Foto de Cláudia Miranda
  1. O que destaca no seu programa

O Bloco integra as diferentes áreas numa estratégia de três eixos: ambiente, criatividade e segurança.

Ambiente porque tudo o que possamos fazer neste momento para reduzir o nosso impacto já vem tarde. Há medidas locais que andamos a adiar, como valorizar e privilegiar a mobilidade suave. Temos de criar condições para que seja mais fácil e sobretudo mais seguro andar na rua, deslocarmo-nos a pé, de bicicleta ou de outros meios não poluentes.

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Criatividade porque são necessárias políticas criativas e inovação para lidar com desafios atuais e de futuro. Políticas que equilibrem a necessidade da economia e do emprego com a preservação dos recursos.

E segurança porque nenhuma política, por mais ambiciosa e bem implementada que seja, resiste à falta de segurança, à falta de pessoas nas ruas, em liberdade, em proximidade, em interação e em fruição do espaço público.

O Entroncamento tem condições de exceção, é uma cidade com uma área pequena mas com problemas de circulação e segurança.

Para que as pessoas voltem a criar hábitos de circulação na rua, é preciso disponibilizar infraestruturas adequadas e fiscalizar. A segurança na rua passa por reformular a rede viária e por lidar de forma decidida e cabal com o desleixo e o desrespeito pelo espaço público.

Queremos promover o concelho como centro industrial e de tecnologias da ferrovia. O comboio não serve apenas para um museu ou para um logótipo simplista da cidade, é um meio de transporte de futuro. E ambientalmente equilibrado.

A Escola Camões tem de ser recuperada e aí poderá ser instalado um centro de investigação tecnológica. De modo a atrair mais negócios na área dos transportes e da logística, e o interesse dos jovens e estudantes por áreas de futuro.

A temática ferroviária pode aplicar-se a outras iniciativas, como eventos de Arte, Literatura e Criatividade, que dinamizem a cidade e atraiam pessoas.

Também gostaríamos de destacar a proposta de criação de um concurso de Inovação Ambiental, Económica, Cultural e Social, para estimular e premiar a participação e as ideias criativas e inovadoras.

São medidas que visam trazer para o concelho novas ideias e práticas, também com uma componente económica que lhes garanta continuidade. Por outro lado, acentuam a procura de participação das pessoas, do seu contributo para o desenvolvimento de novas formas de cidade.

A ideia de que as propostas são criadas em gabinetes, sem participação cívica para além do momento do voto, promove o desinteresse das pessoas no sistema e na sua própria capacidade de influenciar as decisões.

Nós queremos incentivar a participação das pessoas. Queremos perceber de que forma é que a vida da cidade pode melhorar, de acordo com a própria cidade, com quem a habita.

As instituições da cidade, desde as escolas às empresas, podem ter um papel relevante na dinamização de ideias inovadoras em várias áreas. Mas é preciso que estejamos disponíveis para as estimular, ouvir e apoiar.

  1. Porque acha que deve ser eleito

Sou uma pessoa ligada à gestão de projetos e à criatividade. O meu trabalho há muitos anos é arranjar soluções que funcionem e sejam eficientes. Tenho uma preocupação de clareza, de planeamento e de pormenor. Trabalho em áreas em que não se pode ficar para trás em relação ao progresso. Em que temos de nos manter atuais e saber o que é feito de novo, o que resulta, como fazer.

E isso é algo que eu acho que falta ao Entroncamento. Falta planear e executar a pensar que o futuro é já, que não podemos adiar as soluções para problemas todos os dias mais sérios. Continua a pensar-se e a fazer-se a cidade da mesma forma há décadas.

Veja-se o caso das ciclovias. É absurdo continuarmos a fazer ciclovias aparentemente sem o mínimo conhecimento do assunto, de como são usadas e das questões de segurança envolvidas. Estas “coisas” que se fizeram na Rua Eng. Ferreira de Mesquita, e que me recuso a chamar ciclovia, são tudo o que não devemos fazer, são uma forma de mostrarmos que a mobilidade suave não é uma prioridade.

E, pior, não é apenas serem inúteis, é serem perigosas e criarem uma sensação de desperdício de dinheiro em algo que não é usado. E, claro, aumentam a resistência das pessoas a estes projetos, que são estratégicos se forem enquadrados numa rede de mobilidade sustentável, e não como experiências avulsas.

