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Raul Pires raul.pires@entroncamentoonline.pt

Era manhã. O telefone tocou e atendi. Era o Centro de Saúde de Vimioso. Estava convocado para ser vacinado. Sentei-me no sofá, sacudi a cabeça e ri. A notícia da vacina tranquilizou-me. Afinal, era razoável que me deixasse arrebatar pelos sinais de esperança que aí vêm. A administração da vacina é um sinal de boa vontade, de confiança e de esperança para o futuro. É, em primeira mão, a vitória da ciência e da técnica. Só estas conseguem destruir um “vírus” que desrespeita as fronteiras terrestres e ideológicas, aniquila sentimentos hegemónicos e destrói qualquer organização económica e social.

Tal como me foi indicado, compareci, há hora e dia determinado, no Pavilhão Multiusos de Vimioso. Chovia copiosamente. À porta do edifício, abrigado da chuva, esperei pela minha vez, assim como os demais. Por muito que tentasse, não consegui evitar o estado de inquietude e desassossego que me invadia. Refleti, tentando encontrar a causa ou causas que me conduziram àquele estado.  Ao meu espírito surgem duas causas imediatas: insatisfação quanto ao estado presente e apreensão quento ao futuro. Só pode! De facto, vivemos há muito tempo sob a ameaça do “vírus” e esta angústia transporta consigo alguma apreensão.

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Esperei pouco tempo. Á porta do edifício, uma distinta funcionária, com voz doce e sonoridade agradável, nomeia o meu nome. Entrei e sentei-me numa cadeira, previamente indicada por outra simpática funcionária. Ainda inquieto pelo resultado da vacinação, desejoso de sair dessa situação de incerteza, já não receio o que pode acontecer; pressinto que ainda me sinto inquieto, mas não angustiado.

Uma terceira jovem funcionária indica-me um pequeno gabinete. Aí, sou vacinado. O enfermeiro, velho conhecido e amigo, foi tão grande a eficácia com que o fez que mal posso dizer que fui vacinado. Pouco ou nada senti. Primorosa organização, supervisionada pela atenta médica que, de vez em quando, vai lançando os olhares sobre os pacientes.

Se a perspectiva da vacina trazia consigo um aceno confuso de libertação, após a vacinação, já não receio a susceptibilidade dum resultado desagradável. Mesmo durante a meia hora de espera, após ter recebido a vacina, nada de desagradável senti e a ausência de sintomas indesejados, aumentou a expectativa de vitória em relação à expectativa dum perigo, ainda que vago e às vezes mesmo incognoscível.

A pandemia criou medo e enlutou muitas famílias. Provou que a saúde é um valor essencial, sem a qual não é possível trabalhar, divertir; fruir a vida. No mundo hodierno, a saúde é uma aposta e uma necessidade que vai muito para além das paixões futebolistas, políticas e religiosas. Pena é que muitos não compreendam isto e ponham os demais em risco só porque, egoisticamente, querem e vivem as suas paixões.

Os exemplos nefastos que, aqui ou ali, vão ocorrendo é uma falta de respeito por todos e, nomeadamente, pelos investigadores, especialistas, médicos, enfermeiros e demais pessoal que dão o melhor de si para bem de todos nós.

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