Foto EOL

Com o Centro Cultural do Entroncamento completo com os convidados, Manuel Fernandes Vicente apresentou ao final da tarde de ontem o seu novo livro O Vento das Sete Serras, um trabalho de grande fôlego, de pesquisa, de psicogeografia, de reportagem, de memórias e de reflexões, mas sobretudo de histórias humanas do alto das montanhas, que em muitos casos lhe foram contadas por gentes que as habitam há gerações e que encontraram no autor um cúmplice sempre pronto para as ouvir, e agora para as recontar aos seus leitores nesta sua quinta obra. A acompanhar o escritor entroncamentense estiveram, na mesa, a vereadora do município Tília Nunes e os professores Maria José Ventura e José Manuel Ventura, e entre os assistentes, que encheram o espaço cívico da cidade, muitos amigos do autor, da adolescência, de Coimbra, “dos tempos das maratonas e meias-maratonas”, colegas e antigos colegas da Escola Dr. Ruy d’Andrade e alunos e ex-alunos entre muitos outros amigos que se quiseram associar ao evento.

Foi a vereadora Tília Nunes, em substituição do presidente da Câmara do Entroncamento, que se congratulou pela apresentação desta nova obra de Manuel Fernandes Vicente, comentando o contexto da realização da obra e felicitando o escritor. Maria José Ventura e José Manuel Ventura, docentes no âmbito da literatura portuguesa da Escola Secundária do Entroncamento, analisaram depois literariamente o conjunto da obra dividida em dez capítulos que abordam, entre outros temas, “Tribos e Comunidades”, “Rostos”, “Mistérios”, e “Caminhos e Paisagens Culturais”, onde as paisagens serranas são o princípio e uma presença habitual, apesar de o livro estar longe de se esgotar nelas. Maria José Ventura sublinhou a poesia e a emoção de alguns trechos de O Vento das Sete Serras que, apesar de serem escritos em prosa, deixam muitas vezes transparecer o mais profundo sentir do ser humano e da autenticidade dos que nelas se deixaram ficar. Os dois, marido e mulher, detiveram-se na consideração de vários textos/reportagens incluídos no livro, sublinhando-lhes os aspetos que mais revelam as suas qualidades e características, tendo Maria José Ventura emprestado a sua voz, que não deixava esconder uma emoção sentida, à citação de várias passagens do livro, como foram os casos de fragmentos de “Moinhos e Moleiros”, “O Cabo Espichel e a antiga apanha de algas” ou “Os incertos fenómenos do Entroncamento”.

PUB

Manuel Fernandes Vicente optou por pautar a apresentação do seu livro com um PowerPoint produzido para o efeito e que funcionou na prática, com as fotografias e as legendas, como um entreabrir de algumas portas para espreitar para o interior da obra de quase 600 páginas. Confessando-se adepto das caminhadas, mas mais as solitárias que o ir em pelotões, e manifestando o prazer extra de as desenvolver sobretudo nas montanhas, perdendo-se pelos caminhos para poder encontrar algo de diferente, deu conta dos muitos quilómetros em que se desfizeram os seus passos para se chegar aos trabalhos escritos que o livro agora reúne e procura dar coesão. E foi passando as fotografias obtidas com citações ou breves comentários, recordando as histórias de algumas reportagens e detalhes que ajudaram a compreender o seu trabalho entre a pesquisa, o conhecimento e algumas singularidades, das montanhas visitadas e de outros caminhos e paisagens culturais ou não. Assim, foi discorrendo sobre os malteses do Alentejo, a chanfana, os espaços agora abandonados, mas que já cintilaram de seres humanos e vida (como as minas de Regoufe), a importância de preservar as identidades por parte de quem ainda as possui e as histórias do gelo produzido na Serra de Montejunto e que era conduzido por asnos, galeras e barcos até chegar ao terreiro do Paço para ser transformado e ser servido como sorvetes ao rei, à corte e à burguesia mais abastada de Lisboa de há muito tempo atrás.

PUB