E se, por um momento, colocarmos a hipótese, aquele “e se”, em algo que ninguém tem coragem de colocar?

Imaginemos: e se não for a persistência que te salva, mas a rendição? E se tudo aquilo que insistes em segurar for, justamente, o que te afoga?

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Talvez nos tenhamos viciado na ideia de que desistir é perder. Como se a vida fosse um tabuleiro onde se ganha por cansaço. Como se continuar, mesmo sem vontade, fosse mais nobre do que reconhecer que algo já não nos serve.

Mas há um momento. Aquele momento raro, silencioso, desconfortável, em que o universo inteiro parece sussurrar: “Se largares, eu empurro-te noutra direção.” E nós resistimos. Por algum motivo, aprendemos a temer a desistência como se fosse um pecado capital.
Mas… e se for precisamente a coisa boa que a vida está à espera que faças?

Já pensaste que talvez a resposta que tanto procuras só possa surgir no vazio que deixas quando abandonas aquilo que já devia ter morrido dentro de ti?

Talvez o amor que nunca veio não venha porque estás a ocupar a tua vida com ausências que fingem presença. Talvez o livro que ainda não escreveste esteja sufocado debaixo das ideias que guardas só para agradar. Talvez o silêncio que te assusta tanto seja, afinal, a tua língua materna esquecida. Talvez aquela pessoa que tanto tentas mudar seja, secretamente, o espelho que te obriga a olhar para tudo aquilo que ainda não queres curar.

E se não for sobre lutar mais… mas sobre parar de lutar contra ti?

Uau.
Nunca pensei tornar-me tão repetitiva neste mantra. Já escrevi tanto sobre ele.
Só insisto porque sei o quanto dói pegar numa folha em branco quando todos os outros juraram ter lido e relido as nossas páginas. E ainda assim dizem o quanto gostam de nós exatamente assim. E admiram com imenso orgulho o que fazemos. E nós temos a ousadia de… simplesmente mudar?

Sim. É exatamente isso.

Desistir pode ser, na verdade, um ato de coragem. Um manifesto íntimo de amor-próprio. Uma forma sagrada de dizer: “Eu não vim a esta vida para sobreviver ao que me esmaga. Vim para criar o que me expande.”

Hoje, deixo-te esta pergunta, sem mapa, sem resposta certa: O que na tua vida ainda estás a segurar por medo de não saber quem és sem isso?

Lembra-te: há coisas que não se vencem. Libertam-se. E há sonhos que só se tornam reais quando tens a coragem de largar os que já morreram. Algures. Num outro tempo. Quando tu vestiste outra pele e, ainda assim, escolheste insistir em ir contra o universo.

SANDRA MAY

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