PUB

Um total de 103 militantes do Bloco de Esquerda (BE), todos identificados pelo nome e número de aderente, anunciaram a sua saída do partido através de um documento intitulado “Porque saímos do Bloco de Esquerda”, divulgado pela distrital de Santarém. Entre os subscritores está o antigo deputado Carlos Matias.

No manifesto, os ex-militantes denunciam várias práticas da atual direção bloquista, acusando-a de se ter afastado da construção de uma alternativa sólida à esquerda, optando por uma linha estratégica que, segundo afirmam, foi irremediavelmente moldada pela experiência da geringonça. “As propostas políticas são sistematicamente buriladas, quando não metidas na gaveta, na esperança de virem a ser aceites pelo PS”, pode ler-se no documento.

PUB

Os signatários afirmam ainda que as críticas agora tornadas públicas foram, ao longo dos anos, apresentadas internamente, inclusive na Convenção Nacional do partido. No entanto, acusam a direção de rejeitá-las sistematicamente e de não assumir responsabilidades pelas sucessivas derrotas eleitorais, preferindo, dizem, justificar-se com as dificuldades da conjuntura.

Entre as acusações mais duras, está a de práticas laborais internas que “envergonhariam muitos patrões”, com menção a situações envolvendo funcionárias aleitantes. Criticam igualmente a alegada centralização das decisões, nomeadamente na escolha de candidatos a deputados e no controlo da constituição de núcleos, bem como na distribuição de recursos, que dizem estar dependente da fidelidade “ao centro único”.

Os militantes demissionários denunciam um deslizamento para um “centralismo democrático castrador e sem democracia” e consideram bloqueada qualquer possibilidade de regeneração interna. “Por isso saímos”, concluem.

BE reage e lamenta desfiliações

Em resposta, o secretariado do Bloco de Esquerda confirmou ter recebido 89 pedidos de desfiliação, referindo que dois terços são provenientes da concelhia de Salvaterra de Magos. O órgão dirigente associou estas saídas a uma iniciativa da antiga corrente interna Convergência, que já teria programado o abandono coletivo do partido. “O primeiro anúncio como este ocorreu há três meses, lançado em nome de um conjunto de aderentes de Portalegre”, recorda o secretariado.

A direção do BE reforça que o processo de desfiliações estava anunciado “há muito”, e decorre apesar da decisão recente da Mesa Nacional de relançar o processo de Convenção, com o objetivo de permitir a apresentação de diferentes correntes e opiniões no novo contexto político.

“O Bloco lamenta todas as saídas de aderentes”, declarou o secretariado, sublinhando que “este é o tempo de juntar forças, de reforçar o debate e a cooperação, e não de abandono, sectarismo ou fragmentação à esquerda”.

PUB