Conhecermo-nos bem implica conhecermos o próprio caráter. Quando pensamos em tal, referimo-nos ao substrato psicológico recebido pela hereditariedade. Temos em mente o que há de mais sólido, constante, permanente e determinante nas linhas gerais da própria conduta.
Nascemos com um determinado caráter; com potencialidades e virtualidades que nos forçarão seguir determinadas vias de evolução. Os tipos caraterológicos (sentimental, nervoso, fleumático, sanguíneo, apático e amorfo), sustentados pelos três fatores que os caracterizam (emotividade, atividade e secundariedade), e acrescentando os componentes complementares (largura do campo de consciência, inteligência, polaridade, ternura e avidez), dão-nos a conhecer o perfil caraterológico de determinado indivíduo.
O perfil caraterológico explica, em parte, o que o indivíduo é. Costumamos defini-lo através dum número variável de adjetivos. Dizemos que é apaixonado, sentimental, delicado, desembaraçado, prudente, tranquilo, rigoroso, irritante, otimista, etc. Podemos idealizar um sujeito com estes atributos. No entanto, na convivência do dia-a-dia, é difícil encontrar um sujeito prudente, desleixado, poupador, gastador, organizado, imprudente, etc.
As relações entre as várias maneiras de ser, reforçam-se ou anulam-se, dado que o modo geral de sentir, pensar e agir não se encontram em nós como uma amálgama de elementos independentes, antes se organizam segundo uma disposição hereditária, agrupados em estruturas fundamentais que é preciso conhecer e individualizar.
Possuímos, dentro dum certo grau, cada um dos adjetivos atrás referidos, mas só nos caraterizamos, certamente, por algum deles, os quais nos definem com maior rigor. O caráter pode e deve ser objeto de estudo. Conhecermo-nos a este nível, estaremos mais aptos a encarar as variadíssimas situações; as múltiplas armadilhas que a vida nos coloca.
Não será bom saber que os coléricos são os que gostam de dar nas vistas, os sentimentais gostam de cultivar a vida interior, enquanto que os amorfos manifestam pouco interesse pela vida interior (emoções, sentimentos, paixões…). Não será vantajoso saber que determinado indivíduo é sentimental porque quando é contrariado, é resmungão e mal-encarado? E aquele que pensamos que conhecemos bem, mas que é, propositadamente, cínico, trocista e irónico? Sabemos, então, que é sanguíneo.
O mundo humano constrói-se ou destrói-se a partir destes gostos ou desgostos. Os traços de caráter são elementos fundamentais que unem ou desunem pessoas. Aquele que possui um traço de caráter tipo apaixonado; que se sinta atraído por causas nobres e por empreendimentos difíceis, a ter de conviver com alguém que possua um traço tipo nervoso, isto é, que goste do estranho, do bizarro, do horrível e do macabro, como será?
Dá para imaginar a vida dum casal em que um deles gosta de estar sempre ocupado, enquanto que o outro privilegia o descanso e passa o tempo a sonhar ou a distrair-se?
Para bem de todos, creio que nas relações que estabelecemos entre nós, há que negociar as diferenças e os diferendos, de modo a chegarmos a possíveis entendimentos.