O que mais me choca nos muitos anos que levo a viver no Entroncamento é o desleixo, um problema transversal a várias áreas. Desde a goteira em cima da porta onde entram os atletas e técnicos no pavilhão municipal, que desde a inauguração apanham banhos em dias de chuva, até ao piso estragado das ruas continuamente rasgadas para intervenções de serviços. Há espaços que carecem de intervenção há anos, senão décadas. Há dejetos humanos na zona da Urbanização do Bonito. Há espaços degradados e sem manutenção, que convidam ao vandalismo.

  1. O que faltou fazer no último mandato

Eu não entro no comboio de quem diz que este executivo não fez nada. Grande parte da sua ação centrou-se no aproveitamento de apoios comunitários, em parte até para obras indispensáveis.

E também tenho memória de executivos anteriores e de qual foi o resultado daquilo que fizeram no concelho: desordenamento, custos em obras mal projetadas e mal executadas, dívida em investimentos não reprodutíveis, espaços verdes com custos absurdos, ambientais e de manutenção, etc.

O que identifico em ambos é uma falta de estratégia integrada para o concelho, uma ideia da cidade de futuro, que atraia e responda às necessidades das pessoas a longo prazo, em que se compreenda o objetivo e o alcance dos projetos e dos investimentos.

E que resolva realmente este problema de desleixo generalizado.

A nossa abordagem não passa por obras avulsas, por inaugurações isoladas, desligadas de um projeto de continuidade. Temos de ultrapassar esta ideia caduca de criar ou recuperar equipamentos que depois estão fechados a maior parte do tempo, com pouca ou quase nenhuma utilização. O custo de recuperar ou construir um equipamento que não tenha utilidade é absurdo. Um exemplo é a recuperação do Cine-teatro São João, que teria sido uma oportunidade de alargar as suas valências, de o tornar mais quotidiano, para criar hábitos de visita, de apropriação do espaço.

E essa é uma área em que o concelho é muito deficitário. Tem de haver uma prática cultural a sério, com uma programação organizada e regular para os equipamentos culturais, para públicos diversos e que envolva a comunidade e as várias entidades.

Numa área cultural que tem sido sobejamente desprezada, acreditamos que deve haver um polo agregador de atividades ligadas à cultura, às artes, à criatividade e à tecnologia, a funcionar – porque não? – em torno de uma nova biblioteca, há anos reclamada mas sempre adiada.

Muita gente acha que ficou por fazer neste mandato (e nos anteriores, há décadas) nem sequer é da responsabilidade direta da Câmara. Falamos da construção de uma nova esquadra da PSP e o reforço dos seus efetivos na cidade. Mas, aqui, as autarquias têm de fazer-se ouvir com firmeza e não cair numa passividade cúmplice com a inação do governo, só porque é da mesma maioria PS que tem governado a Câmara.

  1. O Entroncamento é uma cidade segura?

Segundo os registos oficiais, é. Segundo muitos munícipes, não é.

Eu, até pela minha formação como psicólogo, tendo a dar mais valor ao que as pessoas sentem do que ao que os números dizem.

Embora exista algo que se chama “sensação de segurança”, que não é o mesmo que segurança, há de facto um desfasamento entre a realidade e os números.

As pessoas deixaram de sentir-se apoiadas e protegidas, estão mais sensíveis devido a uma cultura mediática ligada aos crimes e a alguma normalização da xenofobia. Talvez seja por isso que os registos não reproduzem os factos, ou porque as pessoas não fazem queixa, com medo de eventuais represálias ou por sentirem que é um esforço e uma exposição inúteis.

É óbvio que, se há zonas da cidade em que há dejetos humanos na rua, corridas de carro em velocidade, tiros, vandalização de património, há algo que está a falhar. Fiscalização e responsabilização, para começar. E quanto mais deixamos avançar práticas que não são combatidas de forma determinada, mais essas práticas se reproduzem, com efeitos nefastos para a cidade.

A Câmara não tem poder de decisão sobre as forças de segurança, mas tem uma responsabilidade perante a população. Isso passa por resolver um problema de muitos anos, e que nem a mesma cor política nos destinos da Câmara e do país (fosse o PSD, fosse o PS) conseguiram resolver: a imediata construção de uma nova esquadra da PSP e o reforço dos seus efetivos na cidade.

