá sempre alguém, algures, a segurar uma vela por ti.
Eu sei que estou.
SANDRA MAY
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