Entre os valores que enquadram a experiência fundamental da nossa existência humana, destaco quatro: saúde, economia (dinheiro), segurança e liberdade. No mundo hodierno, estas concepções gerais do “bem” são uma aposta e uma necessidade. Sem saúde não é fácil trabalhar. Se não se trabalhar não se produz. Se não há dinheiro não há divertimento e se não houver diversão não se fruirá a própria vida.
Não há dúvida de que a saúde merece uma atenção especial devido à crise que atravessamos e que a todos preocupa. Os investigadores, os cientistas e técnicos laboratoriais, trabalham, arduamente, na procura da “vacina” milagrosa. Médicos, enfermeiros e restantes técnicos esforçam-se e esgotam-se na prestação dos melhores cuidados médicos que possam prestar aos doentes. Os agentes e militares de segurança esforçam-se por cumprir e fazer cumprir as regras formais regulamentadas e decretadas pelos órgãos de soberania. Não há grandes dúvidas acerca desta azáfama. Mas, falta referir, ainda, uma componente essencial da equação: o público, em geral.
Estamos obrigados a cumprir as normas emanadas pela DGS e pelo Estado de Emergência. Não discuto a justiça ou injustiça das normas que pretendem orientar os comportamentos das pessoas. Antes disso, são estas que se devem obrigar a si próprias. As normas formais são coercivas e exteriores aos indivíduos. Quando não são “livremente” consentidas, são fonte de revolta e de frustração. Face à “pandemia” que a todos afecta, o comportamento de um afecta a vida de todos. Logo, as regras tidas por essenciais, devem ser acatadas, voluntariamente, por ser esse o dever de cada um de nós. Pensar em saúde e preservá-la é mais importante do que pensar em doença. Pensar em doença é reagir, mas manter a saúde é, antes, agir. Interessa, mais do que nunca, estarmos atentos e perceber o que pode condicionar a própria saúde (propagação do “vírus”) e encarar todas as situações em que o “vírus” nos possa atacar para que nos possamos defender.
Já conhecemos algumas técnicas que possamos usar para nos defendermos. Haverá outras, com certeza, mas já será bom cumprirmos (responsável e voluntariamente) as que já praticamos: distância física e social (Edward T Hall); uso correto da máscara; frequente lavagem das mãos; evitar ajuntamentos; isolamento social (Estado de emergência) …
Estamos no meio dum combate injusto e complexo. Num “Dojo”, local onde se combate, segundo as regras da arte que se desenvolve, aquele que não cumpre as regras, sofre na própria carne essa falta ou incúria. O adversário é visível, é um “outro”. No “Ringue pandémico”, o inimigo é invisível e pode atacar, inesperadamente, sem cumprir as regras. É traiçoeiro, o que implica que a atenção e cuidado tenham de ser redobrados.
Exigem-se comportamentos responsáveis e os que decretam as normas, mais obrigações têm de se comportarem conforme a situação que atravessamos. Não me parece “católico” decretarem o confinamento dos cidadãos e vê-los correr para Fátima rezarem pelas almas dos que já partiram. Segundo Auguste Comte (sociólogo francês, 1798), o início da humanidade foi dominado pelo espírito teológico. Depois seguiu-se o metafísico e termina no positivismo. Parece que algumas pessoas não conseguem ultrapassar o teológico… Mas, somos um Estado laico. Certo!?