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Auto-Impulsionado por uma pregação recente dei comigo a revisitar um dos textos que escrevi sobre o tema da fé e dos cristãos na política, local, nacional e internacional.
Na democracia cristã o alfa e o ómega da política corresponde e identifica-se com o exercício do poder ao serviço do bem-comum. Como poderemos encontrar justificação para a participação dos cristãos na vida política nos diferentes níveis ? O Concílio veio lançar luz sobre esta questão através da Constituição “Guadium et Spes”. Ali se definem responsabilidades para o povo de Deus. Os cristãos são exortados a cumprirem fielmente os seus deveres temporais. Deixando-se conduzir pelo Espírito do Evangelho. Segundo “Guadium et Spes , leia-se, “Aqueles que são ou podem tornar-se capazes de exercer a arte muito difícil, mas ao mesmo tempo muito nobre , da política devem preparar-se para ela; para que se entreguem a ela com zelo. Sem se preocuparem com o seu interesse pessoal nem com as suas vantagens materiais”.
Pergunta-se: devemos falar de uma política cristã ou de cristãos na política? O Concílio responde: ” No terreno que lhe é próprio, a comunidade política e a Igreja são independentes e autónomas. Mas ambas, embora a títulos diferentes, estão ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens”. Em 2002 o futuro Papa Bento XVI numa nota aprovada por João Paulo II escreveu o seguinte: ” quando a acção política se confronta com princípios morais que não admitem abdicações, excepções ou compromissos de qualquer espécie, é então que o empenho dos católicos se torna mais evidente e provido de responsabilidades “. O então cardeal Ratzinger reportava-se, nem mais nem menos, a exigências no plano da ética, fundamentais e irrenunciáveis, relativamente ao aborto, à eutanásia, etc.
Infelizmente muitos dos valores que herdámos da tradição judaico- cristã acabaram transmutados numa certa doutrina sintomaticamente apelidada pelos estudiosos de ” religião civil “, sem referência a Deus transcendente, sem fé por assim dizer. Em suma: uma sociedade secularizada de práticas pseudo-religiosas.
Não se estranha que um programa político possa adoptar em certa medida a perspectiva crente, concentrando-se na pessoa humana de acordo com o conteúdo da fé cristã. Deus é o centro de gravidade da fé cristã e cada pessoa em particular é objecto da mediação divina, e não há não existe nenhum sistema justificante. Daí a doutrina personalista que mais não é do que o reconhecimento de que cada pessoa humana é criada à imagem de Deus.
Nesta maré em que partidos de esquerda e outros ateístas procuram impor a sua agenda sobre as chamadas “causas fracturantes” impõe -se trazer para a discussão pública a questão da ética e da moral na política. A perspectiva da filosofia de Sartre assente na opinião de que o homem com a sua acção tudo cria, inclusive, a própria moral não é seguramente válida para o crente, em particular, para o católico social democrata português.
A filosofia moderna, segundo Sartre, procurou suprimir a existência de Deus conquanto tenha mantido “suspensos no ar” os princípios morais outrora considerados divinos…
Sartre e os seus seguidores almejaram deixar cair pela base a existência objectiva desses “preceitos superiores”.
No fundo, seria agora o homem , actuando em plena liberdade, nos planos da sinceridade ou coerência, o criador do acto, da norma, e da sua própria personalidade.
Uma das características do existencialismo de Sartre consiste em ir muito mais longe do que os filósofos racionalistas do chamado “ateísmo tranquilo” o qual apenas terá suprimido “a existência de Deus”. Diz Sartre que “resta ao homem actual suprimir o resto para se fazer incinerar após uma vida de alegria”. Anda aqui uma excessiva carga sexualmente ligada a ideia de Camus sobre “as
verdades únicas da carne”.
Esta mentalidade existencialista é contudo contestada e constitui causa sem apelo.
Esquecem-se os existencialistas de que a acção do homem tem de se ordenar em relação a algo e que só tem lugar quando existe uma finalidade exterior a essa mesma acção!
Só importa verdadeiramente manter a vida se houver um sentido e uma finalidade.
A resposta às angústias que o existencialismo de Sartre produz encontra-se na ética cristã
, a saber, conjunto de princípios e valores morais bíblicos.
A busca da perfeição, da santidade, só se entende como possível através do esforço humano e da graça divina.
O personalismo cristão é a única via que garante a dignidade do ser humano.
Faltam cristãos na política.
José Luz (Constância)
PS- Não uso o dito AOLP.














