Com a aproximação do Natal, festa do nascimento de Deus-Menino, mais uma vez nos vemos parcialmente confinados por vicissitudes de uma pandemia, em que nem sempre as decisões políticas são totalmente transparentes.
Parece que o vírus ataca mais por ocasião das festas católicas mas sobre o assunto, saberá a maioria ateia que nos (des)governa, a qual está de saída no rescaldo de mais uma derrota que dá pelo nome irónico de eutanásia…
Felizmente, não vivemos ainda em Portugal num sistema em que o ateísmo seja preponderante ainda que o perigo exista, seja real, e não possa ser ignorado. Eles andam aí e têm força nas instituições…
Só os falsos humanistas poderão desprezar as lições da história decorrentes dos horrores dos sistemas ateus. O homem só tem dignidade, em liberdade de acção e de pensamento e dentro da moral cristã. O fim de qualquer lei, de qualquer decisão política, só pode ser o próprio homem em si, à luz da doutrina social da Igreja.
Já assim pensava Sá Carneiro, defensor do personalismo de Mounier.
A ideologia ateísta, inversamente, não se dirige ao homem enquanto fim, enquanto indivíduo que busca a perfeição, a santificação. No ateísmo o indivíduo deve ser anulado. Quem não percebe isto não sabe o que é ser ateísta. E quem não encontrou ainda Deus, está perdido. E leva os outros à perdição eterna. Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus para um dia sermos perfeitos. São Paulo pregou pelo Espírito Paráclito que, no fim dos tempos, Deus será tudo em todos. Fomos criados para atingir a perfeição. É aí que reside a nossa dignidade. Cada homem é um ser único e irrepetível. É um projecto individual do divino. Quando os ateístas valorizam algo ou alguém é pura instrumentalização para os fins do partido e da ideologia. Esse mal tem um nome na Revelação. Anda por aí escondido e disfarçado. A carne é fraca e o ateísmo explora essas fragilidades para atingir os seus fins. Não importa os meios. E com isto estamos já numa fase superior de consciencialização de verdades de ontem que aprendiamos e que começaram há muito a fazer sentido.
No início procuram a simpatia dos vivos e adocicam o seu corpo e alma. Sob a capa da democracia fazem-se auditores das suas opiniões até ao seu “baptismo “. E, uma vez irmanados, anula-se o homem e o indivíduo, e sobrepuja o aparelho, essa entidade oculta.
O ateísmo tende para a ditadura e para a supressão das liberdades, não admitindo pontos de vista contrários, o que é contrário à democracia e à natureza humana. Nega a participação daqueles que se lhe opõem ostracizando sempre a parte da sociedade que se lhe opõe. Não nos esqueçamos que o ateísmo pretende ser uma forma optimizada de suposto conhecimento dito científico. É um sistema rígido por natureza. Que admite nas suas origens a utilização de métodos violentos para compelir à unidade. Ao cercear a participação democrática, o ateísmo mata a criatividade, a diversidade e por assim dizer, não permite a dinâmica. Vive em circuíto fechado. E sujeita-se à implosão. É contrário às leis naturais. O homem é egoísta por natureza. Como poderia o homem colocar a sua consciência social acima do egoísmo, sem Deus? O desenvolvimento não é compatível com a ideia de uma igualdade absoluta.
Para ultrapassar de vez o ateísmo poderíamos começar por desmontar a ideia de que se trata de algo científico. Mark terá escrito um corpo de conhecimentos sobre a história e os que se aproveitaram do seu legado foram mais longe…
A visão pueril marxista de um futuro em que todos seriam iguais, perfeitos, em que o Estado desapareceria, em que a violência seria suprimida, sendo incompatível com a natureza egoísta do homem, é reveladora da fragilidade de toda a teoria em si mesma. Nem tudo é inédito em Mark e no comunismo. Há pontos em comum entre o platonismo e o marxismo…
Na democracia cristã, contrariamente ao marxismo, o alfa e o ómega da política é o exercício do poder ao serviço do bem-comum. Como entender pois a participação dos cristãos na vida política? O Concílio veio lançar luz sobre esta questão através da Constituição “Guadium et Spes”. Ali se definem responsabilidades para o cristão. Os cristãos são exortados a cumprirem fielmente os seus deveres temporais. Deixando-se conduzir pelo espírito do Evangelho. Segundo “Guadium et Spes”, cita-se, “Aqueles que são ou podem tornar-se capazes de exercer a arte muito difícil, mas ao mesmo tempo muito nobre , da política devem preparar-se para ela; para que se entreguem a ela com zelo. Sem se preocuparem com o seu interesse pessoal nem com as suas vantagens materiais”.
Pergunta-se: devemos falar de uma política cristã ou de cristãos na política?O Concílio responde: ” No terreno que lhe é próprio, a comunidade política e a Igreja são independentes e autónomas. Mas ambas, embora a títulos diferentes, estão ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens”. Em 2002 o futuro Papa Bento XVI numa nota aprovada por João Paulo II escrevia o seguinte: ” quando a acção política se confronta com princípios morais que não admitem abdicações, excepções ou compromissos de qualquer espécie, é então que o empenho dos católicos se torna mais evidente e provido de responsabilidades “. O então cardeal Ratzinger reportava-se, nem mais nem menos, a exigências no plano da ética, fundamentais e irrenunciáveis, relativamente ao aborto, à eutanásia, etc.
Infelizmente muitos dos valores que herdámos da tradição judaico- cristã acabaram transmutados numa certa doutrina sintomaticamente apelidada pelos estudiosos de ” religião civil “, sem referência a Deus transcendente, sem fé por assim dizer. Em suma: uma sociedade secularizada de práticas pseudo-religiosas.
Portugal tem ainda partidos políticos cujos programas parecem adoptar a perspectiva crente concentrando-se na pessoa humana de acordo com o conteúdo da fé cristã.
Deus é o centro de gravidade da fé cristã e cada pessoa em particular é objecto da mediação divina, e não há não existe nenhum sistema justificante. Daí a doutrina personalista clássica que mais não é do que o reconhecimento de que cada pessoa humana é criada à imagem de Deus.
Quaisquer promessas ideológicas no sentido da criação de estruturas justas que funcionem por si mesmas, sem a necessidade de uma modalidade individual prévia, serão sempre promessas falsas. A moralidade comum… não existe. É um falso mito. Com demasiadas vítimas.
José Luz (Constância)
PS- não uso o dito AOLP