As forças de segurança merecem condições dignas para exercer as suas funções conforme a cidade necessita. E a população merece uma presença de proximidade, que, com o envelhecimento, será cada vez mais sentida como uma necessidade. O policiamento de proximidade e uma intervenção rápida e assertiva podem melhorar de forma significativa o respeito no espaço público.

Temos de reforçar a proximidade entre autarquias e cidadãos, com uma mediação ativa em matéria de segurança e de proteção, a vários níveis. Haver uma figura no município, próxima da população, que possa registar as situações, “corrigir” os números oficiais e ser um apoio institucional. Uma Provedoria do Munícipe, em suma.

A Câmara deve também intervir em pontos críticos de vandalismo. Está estudado pela Psicologia e pela Antropologia que os espaços ao abandono são um estímulo ao vandalismo e ao aumento da insegurança. Os imóveis degradados, que promovem o vandalismo e a insegurança, devem ser penalizados, em sede de IMI e por todas as vias legais.

Mas, sejamos claros, a Câmara deve começar por cuidar bem dos espaços que gere. Dar o exemplo é essencial.

  1. Se for eleito, qual é a primeira medida que vai tomar

Colocar a resposta ambiental e de melhoria da qualidade do espaço urbano no centro da vida autárquica. Não é por acaso que definimos um plano a 100 dias para a ação climática, porque compreendemos a urgência da mudança local no panorama global.

Entre muitas outras medidas constantes do nosso programa, isto quer dizer:

  • a gratuitidade dos transportes públicos, para reduzir o tráfego automóvel, e que é uma medida perfeitamente suportável pelas finanças municipais;
  • a arborização geral da cidade, para aumento de zonas de sombra e redução de temperatura ambiente;
  • o reforço de vias de comunicação seguras entre as duas zonas da cidade, com piso e sinalização adequados;
  • a revitalização de espaços verdes, que permita reduzir os custos ambientais e económicos, com redução de consumos de água, de intervenções de manutenção, etc.;
  • a criação de uma frota de bicicletas de uso partilhado e parques seguros para velocípedes;
  • a adoção de taxas municipais bonificadas para a nova construção que integre espaços comuns de parqueamento de bicicletas.
  1. O que é prioritário mudar na cidade?

É prioritário melhorar a qualidade e a planificação do espaço urbano. Tendo um novo Plano Diretor Municipal em elaboração há dezenas de anos, o urbanismo está desqualificado. Em consequência disso, instalam-se bombas de gasolina no meio de zonas de habitação, corta-se uma ciclovia para dar acesso a um restaurante de hambúrgueres, permite-se que uma fabriqueta ilegal operere numa zona urbana meses a fio sem qualquer licenciamento, ignorando os apelos dos moradores. Isto tem de acabar!

É prioritário tornar a cidade mais atrativa. Atrativa porque gera mais empregos e os pequenos negócios são acarinhados. Porque é ambientalmente sustentável, com forte e cuidada arborização, zonas verdes, com espaço e segurança para as pessoas circularem e tráfego automóvel ordenado. Mais atrativa, porque mais inserida na região, com boas ligações cicláveis, ferroviárias e rodoviárias. Mais atrativa porque será mais valorizado o associativismo, acabando de vez com os cortes nos subsídios impostos a clubes e associações, ainda no tempo da maioria PSD.

É prioritário valorizar a ferrovia como marca identitária da cidade, eliminando confusões com a imagem do concelho. E, claro, tem de passar a haver uma aposta forte e continuada na cultura, valorizando os recursos locais, mas colocando também a cidade na rota dos eventos culturais de âmbito nacional.

Finalmente, é prioritário que os orgãos autárquicos saibam ouvir e estimular a participação nas decisões. E que oponham às soluções pseudorregionalizadoras cozinhadas entre PS e PSD, autarquias regionais eleitas por meios democráticos, que permitam ao nosso concelho e à nossa região terem uma voz forte junto do poder central.

  1. A Covid-19 foi (está a ser) bem combatida na cidade?

Em primeiro lugar, é preciso entender que a luta contra a Covid-19 é um esforço global, que depende de uma ação estabelecida para todo o território pelas autoridades nacionais de saúde.

