PUB
Raul Pires raul.pires@entroncamentoonline.pt

O temor e a esperança marcam a atualidade. O mundo “pré-Covid” ruiu. Os isolamentos familiares e sociais imperam. Os contornos da convivência humana que nos caracterizava vão-se apagando e redefinem-se novas atitudes de desconfiança e comportamentos mais calculistas.

Se é verdade e compreensível que os primeiros meses da pandemia nos surpreenderam, já não é aceitável que, após quase um ano, sejamos confrontados com análises erradas, com opções políticas ineficazes e apostas ideológicas revogadas pelos países mais avançados.

PUB

A pandemia “Civid-19” requer uma abordagem holística; abrangente, global. Atempadamente, não se colocaram ao dispor dos profissionais de saúde todos os meios materiais e humanos, do domínio público, particular ou social. Resultado desta opção ideológica: descontrolo da “pandemia”; acentuadas crises “Covid”, “não-Covid” e económica. Passados estes meses, uma interrogação fica nos nossos espíritos: se a legislação decretada não tivesse tantas exceções e se tivessem sido coordenados e mesmo requisitados todos os meios, materiais e humanos, quer públicos, privados ou sociais, para combater a “pandemia”; estaríamos na presença de tantos óbitos? Teria sido causado tanto medo, desespero, angústia?

Mas, em contrapartida, seria absurdo ficarmos por estes sentimentos. É característica da natureza humana esperar. Apesar de um sofrimento, apesar de um temor, apesar de uma perda irreparável, temos sempre a capacidade de esperar. Existe sempre uma esperança em nós; recusamo-nos a aceitar como definitiva uma situação intolerável. Há alguns meses atrás, começámos a acreditar na vacina, que nos salvará. Mas, eis que depressa surgiram os profetas da desgraça: chefes de serviço, funcionários, que deveriam zelar pelo “bem” de todos, entendem vacinar quem muito bem entendem. Espertismo? Corrupção?

Na impossibilidade de vacinar, simultaneamente,” todas as pessoas, torna-se imperioso definir critérios de prioridades. Os critérios foram, legal e legitimamente definidos, logo, têm de ser cumpridos.  É inqualificável que funcionários, que têm por função essencial estarem ao serviço dos Fins do Estado, sejam eles próprios que violam o plano de vacinação. Porém, a questão não se fica pela viciação do plano. Em segundo lugar, os cargos de dirigentes da função pública, quer intermédios, quer superiores, ficam cobertos por uma nuvem de suspeição. Será que todas as fraudes vêm a público? Em terceiro lugar, o processo de vacinação, independentemente dos critérios de prioridades, diz respeito a todos, é universal, abrange todos e não este ou aquele. Qualquer ato que atente contra o processo de vacinação será sempre um ato desonesto e irresponsável, além de ir contra o sentimento de esperança que, legitimamente, todos compartilhamos.

A vacinação, de forma tímida e anárquica, vai avançando. Esperemos que, após a reformulação do plano de vacinação, consiga avançar mais justa e rapidamente, sob pena do sentimento de esperança se transformar em angústia; que se traduzirá numa apreensão quanto ao futuro.

Há que ter esperança. Pois, virá a Era ”pós-Covid”.

PUB