Vejo todos a discutir.
Vejo-os em mesas redondas, em painéis de especialistas, em discursos inflamados no LinkedIn, em podcasts e em artigos que se espalham como fogo.
O tema? A Inteligência Artificial.
O tão adorado e controverso assunto e as perguntas que, em tempos, só assistíamos nos filmes:
“Vai salvar-nos ou destruir-nos?”
“Tornar-nos-á mais produtivos ou mais irrelevantes?”
Visto de fora, parece que estou a assistir a um enredo distópico em tempo real. Observo o medo e a euforia misturarem-se num copo que ninguém sabe ao certo em que irá resultar. Terá sabor?
É errado ver o mundo tão entusiasmado com este avanço tecnológico sem precedentes? Não. Também eu estou fascinada, curiosa e imaginativa, porque se há algo que sabemos fazer bem é criar, inovar e desafiar os limites do impossível.
Mas enquanto os observo, apercebo-me de algo inquietante.
Estamos tão empenhados em conectar-nos com as máquinas que nos esquecemos de nos conectar uns com os outros.
Não me interpretes mal. Repito: esta evolução é extraordinária. Mas também gostaria de ver o mundo igualmente dedicado a ver-se, a sentir-se, a reconhecer-se.
A tecnologia sempre foi uma extensão da humanidade, mas hoje parece que procuramos nela um substituto. E aqui nasce um paradoxo: quanto mais avançamos, mais nos distanciamos.
Ultimamente, tenho-me permitido contemplar. Observar o que faço, quem encontro, quem cruza o meu caminho. E posso dizer-te que ver-vos sem que se apercebam tem sido mais assustador do que imaginar um dia em que um robô possa aniquilar a humanidade.
Porquê?
Porque as conversas tornaram-se transações.
Porque os olhares perdem-se nos ecrãs.
Porque os abraços, os beijos, o toque, foram substituídos por emojis.
Pode parecer absurdo, mas é a nossa realidade.
As máquinas vão continuar a evoluir porque as ensinamos. Mas há algo que elas nunca nos poderão ensinar: a sermos humanos.
E então pergunto: quem nos ensina a ser humanos?
Nenhuma IA pode provocar aquele arrepio na pele quando ouvimos a música certa. Nenhum algoritmo pode replicar o instante em que os nossos olhos se cruzam com alguém e, sem palavras, nos sentimos compreendidos. Nenhuma máquina pode carregar o peso de uma mão sobre um ombro num momento de dor.
Nada tecnológico nos poderá ensinar a sentir.
E, no entanto, não vejo esta verdade a ser debatida.
A tecnologia pode – e deve – ser um amplificador do que somos, mas tentar transformá-la no espelho da nossa essência? É iludir-nos de que o amor se fabrica.
É acreditar que a humanidade se mede em eficiência, quando sabemos que se mede em empatia. Não nos aperfeiçoamos com código, mas com experiências. Com o amor e a perda, com a partilha e o arrependimento.
Por isso, enquanto o mundo continua a discutir o futuro, eu escolho lembrar-te disto:
Se há algo que nos torna insubstituíveis, é a nossa capacidade de sentir, de criar, de amar. A máquina pode prever padrões, mas só nós podemos escrever poesia.
E enquanto nos lembrarmos disso, nunca seremos irrelevantes.






