Tendo em conta que o Entroncamento é uma cidade com muita movimentação de entrada e saída de pessoas, pela natureza dos empregos, da ferrovia, devo confessar que temi que a situação viesse a ser mais grave.

Os números sugerem que, apesar de lamentarmos todas as vítimas desta pandemia, a população soube manter-se em segurança e adotar comportamentos que limitaram os seus efeitos.

Julgamos que a Câmara cumpriu o seu papel de informar e apoiar nas situações de maior risco. Até prevenindo situações mais graves que, felizmente, não chegaram a ocorrer. No essencial, o combate à pandemia no nosso país parece-nos ter sido bem sucedido.

Fui privilegiado, contudo, por ter podido vacinar-me no Entroncamento. Ao contrário do resto da minha família, que teve de optar pela Golegã, ou a maioria da população do Entroncamento, que teve de deslocar-se a Torres Novas. Não deixa de ser uma situação a lamentar, não ter sido montado um centro de vacinação no Entroncament

  1. O recente aumento da procura da cidade para viver, faz crer que o Entroncamento continuará a ser uma cidade-dormitório?

Essa procura não é recente. O Entroncamento sempre foi procurado pela sua acessibilidade e pelas relativas boas condições de vida.

Talvez hoje seja mais notória essa procura por haver um decréscimo daquelas que eram as ocupações profissionais mais comuns no passado, nomeadamente ligadas às forças armadas e à ferrovia.

E não podemos ignorar a ligeira redução de habitantes revelada nos Censos 2021, mesmo que percentualmente inferior à média nacional. Um sinal que nós, como autarcas responsáveis, não podemos ignorar.

Só temos a ganhar em valorizar a acessibilidade do concelho, em melhorar a interligação a outras zonas e em captar mais população. Por exemplo, continuando a defender o alargamento do passe social, na ferrovia, entre Lisboa e o Entroncamento, a construção de uma moderna estação ferroviária, com uma interface requalificada, por forma a atenuar a separação entre as duas partes da cidade e a melhorar a oferta de transportes e parqueamento, numa ótica de mobilidade sustentável.

E, além de levar pessoas para trabalharem fora do concelho, a estação do Entroncamento pode também ser uma porta de entrada para o turismo sustentável, se tivermos a vontade e o engenho para criar uma ligação ciclável que aproxime a cidade do rio Tejo e do programado trilho panorâmico do Tejo, que vai ligar a Barquinha a Constância. O Entroncamento pode não ter condições naturais para atrair turismo, mas deve acolher mais pessoas, valorizando o transporte ferroviário, o museu nacional ferroviário e percursos turísticos de natureza, em ligação com os concelhos da região.

São medidas que reforçam o potencial de criação de empresas e de emprego. Como também a promoção do concelho como centro industrial, de serviços e de inovação nas tecnologias da ferrovia e dos transportes. Isto permite aproveitar todo o conhecimento acumulado em décadas de trabalho na ferrovia, bem como captar o interesse dos jovens em atividades de inovação nestas áreas.

A Câmara não vai, por si só, criar empresas e emprego, mas deve mostrar que há atividades em que nos podemos evidenciar. E deve apoiar as iniciativas ligadas à criatividade e à inovação, quer com centros de investigação e incubação de empresas, quer com programas que incentivem a formação em áreas de futuro que são deficitárias, como programação ou automação. Criar apetência por estas áreas, mostrando o seu potencial, pode ter um efeito multiplicador significativo na inovação e no emprego.

Por outro lado, a Câmara Municipal deve acarinhar as pequenas empresas, importantes no tecido económico local e na manutenção de empregos. O Bloco de Esquerda continuará a defender uma redução da derrama para essas empresas, mesmo que o PS continue, como até aqui, a tratar grandes e pequenos por igual, cobrando derrama a todos os que têm algum lucro.

Tudo isto não se faz de um dia para o outro, mas é preciso ter a visão e o engenho para projetar e implementar. Cada vez devemos ter o nosso desenvolvimento menos dependente de uma ou poucas atividades. A diversificação, em especial com respeito pelo meio ambiente e as condições naturais, é a melhor resposta às necessidades de progresso económico e social que ambicionamos.

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