PUB
Raul Pires raul.pires@entroncamentoonline.pt

Antes da pandemia que nos afecta, pensava eu que a política, o desporto e a religião eram as três paixões nucleares que nos dividem. Hoje, em plena pandemia, acrescento que a irresponsabilidade de alguns destrói o que conseguimos durante o “confinamento” a que fomos submetidos. Este vírus atormenta-nos, o que prova que tem muito de psicológico.

No entanto, falando-se muito do “COVID-19” e dos malefícios que nos pode causar a todos, as festas ilegais iniciaram-se com o “desconfinamento”; algumas praias, restaurantes, passeios ao ar livre e outros ajuntamentos, querem lá saber das normas de segurança. Isto sem referir manifestações ilegais que, independentemente da nobreza da causa que defendem, não deixam de ser ilegais. É evidente que todos somos afectados, mas há pessoas para quem a saúde pública deve ceder aos prazeres e caprichos individuais.

PUB

Está-se a entrar num perigoso desleixo, e a prova factual disso, é que o número dos infectados vai crescendo. Os que se queixam não podem ir além das lamúrias. É certo que há irresponsabilidades por parte daqueles que violam as regras sanitárias, mas a maior irresponsabilidade recai nas chefias políticas que assistiram à “festa” no Campo Pequeno, que vão a banhos e que são incapazes de parar manifestações ilegais.

Pelo voto, a excepção sobrepõe-se à regra. Por ele farão o que for possível. Dão o dito por não dito, mentem, irritam-se, se necessário. Os que ficam privados de dizer o último adeus aos seus, aqueles que recebem parabéns de aniversário à distância, esses não contam. Onde está o sentido disto? Qualquer decisor político está obrigado a privilegiar o pensamento em detrimento da própria sensibilidade. Os afectos fazem bem à saúde, engrandecem o “ego”, mas não pensam. Pensar é aplicar os justos princípios que, durante a vida, vamos interiorizando, a fim de os aplicar às “coisas”, às “situações”, para lhes extrair o sentido. A isto chama-se raciocínio.

Os dias que correm; perante tão diversificada informação, ficamos em bolandas para controlar tudo o que informam, sobretudo, para fugir às perversidades causadas pela incerteza. Diz-se que: ”faltam dados objectivos e sem eles não é possível decidir bem”.  Por vezes, há necessidade de corrigir dados. A tarefa é complicada. Diria melhor: a realidade é complexa e está sempre a surpreender-nos.

A época que atravessamos exige que quem decide ouça pessoas que não concordam com aquilo em que ele acredita. Num tempo em que tudo evolui constantemente, com avanços e recuos, é necessário que apareçam interpretações correctas das novas realidades. As ideias feitas, as ideologias fechadas, os mitos e os ritos são úteis ao espírito humano, mas só a ciência garantirá o futuro, tal como alguém referiu: “ Sem ciência não há futuro”.

Agora, dizem-nos quem não cumprir as regras do desconfinamento pagará uma determinada coima. Como se as asneiras cometidas no período do desconfinamento se resolvessem com coimas. A meu ver, trata-se de educação/formação mas não de euros. Mas, se está previsto na lei, é legal, logo há que cumprir, embora seja legal, não será legítimo, dado o que aconteceu anteriormente.

PUB